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Vale tudo? Brasil estuda comprar armas de empresa russa que abastece ditadura síria

Armamento na mira do Ministério da Defesa é o mesmo utilizado pelas tropas do ditador da Síria, Bashar Assad, em conflito que já deixou mais de 70 mil vítimas

Estande da estatal russa Rosoboronexport  na edição 2013 da LAAD, feira de armamentos realizada no Brasil. Fotos: Rosoboronexport/Divulgação

Estande da estatal russa Rosoboronexport na edição 2013 da LAAD, feira de armamentos realizada no Brasil. Fotos: Rosoboronexport/Divulgação

Rosoboronexport: agência estatal responsável por toda exportação de armas russas, incluindo diversas vendas recentes para o ditador da Síria, Bashar Assad, algoz-mor de um conflito que já cobrou mais de 70 mil vítimas.

Brasil: país sul-americano, ‘potência emergente’ que tem obrigação constitucional de reger-se pela “prevalência dos direitos humanos” nas suas relações internacionais. Conta com relevante população de origem síria, entre tantas outras que perfazem nosso caldeirão multiétnico.
Dilma Rousseff: primeira presidenta da República, sentiu na pele o poder destrutivo de um regime repressor. Declamou, em abril de 2011, que “a defesa dos direitos humanos, desde sempre e mais ainda agora está no centro da preocupação de nossa política externa. Vamos promovê-la em todas as instâncias internacionais, sem concessão…”.
Qual a relação entre as partes? Deveria ser nenhuma, por óbvio. Ou melhor, algo como “a Presidente Dilma determinou que o Brasil não fará qualquer negócio com a Rosoboronexport”, não?
Pois bem, após decisão da presidenta e assinatura de documento de intenções em fevereiro, nas próximas semanas pode ser confirmada a compra pelo Brasil de sistemas de defesa aérea da Rosoboronexport. Seria um grave equívoco.
Arma exibida na LAAD

Arma russa exibida na LAAD

Realpolitik
Ingenuidade nossa, viva o realpolitik, nas questões de Defesa vale tudo? De maneira alguma. Não se trata de invalidar a decisão de fortalecer o sistema de defesa aérea, necessidade no mínimo plausível considerando aspectos estratégicos e militares, incluindo os grandes eventos esportivos que o Brasil acolherá.

Mas por que fortalecer financeiramente e politicamente o único governo que tem a chave da solução política do conflito sírio nas mãos, e não só se recusa a pressionar Assad pela sua saída, como fornece os instrumentos que potencializam sua fúria homicida?
E mais, como referendar uma política de exportação de armas que dentro em breve será considerada ilegal à luz do direito internacional? Assim que entrar em vigor (após 50 ratificações) o Tratado do Comércio de Armas (Arms Trade Treaty, em inglês),  proibirá vendas para países que violem o direito internacional humanitário, como faz o regime sírio. Vendas aos rebeldes, que crescentemente cometem atrocidades, também serão vedadas.
Foi supostamente com o exato equipamento que o Brasil quer comprar (Pantsir-S1) que o regime sírio derrubou aeronave da força aérea da Turquia em junho de 2012. Um mês depois, o Congresso dos EUA passou legislação que proibiu o governo norte-americano de qualquer relação comercial com a “firma que vem armando o repressivo regime sírio”. Isso sim é realpolitik.
Pantsir-1, tanque que o Brasil

Pantsir-1, armamento que o Brasil pretende comprar da Rússia, em destaque no estande da Odebrecht, na feira de armamentos LAAD, no Rio de Janeiro.

Boicote mundial
Este mês, o Secretário de Estado John Kerry, protestou mais uma vez contra as continuadas vendas à Assad. Hillary Clinton já o havia feito antes, com maior veemência.  Excelente seria se os EUA demonstrassem a mesma precaução ao pensar em exportar para outros regimes repressivos.
Atos meramente simbólicos? Talvez, e sozinhos não resolveriam o impasse. Mas se todos os países com certo poder, como o Brasil, tomassem todas as medidas pragmáticas possíveis, quem sabe o apoio russo ao regime de Assad não implodiria? Se a Rosoboronexport calcular que perde mais dinheiro do que ganha por armar a Síria, certamente reconsideraria suas exportações.
Exibição de armas na feira.

Compra de armas russas tem custo político

Outras alternativas seriam o Brasil advogar publicamente pelo envio do caso ao Tribunal Penal Internacional e impor sanções individuais a membros da cúpula do regime sírio. “Todas as instâncias internacionais” incluem só foros onde diplomatas podem gastar sua retórica sem tentar ações reais?

Mesmo que a transferência de tecnologia russa faça o Ministério da Defesa salivar, a compra só tem custo-benefício aceitável se ignorar no cálculo o custo político às pretensões de liderança internacional do Brasil. Sabemos, com a novela da compra dos caças para a FAB, que decisões políticas podem perfeitamente se sobrepor aos aspectos militares e econômicos na compra de armas. No largo espectro entre a retórica do “condenamos veementemente” e de uma intervenção militar para derrubar Assad, há muitas medidas possíveis para paulatinamente lograr mudanças na Síria. Em nome dos direitos humanos daquele povo, a presidenta Dilma não deveria se omitir de tentar as medidas políticas e comerciais ao seu dispor.

Ou o melhor é ficar olhando, falando, e não fazendo nada?
* Daniel Mack é coordenador internacional do Instituto Sou da Paz

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11 Comentários

  1. Daniel Mota da Silva

    A ditadura Síria ! Luta com garra e vigor contra , a sórdida trama dos democratas estadunidense e aliados , quer dar armas para os rebeldes terrorista os mesmo que eles condena no ocidente. E estão a serviço do E.U. para destabilizar os que não e do agrado da grande democracia Americana e Europeia . (Quer EX ?)

  2. FABIANO DE OLIVEIRA

    É MUITO SIMPLES DIZER QUE BOICOTE AO ARMAMENTO RUSSO QUE ESTÁ SENDO USADO NA SIRIA,PELO SIMPLES FATO DE ESTE SER O CAUSADOR DO MASSACRE,MAS O MODELO PODE SER EUROPEU,CHINES,OU AMERICANO,ESSE É UM PROBLEMA POLITICO E NÃO DE ORIGEM DE FORNECDOR,
    NÃO PODEMOS DEIXAR DE COMPRAR ALGO PORQUE ESTÁ SENDO USADO DE MÁ FÉ POR UM DITADOR,NÃO PODEMOS BANCAR A NAÇÃO PAZ E AMOR , AS CUSTAS DA NOSSA OPÇÃO DE COMPRA DE UM ARMAMENTO DE PONTA E ALTA TECNOLOGIA PARA EQUIPAR NOSSAS FORMAS ARMADAS JÁ TÃO OBSOLETA,NESSE MUNDO VOCE SÓ TEM DUAS OPÇÕES VERDADEIRAS EM QUESTÃO DE ARMAMENTO OU RUSSO OU AMERICANO,ESCOLHAMOS POIS O A ARMENTO RUSSO PARA DEFESA DE NOSSA SOBERANIA E COM TRANFERENCIA DE TECNOLOGIA ,PROPOSTA ESSA QUE O AMERICANO NÃO FAZ NEM PARA SEUS ALIADOS DA OTAN OU JAPÃO,USEMOS O ARMENTO RUSSO SIM QUANTO A SIRIA O QUE É VERDADE OU O QUE É MENTIRA,REVOULUCIONARIOS OU TERRORISTAS AO PODER CONSTITUIDO MESMO QUE SEJA AO DITADOR,PELO ASSAD,MANTIA O EQUILIBRIO REGIONAL COM ISRAEL ETC..,
    sE UM FANÁTICO RELIOSO TOMAR O PODER,QUE ADIANTA TOMAR O PODER?VOCÊ TIRA UM INTERESSE E SUBSTITUI POR OUTRO INTERESSE ,NÃO DEVEMOS DEIXAR DE NOS DEFENDERMOS POR CAUSA DA ORIGEM DO ARMAMENTO,ISSO É CRIME DE LESA A PATRIA.BANCAR OS RIPS PAZ E AMOR.

  3. Vitor

    Lendo esse artigo eu tive a impressão de estar assistindo a Globo…tratar uma empresa de armas como vilão do conflito sírio? então todas as empresas de armas são mercenárias…afinal quantas vezes armamento americano foi usado para matar?INCONTÁVEIS VEZES!

  4. Jose

    Parabens Brasil, enfim está acordando.

  5. duboc

    verdade ou compramos armamentos dos americanos ou russos!sou mais a parceria dos russos não são imperialistas

  6. Otto

    Não tem nada haver comprar armas da Russia. Ela é uma nação amiga e como tal vende armas. O bonitinho que todos pensam, os EUA é o lider em massacre. Alguém viu a história, ele convenceu os aliados que deveria usar a bomba atômica, alegando que ia perder 500 mil soldados na guerra convencional contra o Japão. Matou mais inocentes que todos outros paises do mundo. O Brasil precisa de armas urgente e as melhores são russa. O que é preciso é conter a ditadura siria e livrar o povo da opressão. A guerra civil está matando muita gente no Congo e outros paises africanos. Porém, você ve alguma preocupação com os civis de lá? Não. Pois é, lá não tem petróleo e pouca riqueza, por isso, que si exploda né! A Arabia Saudita é um pais pacífico. Porque? Tem muito petroleo, porém , não é dela. É dos EUA. Se ela fizesse como fêz o Chaves, iam ser terrorista também.

  7. duboc

    acorda brasil vamos modernizar nossa força armada que esta defasada para proteger nossa nação.Eu afirmo devemos ter a parceria com os russos que quer transferir tecnologia e ser um grande parceiro no mercado com o brasil. sou de acordo que eles tem armamento de qualidade e com preço bom para compra.
    ‘E o que impede isso são nossos governantes, quem mais!

  8. Luciano

    A grande pergunta a se fazer. A quem serve essa publicação??

    Aos grande fornecedores ocidentais, que nos vendem oq há de pior por preços lacivos. Nesse ramo não existe mocinhos nem bandidos. Se não comprar da Russia vai comprar a quem aos EUA, Alemanha que vende para a Arabia Saudita e Egito, e a varios países do norte da África?

    Esse tipo de publicação tendenciosa é um desserviço, a qualquer nação. Princiopalmente a sua de origem, isso não é ingenuidade não, pelo contrário é expertasse o nos leva a pensar quem pagou esse matéria??? Por que publicidade para os grande fábricantes do Ocidente de graça é que ninguém faz.

  9. Guilherme

    Que matéria tendenciosa …

    Incrível que hoje em dia, praticamente TODAS as matérias exibidas nos mais diversos meios de comunicação, não representem um jornalismo sério, imparcial, com intuito de buscar a verdade, e o bem comum… alias… isto é piada né…

    Só percebemos matérias compradas na grande mídia, DEUS salve a internet, porque certamente é, o único meio até então não controlado, onde a verdade a liberdade imperam sobre interesses privados…

    Mesmo a internet quer ser controlado, me desanima isto, se fosse plenamente alienado e vivesse de pão de circo, alias… pão nem é necessário, só circo é suficiente… enfim… pra não mudar de assunto…

    Os EUA em toda a sua história, provocaram mais mortes do que qualquer outro pais, invadiram centenas deles (sim, são centenas), então seguindo a mesma linha de raciocínio, e tendo em vista que muitas destas invasões não foram autorizadas pela ONU, ou seja foram unilaterais, posso afirmar sem menor dúvida de que, não deveríamos de forma alguma comprar material bélico americano, me pergunto o porque da reportagem então não mencionar isto?

    Simples… interesses políticos.

    Isso que nem entrei no mérito da espionagem americana (comercial, militar, tática e finalmente… anti-terrorista)

    Não podemos misturar as coisas… a parte técnica e a politica não devem andar de mãos dadas…

    • Repórter Brasil

      Guilherme, agradecemos por sua crítica, mas atente que, conforme indicado ao lado do nome do autor, o texto em questão é um artigo e não uma matéria jornalística. A sessão de artigos da Repórter Brasil é um espaço aberto para participação de pesquisadores, acadêmicos, integrantes de movimentos sociais, autoridades e demais representantes da sociedade civil, criado com o objetivo de contribuir para o debate público de temas importantes e atuais. Neste sentido, são bem vindos comentários que fortalecem a reflexão e a troca de ideias construtiva que podem ajudar na busca por soluções para problemas complexos. Mais artigos como este você pode encontrar no link: http://reporterbrasil.org.br/categorias/noticias/artigos/

      Saudações,

      Equipe
      Repórter Brasi

  10. ALUNOS 2013

    o Daniel Mack possui uma “visão” de curto alcance e, toda ela puramente ocidental, penso que no globo terrestre que ele reside não tenha oriente…..