A exploração de trabalhadores por algumas das principais grifes de Buenos Aires é um dos temas da última edição da revista “Cadernos de Antropologia”, publicação acadêmica que tem como objetivo difundir resultados de investigações antropológicas realizadas na Argentina e América Latina. O estudo “Oficinas clandestinas: o quintal das ‘grandes marcas'”, disponível para download na íntegra em espanhol, detalha as condições de produção no setor na Argentina, que são semelhantes às que têm sido encontradas no Brasil.
Desenvolvida por María Ayelén Arcos, pesquisadora da Universidade de Buenos Aires, a pesquisa aponta como cada vez mais as principais empresas do setor se especializam em marketing e comercialização, terceirizando a produção. A estimativa, conforme detalhado no estudo, é de que no país 80% das roupas comercializadas no país sejam produzidas em oficinas clandestinas terceirizadas. Assim como em São Paulo, a maior parte dos costureiros são imigrantes bolivianos.
Com base em entrevistas e no acompanhamento de denúncias, ela detalha sistemas como o das “camas quentes”, em que os trabalhadores vivem no mesmo local em que confeccionam as peças, cumprindo jornadas regulares de 10 a 12 horas de segunda-feira à sábado. O sistema é estruturado com base no pagamento por produção, o que faz com que jornadas exaustivas sejam uma constante. Assim como acontece no Brasil, muitos dos imigrantes trabalham nos primeiros meses só para pagar os custos com transporte para chegar ao país.
Ligada a La Alameda, organização de denúncia e combate ao trabalho escravo na Argentina, Ayelén tem estudado como se organizam as redes envolvendo oficinas clandestinas na cidade. Ela aponta que muitos dos empresários que se beneficiam com tal sistema tentam se eximir da responsabilidade argumentando que desconheciam as condições dos que vivem nas oficinas.
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