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Escravos libertados bebiam água em embalagens de lubrificante

Após denúncia de trabalho escravo, fiscalização localizou trabalhadores dormindo em barracos e consumindo água guardada em recipientes de material altamente tóxico. Dez foram resgatados

Mesmo com pista de pouso e mais de 42 mil hectares, a fazenda Campinas, que pertence a Annibal Zacharias, não tinha sequer alojamentos ou instalações sanitárias para seus funcionários, de acordo com informações do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Polícia Federal. Em ação conjunta iniciada em 27 de março para averiguar denúncia de trabalho escravo, as autoridades constataram condições bastante irregulares e libertaram dez pessoas na propriedade, localizada no município de Miranda, na região do Pantanal sul-mato-grossense. A reportagem tentou contato com o fazendeiro para ouvi-lo sobre o resgate e sobre as condições a que seus empregados eram submetidos, mas não conseguiu localizá-lo.

Empregados reaproveitavam recipientes de lubrificante para guardar água. Fotos: Divulgação/MPT

Segundo Rafael Salgado, procurador do Trabalho, os dez trabalhadores libertados na fazenda dormiam em barracos de lona, aplicavam agrotóxico sem nenhum equipamento de proteção individual (EPI), e consumiam água guardada em recipientes de óleo mineral lubrificante. De acordo com a Norma Regulamentadora nº 15, a manipulação de óleos minerais é considerada atividade insalubre de grau máximo.

Havia água, mas apenas na sede da fazenda Campinas. Para tomar banho, os trabalhadores recorriam a um açude próximo. Localizada a cerca de 260 quilômetros de Corumbá (MS), a propriedade estava sendo preparada para servir como pasto para gado.

Barraco em que grupo submetido a condições degradantes utilizava como alojamento improvisado. 

Veneno e chiqueiros
Além de fazer a fiscalização na fazenda Campinas, o grupo também esteve na fazenda de gado Laranjeiras, em Bonito (MS). No local, foram constatadas diversas irregularidades, que determinaram a interdição das frentes de trabalho e alojamentos. "A situação era possível de ser sanada", disse o procurador do Trabalho. A propriedade pertence a Antonio Carlos D´Ângelo. O fazendeiro também foi procurado pela reportagem, mas não foi localizado. 

Nas duas fazendas os empregados  trabalhavam sem registro em carteira. Apesar da interdição, não houve libertação na Laranjeiras, onde trabalhavam 27 pessoas que também aplicavam veneno na pastagem sem nenhuma proteção, entre os quais um adolescente de 17 anos. Havia, ainda, 18 trabalhadores indígenas das Aldeias Passarinho e Cachoeirinha, localizadas na região de Miranda (MS). O adolescente teve seu contrato de trabalho rescindido e foi afastado das atividades na fazenda. Apesar da gravidade da situação, as autoridades não constataram condições análogas às de escravos no local. 

Trabalhadores dormiam em barracão onde o veneno era armazenado.

Os trabalhadores não só aplicavam agrotóxicos sem proteção como dormiam em um barracão onde o veneno era armazenado. Um dos banheiros ficava ao lado do chiqueiro dos porcos. As frentes e alojamentos foram interditados e na audiência de assinatura do TAC o proprietário já levou fotos para mostrar que obras para regularizar a situação já tinham sido iniciadas.

Os dois empregadores Annibal e Antônio foram autuados e  assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a regularizar a situação e pagaram, respectivamente, R$ 2 mil e R$ 1 mil por dano moral individual aos trabalhadores.


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10 Comentários

  1. Edivelton Tadeu Mendes

    Gostaria de saber do Ministério do Trabalho, da Polícia Federal e Ministério Público, até quando iremos ver este tipo de exploração do humano por bandidos?Desejo resposta!

  2. Lucinda

    Este tipo de reportagem não mais me surpreende, o que mais me espanta é presenciar a mansidão do homem com a insanidade do poder e não se importarem de viver como ratos.

  3. Augusto

    O Ministério do Trabalho que também diz que é do Emprego, foi saqueado por sindicalistas e politicos corruptos, com ajuda de funcionários de carreira deste mesmo ministério, apadrinhados ou aparentado dos mesmos. Portanto não esperem muito deste orgão público, que deixou de fazer sua obrigação a muito tempo.

  4. Almanakut Brasil

    Prioridade em um país governado por um Partido de Trabalhadores é defender cerveja nos estádios e cachaça no exterior!

  5. Elise

    Só um ser humano muito desgraçado mesmo para patrocinar uma indignidade dessa. As relações de trabalho nesse setor estão se degradando a cada dia mais. A fiscalização é importante e deve ser reforçada.

  6. Wilson

    Desde quando é proibido o uso de barril de petróleo (aquele de 200 litros) para armazenar água? Um cantil de 1 litro, desde que limpo, pode servir para isso.
    Não se esquecer que os trabalhadores estão no campo pioneiro e que não existe instalações de gás água luz e esgoto abertamente.
    Essa reportagem esta muito apelativa.

  7. Wilson

    """ Dez foram resgatados""" ou perderam o emprego??

  8. Anna

    Sr. Wilson, nínguém quer proíbi-lo de armazenar sua própria água, para seu próprio consumo, em barris de petróleo ou seja lá o que for. Desde que após vossa contaminação e intoxicação, o sr não venha se tratar com meu dinheiro através do SUS. Resta portanto, uma pergunta: Sabe qual é a diferença entre uma fossa e uma cisterna?…

  9. Marcelo

    Wilson.. como vc é desprovido de inteligencia… se o impregador quer que aconteça qualquer tipo de trabalho lá nas áreas mais remotas ELE deve providenciar as condições mínimas para que isso aconteça.. ou seja deve povidenciar agua potavel com recipientes adequados banheiros alojamento,comida pois meio existem trabalho com isso e é muito facil.. uma dica põe sua mãe trabalhar la bebendo água com lubrificante estúpido.

  10. Alair

    As relações de trabalho se deterioraram no Brasil em razão da omissão dos governantes brasileiros. O Ministério do trabalho que tem a obrigação constitucional de implementar a legislação e fiscalizar seu cumprimento, simplesmente foi desarticulado, desconstruído, desmontado e desprestigiado politicamente pelos donos do poder, nos últimos 22 anos. Este é o reflexo da incompetência e da irresponsabilidade na gestão pública. A situação ficou tão grave que o Ministério Público Federal, Procuradoria da República no distrito federal, abriu uma Ação Civil Pública, cobrando do governo sua responsabilidade, em razão da inoperância deste órgão público, nem suas multas conseguem mais ser cobradas. É uma Vergonha.

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