“O problema ambiental não é no campo, é na cidade”, diz Colatto, que assumirá o comando do serviço florestal

Secretário defende “controle” de animais silvestres como javali e jacaré e diz que classificar essa proposta como caça de animais é discurso ideológico. “Temos jacarés matando gente na Amazônia”
Por Ana Magalhães
 21/01/2019

O deputado federal Valdir Colatto (MDB-SC), que aceitou na última semana convite para assumir o comando do Serviço Brasileiro de Florestas, é conhecido por sua atuação ativa na bancada ruralista, da qual foi presidente por duas vezes.

Entre as funções do Serviço Florestal Brasileiro está a “ampliação da cobertura florestal”, segundo o site oficial do órgão. No entanto, durante o seu mandato como deputado federal, ele votou pela redução da Floresta Nacional e do Parque Nacional de Jamanxim, no Pará, medidas que poderiam ampliar o desmatamento na Amazônia.

Candidato à reeleição, Colatto obteve 71.473 votos em outubro passado, segundo o TSE, que não foram suficientes para a sua vitória. Ele está está como 1º suplente para a sua coligação. Em entrevista à Repórter Brasil, por telefone, ele diz não ver problemas em ter sido derrotado nas urnas e voltar ao poder por meio de um cargo de confiança. “Estou sendo chamado para colaborar com o governo nessa área pelo meu conhecimento, pela minha história, pelo que eu posso fazer pelo governo e pelo país”.

O senhor se sente incomodado com o fato de ter sido rejeitado pelas urnas e de estar assumindo um cargo de comando no governo Bolsonaro, no caso a chefia do Serviço Florestal Brasileiro?

De jeito nenhum. Eu já faço parte do projeto Bolsonaro há dois anos. Essa proposta a gente ajudou a construir e concorda com essa linha de pensamento dele [do presidente]. Não me elegi…. Eu não sou político, sou um técnico dentro da política. Estou sendo chamado para colaborar com o governo nessa área pelo meu conhecimento, pela minha história, pelo que eu posso fazer pelo governo e pelo país. Eu relutei em aceitar o convite, mas dada a insistência da ministra [Tereza Cristina] e do presidente, acabamos aceitando o desafio. Queremos resolver esse conflito entre agricultura e meio ambiente, que não deve existir. Essa relação [entre agricultura e meio ambiente] deve ser harmônica.

Valdir Colatto: “o meio ambiente pode sim estar equilibrado com a agricultura” (Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)

Uma das missões do Serviço Florestal Brasileiro é ampliar a cobertura florestal, mas na última legislatura o senhor votou pela redução das áreas de preservação do parque e da Floresta Nacional do Jamanxim, no coração da Amazônia. O senhor acredita ter o perfil adequado para esse cargo?

Isso é uma questão técnica, não é política e nem ideológica. O pessoal está levando para um lado que não existe. Jamanxim é uma área onde, na verdade, já existe a exploração de minérios, que está em uma área já desmatada. Mais dias menos dia essa questão terá que ser resolvida. E não altera a questão ambiental, mas sim altera interesses na exploração de minério. É isso que está por trás. Não tem nada de redução [da área de proteção de Jamanxim] ou de prejudicar o meio ambiente.

Um dos projetos de lei de sua autoria é sobre a caça de animais silvestres…

É uma mentira criada pela imprensa, de que tem liberação da caça, não existe isso. Isso é um discurso ideológico. Inclusive para sua informação, o deputado Nilson Tatto (PT-SP), que foi relator e arquivou o projeto. Está na gaveta há dois anos. Esse projeto nem existe mais. Era um projeto para discutir a política da fauna. Porque nós temos problemas com javalis, temos jacarés matando gente na Amazônia, temos mais de 50 casos de pessoas atacadas por jacarés e não há nenhum controle disso. É isso que nós estamos falando [no projeto]: o controle dos animais que estão causando problemas econômicos, sociais e de saúde para a população, só isso. Não tem nada de caça de animais silvestres.  

A preservação ambiental, que é a função principal do Serviço de Florestas Brasileiro, está na sua meta?

O problema ambiental não é no campo, é na cidade, que não tem tratamento de esgoto,  não controla o lixo. Nós precisamos fazer o que a agricultura faz, que é colocar 20%, 35%, 80% dentro da reserva do seu patrimônio em defesa do meio ambiente. Na verdade, quem faz a defesa [do meio ambiente] na prática é o agricultor, ninguém mais faz isso. Não sei porque se criou essa onde de que o agricultor é o culpado. Só que o agricultor, para produzir comida, precisa de espaço, não pode produzir comida debaixo da árvore. Tem que tirar a árvore como se tira a árvore quando se constrói a cidade. E aí o pessoal fica achando que o agricultor é o desmatador. Quem consome a comida que é produzida no campo são as pessoas que moram na cidade, consome água, consome a comida e todo os produtos que vêm da agricultura. Se só agricultores consumissem, seriam 15% da população brasileira. Temos uma controvérsia e a gente quer mostrar essa realidade e dizer que o meio ambiente pode sim estar equilibrado com a agricultura, e a agricultura vai ajudar, como sempre fez.



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