Três senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano acompanharam nesta segunda-feira (17) em São Paulo as investigações sobre trabalho escravo no estado. A audiência foi na Assembleia Legislativa, na região central. Os senadores ouviram representantes da Polícia Federal, Direitos Humanos, Secretaria Estadual da Justiça e do Ministério do Trabalho.
"Esse fluxo migratório vem da Bolívia, do Paraguai. Em menor grau do Peru também já começa a aparecer", diz Renato Bignami, secretário de inspeção do Ministério do Trabalho.
Em São Paulo, o tráfico de pessoas está, quase sempre, ligado à exploração de trabalhadores estrangeiros no setor de confecção. Em julho passado, fiscais do Ministério do Trabalho resgataram 15 bolivianos que costuravam em oficinas clandestinas na capital. Eles produziam peças de roupas para a empresa espanhola Zara.
Os fiscais descobriram que um dos fornecedores da Zara havia contratado 33 oficinas e todas tinham algum tipo de irregularidade. Duas foram fechadas. Três bolivianos que trabalhavam nessas oficinas falaram nesta segunda aos senadores, em audiência fechada.
"O que nos interessa mais é buscar as pessoas que fazem a ponte para levar ou trazer estrangeiros para o Brasil, ou para levar brasileiros para o exterior, de tal forma que a gente possa ajudar no desbaratamento dessa quadrilha que tanto mal causa às pessoas", afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM).
O Ministério do Trabalho disse que foram emitidos 48 autos de infração contra a Zara. As multas podem chegar a R$ 1 milhão.
Zara
No mês passado, o presidente da Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzaléz, e o diretor de comunicação da marca, o espanhol Jesus Echeverria, falaram à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre a denúncia de uso de mão de obra escrava nas confecções da marca.
González afirmou que não sabia da existência de trabalho escravo em oficinas contratadas pela empresa e deixou claro que elas já existiam antes de a Zara iniciar sua operação no país. "Lamentamos que isso tenha ocorrido", acrescentou Jesus Echeverria.
A fabricante Zara disse que o que houve foi uma "terceirização não autorizada". O grupo Inditex, proprietário da marca, afirmou que revisa, em colaboração com o Ministério do Trabalho e Emprego, o sistema de produção de seus fornecedores no país para garantir que não haja exploração dos funcionários.