Ameaças de morte se intensificam e assentamento do Amazonas corre risco de ficar esvaziado

 10/02/2012

Criado há nove meses, uma semana após o assassinato de sua principal liderança – o líder camponês Adelino Ramos -, o Projeto de Assentamento Florestal Curuquetê, localizado na região do município de Lábrea, no sul do Amazonas, corre o risco de ficar abandonado e nas mãos de madeireiros ilegais.

O alerta vem do agricultor Marlon Teixeira de Oliveira, 39, que após várias ameaças de morte sofridas desde dezembro de 2011, decidiu fugir para Manaus.

Junto com José Miguel da Rocha, 48, outro agricultor morador de Curuquetê que também vem recebendo ameaças, Oliveira está em Manaus desde a semana passada.

Em entrevista ao portal acritica.com nesta sexta-feira (10), ele disse que já comunicou as ameaças de morte à polícia do município de Humaitá, também no sul do Amazonas, ao Ministério Público Federal, à Ouvidoria Agrária Nacional, à Polícia Federal e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em Manaus, Oliveira vem recebendo acompanhamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Segundo Oliveira, não é apenas a reserva de madeira do PAF Curuquetê que tem sido alvo dos madeireiros ilegais.

Ele conta que, desde a morte de Adelino Ramos, aumentou a extração de madeira do Parque Nacional Mapinguari, unidade de conservação gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), devido à falta de fiscalização dos órgãos ambientais.

O Parna Mapinguari foi criado em 2008 pelo governo federal e está localizado no interflúvio dos rios Purus e Madeira, nos municípios de Lábrea e Canutama, na divisa com Rondônia. A unidade de conservação possui um dos mais ricos ecossistemas da Amazônia

Revolta

Segundo o agricultor, a origem das ameaças vem de pessoas ligadas a Ozias Vicente, o principal suspeito de executar Adelino, e do irmão dele conhecido como Luiz Machado.

No mês passado, após ser solto por meio de um habeas corpus, Ozias Vicente foi assassinado, o que levou a justiça de Rondônia a arquivar o caso, medida que causou indignação e preocupação dos assentados. O processo ficou nas mãos da justiça daquele Estado porque Adelino Ramos foi assassinado em Vista Alegre de Abunã, município de Rondônia, na divisa com o Amazonas.

Para Marta Valéria Cunha, a facilidade de acesso que os madeireiros (também conhecido como toreros, por causa da prática de toras de madeira) possuem para entrar no no assentamento e na unidade de conservação mostra que o poder público continua ausente na região.

"Soubemos que estão tirando madeira tanto do assentamento quanto em Mapinguari. Então com facilidade. Está tudo sem fiscalização. O Estado deveria manter ali uma força tarefa permanece e não apenas realizar ações paliativas", diz Marta.

Para a agente da CPT, com o esvaziamento do assentamento, não há motivo para que o local continue existindo. "Vamos conversar com o Incra. Ou o governo assume aquilo, ou não faz sentido existir assentamento", analisou.

De acordo com balanço da CPT no Amazonas, há aproximadamente 49 lideranças camponesas no Estado ameaçados de morte.

Marlon Teixeira de Oliveira foi coordenador do Movimento Camponês Corumbiara (MCC) entre 2004 e 2009. Depois de um período afastado devido a ameaças de morte, ele retornou ao local em julho de 2011, após o assassinato de Adelino Ramos, atendendo a um pedido das famílias do PAF Curuquetê.

"Voltei ao assentamento e as ameaças retornaram. A situação ficou pior em dezembro, quando soltaram o Ozias. Soube que ele e o irmão andaram perguntando quem era a nova liderança de Curuquetê e que iam matar, como fizeram como Dinho (apelido de Adelino). Nessa época eles não me conheciam, mas voltando ao acampamento, fui avisado de que eu iria ser assassinado", contou Oliveira.

Oliveira contou que "vai dar um tempo" em Manaus, mas que pretende retornar ao acampamento para se fazer reuniões com os moradores. "A situação ficou ruim porque agora o local está sem liderança. Muitas famílias estão indo embora. Há apenas 15 famílias agora", conta.

Marlon Teixeira de Oliveira também se mostra revoltado com o arquivamento das investigações envolvendo a morte de Adelino Ramos. "O cara (Ozias) morre e arquivam o processo? O que eu penso é que a questão dos madeireiros é tipo um tráfico de drogas. Os mandantes sempre ficam de fora da punição. Quem manda matar nunca é punido", comentou.

O portal acritica.com procurou a assessoria de imprensa do ICBMBio, por email, e aguarda resposta às demandas enviadas sobre a informação acerda do Parna Mapinguari.

A matéria pode ser acessada no link: http://is.gd/qtbTEE

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM