A Repórter Brasil está sob censura judicial desde o dia 9 de outubro de 2015. Saiba mais.

Chefe da fiscalização do Trabalho reclama de “cabresto político” e pede exoneração

Vera Lúcia Albuquerque diz que "há uma tentativa de defender o empregador a qualquer preço" e reclama de interferência em questões técnicas do Ministério do Trabalho e Emprego

A auditora fiscal Vera Lúcia Albuquerque pediu exoneração, na manhã desta quinta (11), da chefia da Secretaria Nacional de Inspeção (SIT) do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego – cargo que ocupava há um ano e dez meses. O órgão é responsável por verificar o cumprimento da legislação trabalhista em todo o país e tem, entre outras atribuições, a responsabilidade por fiscalizar denúncias de escravidão contemporânea, de trabalho infantil e de fraudes no FGTS.

Vera Lúcia Albuquerque, ex-secretária de inspeção do trabalho, durante o lançamento do Manual de Combate ao Trabalho Escravo, no começo deste ano. (Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil)

Vera desempenhou um papel importante na articulação política pela aprovação da proposta de emenda constitucional que prevê o confisco de terras em que trabalho escravo for encontrado. A PEC 438/2001 passou em segundo turno na Câmara dos Deputados, em maio deste ano, e retornou ao Senado sob o número 57A/1999.

“Estou indignada com o profundo desrespeito à inspeção do trabalho”, afirmou em entrevista ao Blog do Sakamoto. Vera reclama do risco de mudança na política do Ministério do Trabalho e Emprego. “Há uma tentativa de defender o empregador a qualquer preço. O ministério tem que estar a serviço da sociedade e não apenas de empregadores ou de interesses pessoais e partidários”, afirma. “Estão tentando colocar um cabresto político na inspeção do trabalho.”

“Procurar o ministro para tentar mostrar a ele os problemas não adianta, porque ele nunca aparece”, reclama. Ela também alerta para o risco de partidarização da fiscalização do trabalho. Uma disputa estaria ocorrendo entre o ministro Brizola Neto e o ex-ministro Carlos Lupi pelo controle do PDT.

Motivações políticas
Vera afirma que há uma tentativa de enfraquecimento da inspeção do trabalho no país. E que isso passa pela fragilização da estrutura e por trazer pessoas por motivações políticas para cargos que exigiriam conhecimento técnico. Por exemplo, ela teme que o seu cargo seja ocupado não por um auditor fiscal de carreira, mas por alguém que não tenha conhecimento sobre o assunto. Questiona qual seria o real interesse de colocar pessoas que não dominam a legislação, normas e instruções para essas funções.

Em uma carta enviada a auditores fiscais de todo o Brasil, ela cita o artigo sexto da Convenção número 81 da Organização Internacional do Trabalho, que diz respeito à inspeção do trabalho, que deve ser independente de “qualquer mudança de governo ou de qualquer influência externa indevida”. Para ela, a gota d’água para a decisão foi a nomeação de uma pessoa para a Chefia da Fiscalização do Trabalho na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio de Janeiro sem que houvesse consulta à SIT, como era de praxe em gestões dos outros ministros. Esta não teria sido a única vez que a Secretaria foi ignorada na gestão de pessoal. Solicitou-se à cúpula do ministério que a decisão fosse revista, mas não teria havido resposta.

“Não admito que a inspeção do trabalho seja desrespeitada como está acontecendo nessa gestão e o meu gesto é uma demonstração disso”, afirma Vera. Ela ficará no cargo até que a exoneração seja publicada pelo Diário Oficial e retornará às suas funções de auditora fiscal do trabalho no Rio de Janeiro.

As Secretaria Geral da Presidência da República e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com as quais a SIT possui um trabalho estreito por conta dos programas de combate ao trabalho escravo e de promoção do emprego decente na construção civil e no setor sucroalcooleiro, também estão sendo informadas da exoneração.

A Secretaria de Inspeção do Trabalho também é responsável por gerir o cadastro de empregadores flagrados com mão de obra escrava, a conhecida “lista suja”. O instrumento é considerado um dos principais no combate à escravidão, sendo usado pelo setor empresarial para gerenciamento de riscos de suas cadeias produtivas. Por isso, a SIT tem sofrido ataques por parte de empregadores insatisfeitos com bloqueios comerciais e de financiamento e de seus representantes políticos desde a criação do cadastro em 2003. Recentemente, houve pressões fortes pressões por conta da inclusão de nomes famosos pela “lista suja”, como a MRV Engenharia, uma das principais executoras do programa “Minha Casa, Minha Vida”. A empresa se encontra excluída da lista por decisão liminar.

Outro lado
O ministro Brizola Neto não foi localizado nesta manhã para comentar o pedido de saída e as afirmações pela demissionária secretária nacional.

Sua equipe foi informada pela reportagem sobre a decisão e, em seu gabinete, a notícia provocou surpresa. “Só podemos comentar em cima de fatos e não fomos informados oficialmente ainda”, afirmou Fernando Imediato, que faz parte da equipe do ministro e afirmou que encaminharia a questão. A reportagem enviou uma série de perguntas a Brizola Neto, solicitando que o retorno fosse o mais breve possível.

Colaborou Daniel Santini


Apoie a Repórter Brasil

saiba como

10 Comentários

  1. Claudio secchin

    Caro Skamoto…O que Vera comentou tem sentido. Infelizmente agora termos que contornar as forcas contrárias internas também para continuarmos nosso trabalho..Abs Secchin

  2. Marcos

    O MTE foi desconstruído. Contudo, muitos dos que agora reclamam, contribuíram, ou, no mínimo, foram omissos em várias intervenções políticas, que resultaram no desmantelamento deste ministério. Apenas para ilustrar, podemos citar a extinção da SST e a desmobilização dos técnicos em Segurança e Medicina do trabalho ( Médicos, Engenheiros, Agentes de Higiene e Segurança do Trabalho, este último cargo, extinto sem explicação plausível), entre tantos outros descalabros, cometidos por funcionários de carreira, ligados a partidos políticos. Agora, ao que parece, é um pouco tarde para chorar o leite derramado. Morre 7 trabalhadores por dia em acidentes do trabalho no Brasil. Melancólico.

  3. EDUARDO FRANÇA

    Perseguição a Trabalhador Lesionado (LER/DORT) e Dirigente Sindical.

    Isso vem ocorrendo desde 2006 quando colocou chapa de oposição na eleição do SINTTEL-BA, onde impugnaram todos sem nenhum critério, totalmente desesperados, pois são sindicato análogos e cartoriais, não tendo nenhuma preocupação com a politica sindical para a categoria de operadores de TLMK.

    O Eduardo é detentor de dupla estabilidade provisória, pois é portador de doença ocupacional LER/DORT e dirigente sindical, e em primeira decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região Processo: 0000220/71/2011/5/05/026, em 2011 foi expedido mandado de reintegração, pois é funcionário desde 2001.

  4. Edivelton Tadeu Mendes

    E porque o Ministério Público, não se faz presente no caso?

  5. JAYNI PAULA CRUZ RODRIGUES DE FARIAS

    Vera Lucia Albuquerque – alguém que não abre mão de seus princípios e valores éticos/morais. São atitudes como esta que nos faz crer que outro mundo, melhor de se viver, ainda é possível de se realizar.

  6. Waldevandis

    O Partido dos Trabalhadores,qual trabalhadores? Não podemos deixar que pessoas como a Vera Albuquerque que luta pelos princípios étnicos e morais saia e entre outro qualquer porque faz parte de um "PARTIDO" aliado ou próprio.Não podemos ficar omissos.Quando teremos nossos Direitos preservados?Waldevandis(EngºCivil/Seg.do Trabalho0

  7. MÁRIO SÉRGIO BELTRÃO PAMPLONA

    Atualmente, somos menos de 3.000 Auditores, número menor que em 2003, por exemplo. Enquanto isso, o mercado formal e informal continua a crescer desde então.Ocorrem, em média, duas aposentadorias por dia. Em termos de Relação de Trabalho, o Estado Brasileiro precisa ser intervencionista, para assegurar os direitos dos trabalhadores. Não temos notícia de concurso público a curto prazo. Não acredito que essa seja uma estratégia para otimizar o capital e precarizar o trabalho. As entidades sindicais não parecem muito preocupadas com a questão, o que não deve ter relação com o fortalecimento da Secretaria de Relações de Trabalho, conforme noticiado pela Secretária. Direitos Humanos:onde?

  8. Francisco Batista da Costa

    O Ministério do Trabalho e Emprego é um órgão político, assim como o Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e os Sindicatos. Nada vai mudar. Afinal, defender "os dereito dos trabaiadô" dá a maior grana para esse pessoal.

  9. Sandes Eduardo Vieira Teixeira

    Devagarinho esta ficando do jeito que a cacalhada quer, os bons saindo desistindo vendo que nao tem como andar contra um sistema que nao quer ser mudado. Ai eles fazem isso forcam a desistir para o caminho ficar livre pra eles.

  10. francisco Antonio da Silva

    Tenho o curso de Técnico em segurança no trabalho desde 2000.
    Pensei que o curso era uma oportunidade e foi uma decpção ou você entra no esquema ou você é descartado do mercado.
    Exemplo: a OAS ganhou a concorrência para construção do aeroporto de cumbica Guarulhos já teve um acidente fatal e outro que deixou o trabalhador fora do mercado de trabalho fora os acidentes que aconteciam todos os dias,o programa em segurança no trabalho é do 1° mundo mais na prática não existe.
    São engenheiros,encarregados,mestres de obras etc tudos alá caceta.
    O ministério do trabalho não tem muito o que fezer,tem muitos profissionais competentes,mais as forças ocultas não deixam os profissionais trabalharem.
    No Brazil é a lei do Gerson ex jogador da seleção brazileira “levar vantagem em tudo”.Não adianta o técnico elaborar paletras fazer ppra,pcmso,pcmt,A.P.R e outras forma de prevenção que só fucionam na teoria.Banalisaram a profissão de Técnico em segurança no trabalho,tem até diploma pela internet.
    Como dizia o nosso poeta Cazuza,”tranformam o país inteiro em um puteiro assim se ganha mais dinheiro”.
    OBS: O ministério do trabalho está ministrando palestras com a colaboração do Sindicato Sinduscon alertando sobre os acidentes de trabalho no brazil e a repercução dos acidentes e as providências que o ministério do trabalho está tomando.O tema é “Analise de acidente do trabalho grave e fatais”
    MTESP SST agendar com Suzy.
    Acreditar sempre sonhar sempre.
    O homem que não sonha é um barco sem leme em auto mar.

    Att.
    Francisco
    face ( francisco besouro )