Com Amissima, são 38 as marcas de moda envolvidas com trabalho escravo no Brasil

Informações sobre as grifes estão no Moda Livre, aplicativo da Repórter Brasil que monitora as condições de trabalho na moda brasileira
 21/12/2018

A Amissima, que comercializa luxuosos vestidos femininos, soma-se a outras 37 marcas que utilizaram mão de obra análoga à escravidão. Todas as informações sobre elas estão no aplicativo Moda Livre, disponível no Google Play e na Apple Store, que avalia desde 2013 as ações adotadas para combater o trabalho escravo entre os fornecedores e que acaba de ser atualizado.

A fiscalização do Ministério do Trabalho resgatou 14 trabalhadores em duas oficinas que produziam roupas para a Amissima. A operação, realizada em novembro de 2018, constatou que a jornada chegava a 14 horas diárias, que os trabalhadores não tinham carteira assinada e recebiam menos do que o salário mínimo. Em nota (leia a íntegra), a empresa afirmou que não compactua com ofensas à lei trabalhista e pediu desculpas aos que se sentiram lesados pelo caso. 

Procurada pelo Moda Livre, a Amissima se negou a informar se adota medidas para combater a precarização trabalhista em sua cadeia de fornecimento.

Das 132 marcas atualmente avaliadas pelo aplicativo, mais de 40% estão na mesma situação.

Criado em 2013, o Moda Livre avalia as ações adotadas por marcas e varejistas para combater o trabalho escravo entre fornecedores. Também tem dados atualizados sobre as grifes responsabilizadas por esse crime durante fiscalizações do governo federal. As informações do aplicativo mostram que grande parte do varejo de moda no Brasil ainda não controla adequadamente os locais onde as suas roupas são fabricadas.

Além da recém-flagrada Amissima, a atualização do aplicativo inclui informações sobre as políticas de monitoramento adotadas por 10 novas empresas: Ateen, Canal Concept, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Enjoy, Fillity, Maria Filó, Mixed, Tig – Renata Figueiredo e Zapalla.

Mais de 400 costureiros e costureiras foram encontrados em condições análogas às de escravos no Brasil. A maioria dos casos ocorre em pequenas confecções terceirizadas. As vítimas mais comuns são migrantes sul-americanos que trabalham em oficinas em condições degradantes. São locais suscetíveis a incêndios, marcados pela falta de higiene e que muitas vezes também servem de moradia aos trabalhadores.

Eles recebem valores muito baixos por peça costurada e são submetidos a jornadas exaustivas para conseguir guardar algum dinheiro. Muitos se veem obrigados a trabalharem para pagar dívidas fraudulentas com os patrões para quitar o financiamento da viagem de seus países até o Brasil.

Mais transparência

Apesar dos recorrentes problemas, o Moda Livre também mostra que ações de transparência estão crescendo entre alguns varejistas. Nomes do mercado brasileiro como C&A,  Marisa e Reserva passaram a divulgar a relação de fornecedores em seus sites. Já a Americanas e a Pernambucanas imprimem nas etiquetas o nome do fabricante das peças.

Medidas como estas são uma tendência internacional. Adidas, Calvin Klein, Levis, Nike e Puma divulgam o nome de seus fornecedores na internet. Atualmente, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) também publica a relação de confecções aprovadas pelo seu programa de certificação. Marcas como Brooksfield, Le Lis Blanc, Hering, Renner e Riachuelo informam que trabalham com fornecedores certificados pela Abvtex, mas não explicita quais são.   

Como funciona o aplicativo

A Repórter Brasil envia um questionário-padrão a marcas e grupos varejistas de moda em atividade no Brasil. As respostas geram uma pontuação que classifica as empresas em três categorias: verde, amarela e vermelha. As empresas que não respondem ao questionário são automaticamente colocadas na cor vermelha devido à falta de transparência.

Na categoria verde estão empresas que demonstram ter mecanismos de acompanhamento sobre sua cadeia produtiva, e que possuem histórico favorável em relação ao tema. Na categoria intermediária estão inseridas as marcas que demonstraram ter mecanismos de acompanhamento, mas que têm histórico desfavorável em casos de trabalho escravo e/ou precisam aprimorar seus mecanismos.

Além das que não são transparentes, também entram na cor vermelha as marcas com pior avaliação. São aquelas que não demonstraram ou não informaram adotar ações minimamente adequadas para evitar situações de escravidão moderna na produção de suas roupas.

O objetivo do questionário-padrão é avaliar como as empresas monitoram as condições de trabalho de seus fornecedores a partir de quatro indicadores básicos:

• Políticas: compromissos assumidos pelas empresas para combater o trabalho escravo em sua cadeia de fornecimento.

• Monitoramento: medidas adotadas pelas empresas para fiscalizar seus fornecedores de roupa.

• Transparência: ações tomadas pelas empresas para comunicar a seus clientes o que vêm fazendo para monitorar fornecedores e combater o trabalho escravo.

• Histórico: resumo do envolvimento das empresas em casos de trabalho escravo, segundo dados oficiais.

Além de analisar o histórico e as ações de combate ao trabalho escravo que são tomadas pelas marcas mais relevantes no mercado de moda brasileiro, o Moda Livre também destaca matérias da Repórter Brasil sobre trabalho escravo no setor.

O aplicativo não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar de determinada marca ou loja, apenas garante informação e transparência.

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