Caso Gregory

Após flagrante de escravidão, Gregory é questionada pelo Facebook

Compradores da grife pressionam empresa pela rede social e cobram providências em relação aos problemas constatados pela fiscalização em oficinas que produziam peças da marca
Por Bianca Pyl
 24/05/2012
Vestidos de renda da Gregory eram produzidos em oficinas precárias. Fotos: Bianca Pyl

Na mesma semana em que o flagrante de trabalho escravo em oficinas que produziam peças da grife Gregory foi noticiado, dezenas de consumidores da marca escreveram mensagens cobrando esclarecimentos e providências da empresa por meio do Facebook. Frente à pressão, a Gregory chegou a publicar em sua página na rede social uma nota insistindo não ter responsabilidade pelas condições de degradação humana as quais os costureiros foram submetidos e insistiu que as peças eram compradas de fornecedores. Consumidores, no entanto, escreveram comentários defendendo que a empresa deveria ter cuidado em fiscalizar as linhas de produção das peças que vende e reclamaram. Muitos se disseram "chocados" ao ver as imagens e saber das condições em que as peças eram produzidas.

O Ministério do Trabalho e Emprego flagrou trabalho em condições análogas às de escravos em quatro oficinas que costuravam para a marca. A Repórter Brasil acompanhou todas as fiscalizações. Ao todo 23 pessoas foram libertadas pelos fiscais. Elas estavam submetidas a condições degradantes de trabalho, servidão por dívida, cerceamento de liberdade, entre outras violações aos Direitos Humanos e à legislação trabalhista. O Ministério do Trabalho e Emprego lavrou 25 autos de infração contra a Gregory por conta das irregularidades constatadas nas diligências. A internauta Ande Maria, considerou o caso "inveja da oposição", contudo a maioria dos comentários cobra a empresa sobre o ocorrido. 

A consumidora Leni Segovia pediu esclarecimentos. "Adoro a Gregory, mas gostaria ver os documentos de esclarecimento da situação". Alê Parda também cobrou provas da empresa. "Vão à imprensa e apresentem provas. Vocês não fiscalizam, controlam seus fornecedores, instalações? Deveriam". Já Chico Aranha questionou o fato de a empresa não ter aceitado assinar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público do Trabalho. "Porque não assinaram então o Termo de Ajuste de Conduta proposto pelo Ministério Público?".

A responsabilidade em relação aos contratados foi ressaltada por Lelia Martin. "Que pena Gregory! Quando contratamos terceiros, também somos responsáveis por esses atos, por isso que tem que fiscalizar". Cristine Prestes disse que "assim como na Zara, não pisa mais na Gregory". A mesma consumidora disse ainda que "a Gregory pode apresentar seus esclarecimentos, mas não pode ir contra os fatos: alguns de seus fornecedores empregavam mão de obra sem qualquer direito trabalhista e inclusive impedindo as pessoas de sair dos locais de trabalho, que, aliás, são lamentáveis. As fotos estão na internet, basta dar uma olhada. Isso é condição análoga à de escravidão".

Alojamento dos trabalhadores era feito com tapumes. Alguns dormiam no colchão colocado no corredor

Outro lado
A marca postou nota em resposta aos internautas dizendo que a informação que a empresa utiliza trabalho escravo não é verdadeira "a fiscalização sempre soube disso – e a Gregory, que não produz nenhuma peça de roupa, está apresentando suas defesas nas esferas competentes. Alguns de nossos fornecedores utilizaram mão-de-obra em situação precária na produção de nossas peças, através do repasse indevido e não autorizado de nossos pedidos. A Gregory não compactua com essa postura, paga preços de mercado pelas mercadorias que revende e está aprimorando seus critérios de seleção e auditoria de fornecedores, numa tentativa de evitar que esses fatos se repitam".

Além da pressão pelas redes sociais, a empresa enfrentou também cobranças em sua sede, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O Sindicato dos Comerciários realizou na quinta-feira (24) uma manifestação em frente a empresa para protestar contra o uso de mão-de-obra escrava pela rede de lojas.

Leia reportagens completas sobre o caso:

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