Entre os flagrantes que resultaram na inclusão de 116 novos nomes na "lista suja" do trabalho escravo, ocorrida na semana passada, há quadros de vítimas exploradas por mais de 30 anos, casos graves de trabalho infantil (em lavouras, carvoarias e pedreiras, por exemplo) e situações de ataques à bala e exploração desumana de pessoas em terra pública destinada à reforma agrária "grilada" por particular.
A fiscalização única campeã em inclusões foi a que se deu em um conjunto de olarias no município de Gouvelândia (GO). Somente por conta dessa inspeção, entraram para o cadastro nove empregadores, responsáveis pela manutenção de 51 pessoas em condições análogas à escravidão. São eles: Manoel Diniz, Edson Malaquias da Silva, Idércio Lemes do Prado, Marcos de Moura Henrique, Joaquim Gonçalves Rodrigues, Sebastião Ribeiro do Prado, Sílvio da Silva, Marcos Roberto Pereira da Silva e Márcio Adriano Pereira da Silva. Outros quatro empregadores também foram envolvidos durante a inspeção trabalhista, mas ainda não ingressaram no cadastro mantido desde novembro de 2003, que tem amparo em portaria conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Secretaria Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR).
Alojamento de trabalhadores libertados de olarias em Gouvelândia (GO) |
Alguns dos libertados confirmaram à fiscalização que nasceram e passaram mais de 30 anos enfrentando um quadro de servidão por dívidas, condições degradantes e outras precariedades na atividade de produção de tijolos. Em outro resgate, envolvendo os fazendeiros Abimael Jesus Moreira e Abner Jesus Moreira, um trabalhador estava sendo escravizado por longos 14 anos, em Mineiros (GO). Ambas as ações foram coordenadas pela Superintendência de Trabalho e Emprego de Goiás (SRTE/GO).
Os empregadores escravizaram um trabalhador por 14 anos. Ao todo eles eram responsáveis por três empregados. A fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Goiás (SRTE/GO), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Federal (PF) aconteceu entre maio e junho de 2010.
No interior de São Paulo, o estado mais rico do país, Edson da Silva Rossi explorava sete crianças e adolescentes – com idades entre 7 e 15 anos – e 13 adultos em condições análogas à escravidão em uma plantação de tomate, em outubro de 2011. As crianças encontradas na Fazenda Palmeira Ltda. não recebiam pagamento algum e ajudavam os pais com vistas a aumentar a quantidade colhida da produção. As crianças declararam que gostariam de estudar, mas que, por causa da jornada que tinham que cumprir, e frequência na escola não era permitida pelo empregador. O mesmo Edson já havia sido implicado em infrações similares em 2009 e 2010.
No caso do empregador Francisco César Cavalcante, além do trabalho infantil (e da exploração desumana de 69 pessoas) em 11 carvoarias, houve relatos de tiros direcionados ao trabalhador que teve coragem de cobrar o empregador.
O flagrante ocorrido em pedreiras pertencentes a políticos locais de Nortelândia (MT)também envolveu trabalho infantil e culminou na inclusão dos nomes de José Pedro de Lima (Pavimentadora São José) e Silvino Santana Araujo na "lista suja". Já Geraldo Aires de Souza Nunes, implicado na libertação de três pessoas da extração de ouro na Fazenda Recanto, em Novo Mundo (MT), atuava de forma ilegal, pois, segundo o Ministério Público Federal (MPF), a área em questão fora "grilada", tratando-se de terra pública destinada ao programa federal de reforma agrária.
Confira a relação com outras matérias relativas às fiscalizações que resultaram na inclusão de empregadores na recente atualização da " lista suja":
– Adriano Carlos Piasseski
– Agropastoril Gaboardi Ltda
– Antônio Alves da Silva
– Antônio Vieira Fortaleza
– Bruce Barbosa Guerra
– Ecomax Agroflorestal e Pecuária Ltda (atual: Becchi Ind. e Com. de Móveis Ltda
– Fidelcino Andrade
– Ilmar Santos da Silva
– Inácio Pereira Neves
– Indústria e Comércio de Erva Mate Tiecher Ltda
– Juciel Dias Correa
– Laci Dagmar Zoller Ribeiro
– Laurélio Rogemar Kochenborger
– Marcelo Krohling
– Parra & Cia Ltda
– Paulo Davit Baldo
– Sebastião Gardingo
– Volnei Modesto Diniz
– W.S.A. Madeireira Ltda
– Yong Gul Kim
Notícias relacionadas:
– Um a cada quatro ingressantes da "lista suja" é do Mato Grosso
– MRV e empregadores ligados à política entram para a "lista suja"