Você é a favor do trabalho escravo? Cruzaria os braços se soubesse desse crime? Tenho certeza que não. Parece impensável que exista algo assim hoje, não é? Mas essa violência está acontecendo em nosso estado. E o Parlamento paulista ainda não fez nada para impedi-la. No fim de 2011, denúncias apontaram escravidão em confecções da grife Zara e de multinacionais instaladas em São Paulo. Sou médico e sei que uma infecção que se prolifera precisa ser contida rapidamente. E com o aumento desse crime é igual: tomar uma atitude é urgente. Por isso, pedi a criação da CPI do Trabalho Escravo na Assembleia Legislativa. 42 deputados apoiaram – o bastante para iniciar o inquérito. Porém, nada de investigação até agora. Seu início esbarra no Regimento Interno, que só aceita cinco comissões por vez.

Na fila de espera, há investigação sobre TV a cabo, telemarketing e até gordura trans. Nesse marasmo, eu e outros deputados cobramos mudança e alertamos: "O regimento não é mais importante que a vida humana". Mas nada é feito. Contra essa apatia, apresentei projeto que bane de São Paulo a empresa que usar escravos. Porém, as denúncias de escravidão prosseguem. E com elas, o imobilismo. Recentemente, revelações atingiram o McDonald´s. Mas nem isso fez diferença. É curioso que para aprovar projetos de interesse dos parlamentares a sonolência vira corre-corre. Relatório da produção legislativa da Assembleia, feito pelo Voto Consciente, indica que em 89% das leis votadas até o meio de 2011 foi usado o chamado "requerimento de urgência".

O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi em 27/1. Ainda dá tempo: a Assembleia deveria comemorá-lo usando essa mesma agilidade para instaurar a CPI. Se falhar, além de colocar em xeque sua capacidade de expressar os anseios da população, deixará que casos de escravidão continuem a ocorrer no estado. E, nesse ciclo de violência, quem se omite é igual a quem escraviza.

Carlos Bezerra Jr. é deputado estadual (PSDB-SP)

A matéria pode ser acessada no link: http://is.gd/fkASFq