Às vésperas da Copa do Mundo, os resgates de trabalhadores em condições análogas às de escravos na construção civil alcançaram patamar recorde, fazendo a escravidão em meio urbano passar o meio rural pela primeira vez em 2014. Os dados são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que, junto com a Repórter Brasil e a Walk Free, iniciam nesta semana uma campanha contra as infrações trabalhistas no setor.
Entre os resgates, destaca-se o desrespeito aos direitos trabalhistas e humanos até em obras de grande relevância, vitrines governamentais, como a construção de casas populares do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” ou a ampliação do aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, que é o mais movimentado da América Latina.
Só em 2013, foram 866 vítimas de trabalho escravo na construção civil. Mas só quatro empresas são responsáveis pela quase um terço destas infrações. Juntas, Anglo American, Brookfield, Emccamp e OAS foram apontadas por manter 299 operários nestas condições em 2013. A Anglo American teve mais 185 trabalhadores escravizados em seu canteiro de obras em 2014. Outra empresa flagrada superexplorando trabalhadores é a MRV, que já foi responsabilizada por 85 resgatados em quatro casos diferentes desde 2011. Já a construtora Racional foi autuada em 2012 por resgate ocorrido em plena Avenida Paulista, coração financeiro de São Paulo (confira mais sobre cada empresa abaixo).
Aliciadas em diferentes regiões do país e muitas vezes transportadas em veículos sem condições mínimas de segurança, esses trabalhadores acabam sendo jogados em barracos improvisados onde tiveram de viver em condições degradantes, por vezes sem receber sequer o salário e presos a esquemas de servidão por dívida.
A campanha exige que as empresas garantam condições dignas de alojamento e trabalho a seus empregados, deixem de fazer uso de terceirizações ilícitas, respeitem a Instrução Normativa 90 do Ministério do Trabalho e Emprego que regulamenta condições para recrutamento e transporte de trabalhadores contratados em localidades diferentes e assinem o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.
Conheça as empresas questionadas pela campanhaMRV OAS Anglo American Racional Brookfield e Emccamp Todas as empresas citadas foram contatadas para se posicionarem sobre os compromissos em questão. Apenas, Anglo American, Brookfield e OAS retornaram, afirmando que estudariam a possibilidade de assumir as medidas para evitar que novos casos aconteçam. Até o lançamento desta campanha, porém, nenhuma delas havia assumido efetivamente tais compromissos. |