Tocantins

Mulheres camponesas ocupam fazenda de Kátia Abreu no Tocantins

Ação em um canteiro de mudas de eucalipto de uma propriedade da senadora no município de Aliança teve o objetivo de denunciar os efeitos do agronegócio sobre as trabalhadoras rurais
Por Igor Ojeda
 07/03/2013
Fotos: Comunicação/MST
Fotos: Comunicação/MST

Cerca de quinhentas mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam na manhã desta quinta-feira (7) um canteiro de mudas de eucalipto de uma fazenda de propriedade da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) em Aliança, Tocantins, localizada às margens da rodovia Belém-Brasília. Na ação organizada pela Via Campesina, as camponesas também interditaram completamente a estrada. O protesto começou por volta das 5 horas e foi encerrado em torno das 8h30.

O ato faz parte da jornada de luta referente ao Dia Internacional da Mulher – que será comemorado nesta sexta-feira (8) -, cujo lema é “Mulheres Sem Terra na Luta contra o Capital e pela Soberania dos Povos!”. “Nossa ação teve o objetivo de denunciar o avanço do agronegócio no Tocantins, especialmente da soja e do eucalipto, e a disparidade de investimento público nos grandes empreendimentos em detrimento da agricultura familiar”, disse à Repórter Brasil Tereza Fernandes, da coordenação estadual do MST. “As mulheres são as principais afetadas, pois elas enfrentam no dia a dia a violência dos grandes projetos. Quando são desagregadas de suas raízes, sofrem muito mais. São as que costumam cultivar em torno da casa, manter a tradição das sementes. Além disso, as empresas que chegam nos pequenos povoados trazem muitos homens, o que acaba incentivando a prostituição. As mulheres são também afetadas diretamente pelo agrotóxico, especialmente as que estão grávidas. E, para completar, algumas mulheres estão sendo absorvidas por essas empresas e ganham menos que os homens.”

kátia abreu mst aliançaSegundo Tereza, a intenção do protesto era dialogar com a sociedade. Por isso,  enquanto a rodovia estava trancada, foram distribuídos panfletos explicativos sobre os danos causados pelo agronegócio em Tocantins. “A receptividade dos motoristas foi muito boa. Muitos apoiavam a mobilização”, relata. De acordo com nota divulgada pelo MST, o governo estadual planeja aplicar, para o período 2012-2015, cerca de R$ 1,5 bilhão no Programa de Infraestrutura Hídrica para Irrigação e Usos Múltiplos, projeto que pretende implantar grandes empreendimentos hidro-agrícolas. Já o investimento na agricultura familiar – que, segundo a organização, produz  91% do feijão de corda, 84% da mandioca, 62% do leite e derivados, 62% do feijão, 59% dos suínos, 50% do milho, 48%das aves e 38% do arroz do estado – será de aproximadamente R$ 154 milhões.

Ainda segundo o comunicado do movimento, a fazenda de Kátia Abreu foi embargada por duas vezes, em 2011 e 2012, por desmatamento em área considerada de preservação permanente. “A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Por isso estamos realizando esse ato político e simbólico em sua propriedade”, afirmou na nota a dirigente do MST de Tocantins Mariana Silva.
Campos Lindos
Em outro município de Tocantins, Campos Lindos, a senadora, líder dos ruralistas no Congresso Nacional, é acusada de ter adquirido terras irregularmente no fim dos anos 1990. A ilegalidade teve início em 1997, quando o então governador Siqueira Campos – que também é o atual governador – emitiu um decreto declarando de “utilidade pública” uma área de 105 mil hectares. Três anos depois, lotes de 1,2 mil hectares foram oferecidos a R$ 8 o hectare para um grupo de grandes proprietários rurais, entre eles Kátia Abreu e seu irmão Luiz Alfredo Abreu. Às custas de um processo de expulsão de posseiros, foi implantado, então, o Projeto Agrícola Campos Lindos, que alçou o município ao primeiro posto do estado em exportação de soja e em níveis de pobreza.
No último dia 5 de fevereiro, em audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal de Tocantins, representantes dos posseiros e organizações sociais denunciaram os impactos do projeto na região.
Para saber mais sobre a situação dos posseiros em Campos Lindos, assista a este vídeo.

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