Empresas com pior desempenho no primeiro pregão da Bolsa de Valores de SP em 2013. Reprodução/Bovespa |
As ações da MRV terminaram o dia com desvalorização de 2.75% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nesta quarta-feira (2), no primeiro pregão após a reinserção da empresa na “lista suja” do trabalho escravo. A construtora chegou a ter queda de 4,17% de manhã, e teve o pior desempenho registrado, destoando das demais empresas. A bolsa fechou em alta de 2,67% no primeiro dia útil do ano.
A MRV foi reinserida no cadastro oficial de empregadores flagrados explorando trabalho escravo na atualização semestral divulgada na última sexta-feira (28). Mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), a relação é considerada um dos principais instrumentos de combate à escravidão contemporânea e serve de base para sanções econômicas.
Bancos públicos não concedem empréstimos para empresas flagradas explorando escravos e, por conta da reinserção, a empresa perde acesso a novos financiamentos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. A Caixa, em nota, informou nesta quarta-feira que “já adotou as mesmas providências adotadas em relação à ocorrência anterior, ou seja, suspendeu a recepção e contratação de novas propostas de financiamento de produção de empreendimentos com a referida empresa”. O banco esclarece que “os empreendimentos já contratados terão seu curso normal, tanto no que diz respeito à liberação das parcelas, quanto ao financiamento para os adquirentes das unidades habitacionais”.
Também em nota divulgada após a reinserção, a assessoria de imprensa do Banco do Brasil disse que a instituição “cumpre rigorosamente o estabelecido na portaria interministerial n° 2, de 12/05/2011“, e lembra que o banco está entre os signatários do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Trata-se do acordo comercial pelo qual as empresas participantes se comprometem a cortar relações com empresas que façam parte da “lista suja”.
Flagrante foi na obra do Edifício Cosmopolitan, em Curitiba Fotos: Divulgação/MTE
A MRV foi reincluída no cadastro pela segunda vez agora devido a um flagrante de escravidão na construção do Edifício Cosmopolitan, em Curitiba (PR), onde 11 trabalhadores foram resgatados em 2011. A primeira vez que a construtora entrou na relação foi na atualização de julho de 2012, quando foram considerados flagrantes de escravidão nas obras dos condomínios Parque Borghesi, em Bauru (SP), e Residencial Beach Park, em Americana (SP), ambos também de 2011.
Desde a divulgação da atualização do cadastro, a Repórter Brasil vem tentando ouvir os representantes da empresa por meio de sua assessoria de imprensa, sem sucesso. Aos acionistas, tentando conter a queda na bolsa, a direção enviou comunicado responsabilizando uma empresa terceirizada pela situação em que foram encontrados trabalhadores da obra em questão. No texto, a empresa “informa ao mercado que, tomou conhecimento da inclusão de uma de suas filiais no Cadastro de Empregadores” e que “a inclusão decorre de fiscalização conduzida em 2011, em que foram identificadas supostas irregularidades promovidas por empresa terceirizada que prestava servicos para a MRV, a qual não trabalha mais para a Companhia desde 2011”.
A empresa, que após a primeira inclusão conseguiu na Justiça impedir que seu nome permanecesse na “lista suja” por meio de uma liminar, anunciou ainda “que está tomando todas as medidas e ações cabíveis para promover a exclusão de seu nome do referido Cadastro e prestar os devidos esclarecimentos necessários junto aos órgãos competentes e ao mercado em geral”.
Colaborou Verena Glass