Muitos anos depois, diante do irmão caçula, o sexagenário Augusto Miranda Brasão, haveria de recordar que, aos 12 anos, trabalhava ao lado do pai no corte da palha de piaçaba para pagar dívidas aos patrões. Essa palmeira, cuja fibra é usada na confecção de vassouras, marcou a vida de Augusto, seu irmão, pai e avô. Há cem anos, as diferentes gerações da família Brasão vivem sob um expediente criminoso que aprisiona milhares de extrativistas de origem indígena no alto e médio Rio Negro, no Amazonas. Os irmãos vivem na comunidade Malalahá. Como no romance “Cem Anos de Solidão”, do colombiano Gabriel García Márquez, a vida dos piaçabeiros se repete em ciclos e tem toques de realismo fantástico. Estão presos a um modo de exploração em que o trabalho se confunde com pagamento de dívida, uma realidade que parece saída do passado.