Mato Grosso

Organizações repudiam nomeação de “lista suja” para o governo

Janete Riva, nova secretária estadual de Cultura, integra desde julho relação do MTE de empregadores que exploram trabalho escravo
Por Repórter Brasil
Janete Riva, secretária de Cultura do Mato Grosso. Foto: Divulgação/Governo-MT
Janete Riva, secretária de Cultura do Mato Grosso. Foto: Divulgação/Governo-MT

O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT/MT) divulgou uma nota de repúdio à nomeação de Janete Riva como secretária estadual de Cultura. Seu nome consta, desde julho do ano passado, da chamada “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, que relaciona empregadores flagrados explorando trabalho escravo em todo o Brasil.

O FDHT/MT, que reúne diversas organizações do estado ou com atuação local, lembra que Janete foi incluída na compilação após sete trabalhadores em condições análogas à escravidão terem sido encontrados em sua fazenda localizada no município de Juara (MT), em 2010 As entidades reivindicam ao governador Silval Barbosa (PMDB) sua “imediata exoneração”.

“Não podemos admitir e aceitar que o Estado de Mato Grosso, reconhecido nacionalmente e internacionalmente pela luta contra o trabalho escravo, tenha como secretária alguém que já foi flagrada praticando o crime da prática de trabalho escravo. Isso é no mínimo um contrassenso, senão uma afronta aos que lutam para erradicar essa chaga”, diz a nota. No entanto, Barbosa descartou a possibilidade de demitir Janete Riva. “Não há nada pertinente a esse assunto tramitando e julgado que comprove práticas de trabalho escravo”, declarou em nota à imprensa o secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf.

Para o FDHT/MT, a nomeação de Riva “vem questionar as verdadeiras intenções do governo do Estado em relação ao combate ao trabalho escravo e, simultaneamente, desvalorizar as ações e vitórias até aqui conseguidas com muito esforço de todas as entidades que lutam pela erradicação do trabalho escravo”.

A seguir, a íntegra da nota do FDHT/MT:

“NOTA DE REPÚDIO

O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso – FDHT/MT vem por meio desta denunciar a nomeação de Janete Riva como secretária de Estado de Cultura, publicada no Diário Oficial, dia 15 de janeiro do corrente ano, e reivindicar ao governador Silval Barbosa (PMDB) a  imediata exoneração da mesma.O nome de Janete Riva foi incluído em julho de 2012 na conhecida ‘Lista Suja do Trabalho Escravo’. Nesta lista, de acordo com a última atualização de 31/12/2012,consta o nome de outros 408 empregadores já flagrados mantendo, no Brasil, essa prática retrógrada escravagista, sendo 61 só em Mato Grosso, fato que coloca o Estado entre os campeões.

Esta lista é mantida por portaria conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), sendo que para a inclusão dos nomes existe processo administrativo com contraditório e ampla defesa.

O motivo da inclusão do nome de Janete Riva à lista é pelo crime efetuado em 2010, na fazenda Paineiras, localizada no município de Juara, onde foram encontrados sete  trabalhadores escravizados.

Convém notar que o Estado brasileiro e o Estado de Mato Grosso efetivaram leis e ações para banir absolutamente esta antiga vergonha nacional:

Lei Estadual nº 8.600/2006, que“dispõe sobre a vedação à formalização de contratos e convênios com órgãos e entidades da administração pública do Estado de Mato Grosso e o cancelamento de concessões de serviço público a empresas que, direta ou indiretamente, utilizem mão-de-obra em situação análoga à de escravos na produção de bens e de serviços, e dá outras providências”;

Lei Federal nº. 6.454/77, com nova redação da Lei nº. 12.781/13 que veda “atribuir nome de pessoa viva ou que tenha se notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava, em qualquer modalidade, a bem público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da administração indireta.”.

Assim, não podemos admitir e aceitar que o Estado de Mato Grosso reconhecido nacionalmente e internacionalmente na luta contra o trabalho escravo tenha como secretária alguém que já foi flagrada praticando o crime da prática de trabalho escravo, isso é no mínimo um contra senso, senão uma afronta aos que lutam para erradicar essa chaga.

Diante disso o Estado está moralmente impossibilitado de manter tal nomeação pelas suas posições, reconhecidas nacionalmente, no combate ao trabalho escravo. Esta nomeação vem a questionar as verdadeiras intenções do governo do Estado em relação ao combate ao trabalho escravo e, simultaneamente, a desvalorizar as ações e vitórias até aqui conseguidas com muito esforço de todas as entidades que lutam pela erradicação do trabalho escravo.

Se não mudarmos as práticas, de forma convicta e sem segundas intenções, não mudaremos o mundo, transformando-o em lugar de respeito aos Direitos Humanos e bem viver entre todos e todas.

Abaixo-assinado por:
Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso – FDHT/MT
Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP
Associação Brasileira de Saúde Popular – ABRASP/BIO SAÚDE
Associação de Defesa dos Direitos do Cidadão – ADDC
Associação de Defesa dos Direitos Trabalho e Desenvolvimento das Mulheres de Mato Grosso – ADDTD-Mulheres
Associação de Mulheres Construindo Cidadania – AMCC/Mulher
Associação de Mulheres Rurais Nova Galiléia – Amrung – Colider/MT
Associação Matogrossense Divina Providência – AMDP
Associação Matogrossense dos Auditores-fiscais do Trabalho- AMAFIT
Central Única dos Trabalhadores do Estado de Mato Grosso – CUT/MT
Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI- Setor 1
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI-MT
Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade – CDHHT
Centro de Direitos Humanos João Bosco Burnier de Várzea Grande
Centro de Pastoral para Migrantes
Coletivo Jovem do Meio Ambiente de Mato Grosso – CJ-MT
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MT
Comunidades Eclesiais de Base – Cebs- RO2
Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB/MT
Conselho Indigenista Missionário – CIMI/MT
Coordenação Estadual de Comunidades Quilombolas de MT
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia
Federação de Assistência Social e Educacional -FASE
Fórum de Lutas de Cáceres – FLEC
Fórum Matogrossense de Meio ambiente e Desenvolvimento – FORMAD
Grupo de Estudo Educação Merleau-Ponty – GEMPO
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação – GPMSE
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA/UFMT
Grupo de Trabalho Mobilização Social – GTMS
Grupo Raízes
Instituto Humana Raça Fêmina – INHURAFE
Instituto Caracol -IC
Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia – MAMA
Movimento de Combate à Corrupção – MCCE/MT
Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST/MT
Movimento Organizado pela Cidadania e Moralidade Pública – MORAL
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental- REMTEA
Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso Sindjor-MT
Sociedade Fé e Vida”

 

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