Escravo por (falta de) opção

 26/10/2011

A grande maioria dos problemas sociais brasileiros, desde a instauração da República, está ligada ao trabalho escravo. É, sem dúvida, a principal causa para o abismo entre ricos e pobres, alfabetizados e analfabetos, moradores de regiões centrais e periferia (ou, ainda, favelas). A prática de 300 anos importando mão de obra da África foi (e continua sendo) definitiva para o Brasil se criar enquanto nação e cultura. Fundamental, até, para a forma de como este povo pensa, trabalha e vê o mundo.

Por isso, faz-se necessária uma leitura cuidadosa do estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado ontem, sobre o perfil de toda a cadeia do que, ilegalmente, ainda perdura no país: o trabalho escravo. Os pesquisadores do organismo internacional debruçaram-se sobre o perfil tanto do trabalhador escravo, dos intermediários e dos contratantes para entender melhor como funciona este comportamento, ligado aos primórdios da consolidação das leis trabalhistas e da defesa de quem labuta, dia e noite, em busca de melhores condições para si e seus descendentes.

O relato da OIT impressiona. Primeiro, devido à dimensão do trabalho escravo no país. Está, ainda, em todas as regiões, embora haja locais com maior (e outros com menor) ênfase na prática. Como informa a Agência Brasil, rede de notícias do governo federal, de acordo com o levantamento, o trabalhador exposto à escravidão contemporânea é homem, negro, analfabeto funcional, tem idade média de 31,4 anos e renda declarada mensal de 1,3 salário mínimo. A grande maioria, 77%, nasceu no Nordeste.

"Invariavelmente a aparência [dos trabalhadores] nas diferentes fazendas era semelhante: roupas e calçados rotos, mãos calejadas, pele queimada de sol, dentes não cuidados, alguns aparentando idade bem superior à que tinham em decorrência do trabalho duro e extenuante do campo", descreve o relatório da OIT, ainda de acordo com a Agência Brasil.

Entre os dados mais expressivos está o de reincidência no trabalho escravo. Apesar de toda fiscalização, exercida em diversos âmbitos governamentais – em Piracicaba, por exemplo, é reconhecida a atuação do Cerest e dos técnicos da 15a Região do Ministério Público do Trabalho (MPT) -, há ainda um alto percentual de trabalhadores que, mesmo depois de serem retirados do local de trabalho, retornam à mesma condição meses depois. De acordo com a OIT, 59,7% das pessoas encontradas estão nesta condição.

Fica claro, a partir deste diagnóstico, que o Brasil ainda sofre com o seu mal da escravidão, por não proporcionar todas as condições necessárias para o escravizado sair desta condição, não só materialmente, mas também a partir do seu comportamento. Não consegue, assim, reverter a cultura da escravidão, essa que teima em permanecer no DNA do país.

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