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Caminhoneiros são os trabalhadores que mais morrem no Brasil

Em 2010 foram registrados 701.496 acidentes de trabalho, sendo 16.910 só no setor de transporte de cargas. Relatório divulgado nesta semana aponta que motorista do acidente 33 canavieiros dirigiu 14 horas seguidas

Em 2010 aconteceram quase 17 mil acidentes envolvendo caminhoneiros (Valter Campanato/ ABR)

Caminhoneiros são os trabalhadores que mais morrem no Brasil. De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Previdência Social, o setor de transporte rodoviário de cargas ocupa o primeiro lugar em número de acidentes de trabalho fatais. Das 2.712 mortes que ocorreram em 2010, 260 foram no setor. As informações referentes ao ano passado ainda não foram divulgados.

No sábado, 28 de abril, celebra-se o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes do Trabalho. A Organização Internacional do Trabalho aproveita a data para promover também o Dia Mundial da Segurança e Saúde do Trabalho. Nesta sexta-feira, dia 27, os ministérios do Trabalho e Emprego, Previdência Social e Saúde lançaram o Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho.

Em relação a acidentes que tem como conseqüência incapacidade permanente, ou seja, seqüelas que impedem a pessoa de voltar ao trabalho, o setor de transporte rodoviário de cargas está em segundo lugar com 412, do total de 14.097. O primeiro lugar fica para a construção de edifícios, com 454 acidentes que causam incapacidade permanente.

Acidentes no setor de
transporte rodoviário
2010
Mortes      260
Incapacidade
permanente
     412
Total de acidentes   16.910

Em 2010 foram registrados 701.496 acidentes de trabalho, sendo 16.910 só no setor de transporte de cargas. As atividades econômicas de serviços, que englobam o setor de saúde, somam 48 mil registros de acidentes. Contudo, os acidentes neste setor são menos graves do que os envolvendo caminhoneiros e trabalhadores da construção civil.

O acidente que matou 33 trabalhadores canavieiros da Central Energética Vicente e mais três motoristas sem registro da empresa Milton Turismo, em dezembro do ano passado, mostra bem o problema enfrentando pelos trabalhadores do setor de transporte. As Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego da Bahia (SRTE/BA) e de Pernambuco (SRTE/PE) finalizaram nesta semana o relatório sobre o acidente no início desta semana. Os auditores fiscais que investigaram o caso concluíram que o motorista do caminhão Márcio Clenio, que colidiu com o ônibus que transportava os trabalhadores, dirigiu por 14 horas seguidas, jornada que terminou com o acidente. Os motoristas do ônibus, em processo de revezamento, trabalharam por mais de 30 horas sem que houvesse real descanso.

Excesso de jornada de trabalho
De acordo com relatório da SRTE/BA este tipo de jornada que tem sido encontrada com grande freqüência no transporte de carga interestadual "principalmente quando envolve as regiões nordeste e sul-sudeste, como tem sido verificado em diversas fiscalizações do Grupo Especial de Fiscalização do Transporte de Carga, do Ministério do Trabalho e Emprego". O motorista do caminhão foi internado.

Para a fiscalização as causas do acidente estão relacionadas com excesso de jornada de trabalho e falta regulamentação para limite de jornada de trabalho de motoristas de transporte de carga, empregados ou não, e para intervalo mínimo interjornadas para condução de veículos. A falta de registro legal do vínculo de emprego geralmente contribui para que o motorista trabalhe de modo mais intenso e extenso para garantir seu sustento e dos seus familiares, apontam os auditores fiscais.

Rota percorrida pelo ônibus onde estavam os 33 canavieiros mortos no acidente em dezembro

A viúva de um dos motoristas de ônibus mortos no acidente, disse à Fiscalização do Trabalho que seu marido estava com problemas de saúde, mas que não podia se tratar, uma vez que dependiam daquela renda. O motorista não tinha Carteira de Trabalho assinada e não pode se afastar das atividades, pois não receberia o auxílio-doença do INSS.

Fiscalizações realizadas nas rodovias de Goiás, Mato Grosso e São Paulo pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) constataram jornadas exaustivas, não recebimento de horas extras, desrespeito ao descanso semanal remunerado, pagamento de comissões que incentivam os excessos e uso de medicamentos para inibir o sono.

Segundo Jacquelinne Carrijo, auditora fiscal da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Goiás (SRTE/GO), as longas jornadas de trabalho se destacaram entre as irregularidades verificadas. Ela aponta os contratos de trabalho como estimuladores de excessos: de jornada, de velocidade e de cargas. "Tudo isso para que haja a entrega do produto em prazos muito curtos. E como esses trabalhadores ganham por produção, quanto mais trabalharem, mais ganharão".

 

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15 Comentários

  1. IRW

    O Brasil deveria copiar da Alemanha todas as leis que se referem a caminhões a caminhoneiros. Lá as estradas se conservam porque os caminhões são adaptados para não transportar cargas além do peso permitido. Os caminhoneiros são controlados pelos tacógrafos e não se permite que eles excedam as horas de trabalho legais. Também são obrigados a descansarem em intervalos nas jornadas. Basta se fazer um comparativo de acidentes entre o Brasil e Alemanha para se verificar o acerto das medidas deles.

  2. Francisco de Morais

    OLÁ BOM DIA, PARABÉNS PELA MATÉRIA PUBLICADA SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO EM ESPECIAL DOS MOTORISTAS DE TRANSPORTES DE GARGAS E PASSAGEIROS.AQUI NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NÃO É DIFERENTE A FISCALIZAÇÃO CONSTANTE DAS JORNADAS DE TRABALHO PELO OS SINDICATOS É FUNDAMENTAL PARA EVITAR AS TRAGÉDIAS JÁ ANUNCIADAS,E GARANTIR NAS CONVENÇÕES COLETIVO DE TRABALHO ESTÁ SEGURANÇA. MUITO OBRIGADO

  3. antonio j t junior

    bom dia sobre a reportagem ate congordo com a jornada trabalho q e muit mais com o salaria q nosso governo oferece se nos nao virar uma noite atras de outra para ganhar um porco mais vou fala a verdade nos caminhoneiros passamos fome pois somos obrigada a rodar 15 ou ate 24 hrs sem dormir para ganhar um pouco mais sem dizer q somos uminhados nas estadas pois pessoas nao tenha nossao que nos caminhoneiros caregamos tudo q esta dentro de sua casa esperamos q alguem fasa algo por nois pois so temos DEUS PARA NOS GARDAR NESTAS ESTARDAS DA VIDA

  4. Júnior

    Olá a tds, trabalhei 16 anos nas estradas do sul ao norte do lesta ao oeste.Hoje sou gerente de uma empresa no pr.Se eu tivesse nas estradas eu acho que já estaria morto.Na minha opinião,cada posto policial deveria ter uma emfermeira ou um emfermeira, para medir a pressão, coração, diabete e colesterol,e colocar salário fixo a todos os profissionais do,com isso feito mudaria muita coisa no transporte BRASILEIRO ok. Abraço a tds.

  5. levi

    deveria ser aprovado um padrão de transporte rodoviário no brasil. os caminhões ,só poderiam rodar no máximo 12 horas, por dia,ou seja de entre 6 e 18hras. com isso,evitarias-se muitos problemas

  6. paulo jair paz de oliveira

    no meu tempo de estrada tinha cargas horarias nao sei se ainda existe e obriga o motorista a virar a noite para nao perder parte do frete isso tinha que acabar as comissoes tambem um bom salario para que abastece esse brasil de norte a sul seria o ideal

  7. frederico arend

    cade o ministério do trabalho que não fiscaliza este setor Tão importante no pais !

  8. aednancy

    Tenho marido, irmão e cunhados nesta profissão de motorista de caminhão e sei o quanto eles perdem horas de sono para entregar a carga a tempo… Só Deus para protege-los.

  9. Inaldo Carlos Beserra

    Os motoristas de caminhão são a categoria mais explorada no Brasil, aqui em Sorriso MT a transportadora Agrologs transportes,determina que os motorstas devem gastar no maximo 5 dias no trajeto entre sorriso e região ate o Parana região de Maringa Londrina Rolanda. pagam so 10 por cento de comissão para fazer este trajeto voltando vazio o que sobra para o Motorista e uma remoneração baixissima para quem tem que trabalhar 18 a 20 horas por dia para comprir as metas da empresa. que o governo tome uma decisão, por esta categoria que vem sendo super explora profissionalmente.

  10. José Aparecido do Nascimento

    Muitos País nem possuem a capacidade econômica do
    Brasil e tem outras modalidades de transporte,o rodoviário não é predominante,entretanto,o preço do frete do setor rodoviário é muito superior ao brasileiro, ou seja, o valor recebido pelo transportador, permite dar dignidade de trabalho para aquele servidor do setor, beneficiando a todos, empregado e empregador, não é preciso andar com excesso de peso e nem trabalhar dia e noite para sobreviver. Importante ressaltar que o transporte rodoviário de carga brasileiro é o meio de mais usado, sendo responsável pela distribuição das nossas riquezas aqui no Brasil e Países vizinhos. É um setor primordial para a ECONOMIA brasileira, porem o governo nem tá aí para o setor, e sabe por que? é porque não reclamamos do GOVERNO PARA FAZER A PARTE DELE, SOMOS UNS PRÁ NADA, AS PARALIZAÇÕES AINDA É POUCO. Enfrentamos muitas dificuldades como preço do frete baixo, estradas esburacadas, trabalhamos dia e noite sem segurança e mesmo com caminhões sucateados temos comprido nossa missão. O meu lema é UNIDOS VENCEREMOS E AJUDAMOS O BRASIL. José Aparecido do Nascimento. Sindicato dos Caminhoneiros do Estado do Tocantins. [email protected]

  11. José Aparecido do Nascimento

    Pois é meus irmão, precisamos nos organizarmos,unir e dar as mãos entre todos aqueles que representa o setor do TRC, necessitamos muito da nossa Bancada Federal, criada recentemente. Vamos dialogar e mostrar ao governo o quanto somos importante para o desenvolvimento da Economia do nosso País. A nossa missão é destribuir as riquezas brasileiras e temos feito isso com muita propriedade, ainda que arriscamos nossas vidas. Trabalhamos com caminhões sucateados e enfrentamos estradas esburacadas,sem acostamento, alguns policiais intimidando e extorquindo nossos irmão caminhoneiros, roubo de carga, ladrões assassinos,etc. Transportar é uma profissão de muito risco e exige bastante habilidade, portanto precisamos praticar fretes a preço justo e permitir dignidade a todos do setor. Finaliso dizendo, UNIDOS VENCEREMOS E AJUDAMOS NOSSO BRASIL. José Aparecido do Nascimento, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Estado do Tocantins, [email protected]

  12. José Aparecido do Nascimento

    E por falar em policiais corruptos, recebemos constantemente denúncias de vários irmãos caminhoneiros afirmando ser vitimas de atuações criminosas de alguns policiais rodoviários do Estado do Pará, segundo os denunciantes, na abordagem, ainda que o veículo e condutor esteja com a documentação legal e perfeita não é o bastante para ser liberado pelo policial, é necessário pagar para seguir viagem. Pedimos ajuda de todos. Denunciamos a nossa Bancada Federal. José Aparecido do Nascimento, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Estado do Tocantins.

  13. José Aparecido do Nascimento

    O governo precisa urgentemente regular o preço dos caminhões brasileiros, são muito caro. É preço pra ninguém por defeito, parece que estão fabricando ouro, entretanto o frete é baixo, aliás muito baixo. Entendo que o caminhão é uma peça importante para o transportador, mas para o transporte rodoviário de carga é necessário muito mais coisa, a execução do transporte rodoviário de carga exige muito trabalho. É uma operação de alto risco e responsabilidade. Somos responsáveis pela distribuição das riquezas do nosso Brasil, mas somos injustiçados. José Aparecido do Nascimento, Presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Estado do Tocantins. [email protected]

  14. Eduardo - Jornal da Record

    Gente,

    Estou a procura de caminhoneiros ou ex-caminhoneiros para contribuir com uma série especial de reportagens do Jornal da record a respeito desse problema, descrito na matéria. Como o Junior, que comentou acima, dizendo que se ainda estivesse na boléia já teria morrido. Como consigo o contato dele? Ou de outros? Entrem em contato pelo e-mail [email protected] ou 011 33004384. Abraço. Eduardo Ribeiro, reporter do Jornal da Record.

  15. Leandro Cobalt

    Boa materia. Além de todos os perigos ainda tem os assaltos. Roubos de cargas e dos caminhoes com sequestro e mortes dos caminhoneiros e seus ajudantes. Onde vamos parar com isso?

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