CPT diz que fazendeiros tentaram envenenar quilombolas

 16/12/2011

A Comissão Pastoral da Terra do Maranhão denunciou nesta quarta-feira, 14 de dezembro, tentativa de envenenamento da comunidade quilombola de Salgado, localizada na zona rural de Pirapemas (MA). Segundo a CPT, três dias após o fazendeiro Ivanilson Pontes de Araújo ter ameaçado integrantes da comunidade, um vasilhame de veneno foi encontrado dentro do poço de água que abastece os moradores. Não é o primeiro caso de violência em meio à disputa por terras na região. Os quilombolas, que vivem há décadas na região, afirmam que 18 animais já foram mortos envenenados e diz que estão sendo intimidados e ameaçados por insistirem em manter suas roças.

Ivanilson Pontes de Araújo e seu pai Moisés Sotero de Araújo contestam o direito de os quilombolas permanecerem e entraram na Justiça para tentar expulsar as famílias. Em outubro de 2010, os quilombolas obtiveram decisão favorável (processo número 3432010), mas os fazendeiros entraram com uma nova ação e obtiveram um mandado de reintegração de posse (processo número 3092011). Agora as famílias tentam encaminhar o caso para a Justiça Federal.

A Repórter Brasil tentou ouvir os dois fazendeiros, mas Maria de Araújo, esposa de Moisés e mãe de Ivanilson, afirmou que eles estavam no campo e não poderiam ser contatados. Questionada sobre as denúncias da CPT, ela negou o uso de veneno e insistiu que as famílias não têm direito de ficar na região. “Essa história não tem  sentido, se colocar no poço, o gado da gente morre também. E não tem nenhum quilombola. Os mais velhos já morreram, quem está lá são os filhos deles. Tem até quem já viveu em outras cidades e agora voltou para tentar conseguir a terra”, afirmou.

A CPT diz que os fazendeiros contrataram dois homens para intimidar a comunidade e rondar as áreas em que os quilombolas vivem. Maria confirma que há dois seguranças novos trabalhando para a família. “São dois rapazes que estão fazendo uma cercas de arame e vigiando para o pessoal não cortar. É o jeito de evitar que o gado vá para rua”. Questionada sobre a primeira decisão favorável aos quilombolas, ela diz que mesmo que a Justiça determine, seu esposo e filho permanecerão no local. E resume a situação da seguinte maneira. “Aqui não é terra de ninguém.”

Confira a íntegra da nota:

A Comissão Pastoral da Terra do Maranhão vem, por meio deste, comunicar mais atos de violência envolvendo a comunidade quilombola de Salgado, zona rural de Pirapemas (MA), num conflito que já se arrasta há 30 anos.

No último dia 3 de dezembro, cerca de 18 animais pertencente ao Sr. José da Cruz, líder da comunidade quilombola de Salgado, foram mortos, por meio de veneno, causando um grande prejuízo à família do mesmo, já que sobraram poucos animais para subsistência de seu núcleo familiar. Tal fato se deu em decorrência de violento conflito possessório envolvendo, de um lado, dezenas de famílias quilombolas e de outro os senhores Ivanilson Pontes de Araújo e seu pai Moisés, que criam animais soltos nas áreas de roça das famílias e impedem que as mesmas acessem as fontes de água e babaçuais.

Em outubro de 2010, o juízo da comarca de Cantanhede (MA) concedeu manutenção de posse em favor das famílias do quilombo, contudo, o réu Ivanilson insiste em desrespeitar a ordem judicial. No último domingo afirmou ao quilombola José Patrício, que se os mesmos continuassem a realizar roças, esses iriam pagar caro.

Na manhã de hoje, 14 de dezembro, por volta de seis horas, o Sr. José da Cruz, líder quilombola, encontrou, com outros trabalhadores, um vasilhame de veneno dentro do poço d’água utilizado pela comunidade. A intenção clara era de ou matar por envenenamento os trabalhadores quilombolas ou causar grandes males à saúde da comunidade. Este fato ocorreu dois dias após a ida do Delegado Agrário à área do conflito. Além disso, o sr. Ivanilson Pontes de Araújo contratou dois homens que ficam rondando a comunidade, de forma ostensiva, intimidando as famílias ameaçadas.

Ao longo do ano de 2011, as famílias quilombolas de Salgado sofreram vários tipos de humilhações, ameaças, intimidações e violência em seu território. Contudo, o Estado fez pouco caso da situação.

A cada dia, maiores são as violências contra a Comunidade Salgado/Pontes. Tememos o pior!

São Luís, 14 de dezembro de 2011.

Padre Inaldo Serejo

Coordenador da CPT/MARANHÃO

No Pará
Não é a única denúncia recente relativa a violência no campo. Nesta semana, os marcados para morrer do Pará escreveram uma carta às autoridades pedindo providências e os Ministério Público Federal no Pará solicitando proteção urgente a testemunhas ameaçadas por madeireiros. Leia mais no Blog do Sakamoto.

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