Fornecedores da JBS criam gado em áreas protegidas da Amazônia, afirma Anistia

Entidade denuncia a presença de pecuaristas em Terra indígena e Reservas Extrativistas de Rondônia. Mais de 150 mil cabeças de gado estariam pastando ilegalmente em áreas protegidas do estado, com a anuência das autoridades sanitárias locais
Por Repórter Brasil
 15/07/2020
Em abril de 2020, havia oficialmente 153 mil cabeças de gado pastando ilegalmente dentro de áreas protegidas em Rondônia. O número é 22% maior do que o registrado em novembro de 2018 (Foto: Repórter Brasil)

Maior exportadora de carne bovina no mundo, a JBS adquire animais de pecuaristas que invadem áreas indígenas e territórios ocupados por comunidades extrativistas. O avanço das pastagens nestes locais ocorre mediante ameaças, intimidação e violência, segundo um novo relatório publicado pela Anistia Internacional. A entidade cobra do frigorífico ações para remediar o problema.

Pastagens ilegais ligadas à cadeia produtiva da empresa foram flagradas em três áreas protegidas de Rondônia. Uma delas é a Reserva Extrativista Rio Ouro Preto. A Anistia afirma que, em 2019, a JBS comprou gado diretamente de uma fazenda localizada dentro da reserva.

A investigação também identificou fornecedores da JBS na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e na Reserva Extrativista Rio Jacy-Paraná. Além de pastagens localizadas dentro das áreas protegidas, estes pecuaristas seriam possuidores de outras fazendas em Rondônia.

Eles registraram a transferência de gado das fazendas ilegais para as suas propriedades fora das áreas de proteção logo antes de encaminhar número idêntico de bovinos destas últimas para abate no frigorífico. A prática, segundo a Anistia, apresenta indícios de “lavagem de gado” – ou seja, fraudes documentais para mascarar a real origem do rebanho.     

A entidade internacional cobra da JBS a implementação imediata de um sistema de monitoramento eficaz para evitar a aquisição de gado oriundo de áreas protegidas. O sistema, diz a Anistia, deve incluir também as áreas que fornecem gado para as fazendas que abastecem diretamente seus matadouros.

A investigação realizada pela Anistia Internacional contou com a colaboração da Repórter Brasil na apuração dos casos.

Colaboração do Estado

Em abril de 2020, havia oficialmente 153 mil cabeças de gado pastando ilegalmente dentro de áreas protegidas em Rondônia. O número é 22% maior do que o registrado em novembro de 2018. Somente ao longo do ano passado, 89 mil animais foram transferidos de pastagens em áreas protegidas para outras fazendas, ou então diretamente para o abate.

A informação, segundo à Anistia, foi obtida por meio de requerimentos oficiais encaminhados à agência de defesa sanitária de Rondônia – órgão responsável por controlar a vacinação e trânsito de animais. Ou seja, as autoridades estaduais têm conhecimento da presença de animais nestas áreas, e dá aval para o trânsito dos animais. 

“Os dados que acessamos e analisamos – dados fornecidos pelos próprios órgãos governamentais – fazem soar o alarme”, afirma Richard Pearshouse, diretor de Crises e Meio Ambiente da Anistia Internacional. “Como acabar com a criação ilegal de gado bovino na Amazônia brasileira? Um bom ponto de partida seria parar oficialmente de registrar fazendas comerciais em áreas protegidas e parar de emitir guias de trânsito para o gado bovino oriundo dessas fazendas.”

Os dados obtidos também mostram que a esmagadora maioria é enviada para outras fazendas antes de ir para o abate. Isso significa que mesmo a carne proveniente de fazendas legais pode ter pastado ilegalmente em áreas protegidas.

Outro lado

A Anistia Internacional entrou em contato com a JBS e perguntou se a empresa havia abatido gado de fazendas localizadas nas três áreas A empresa afirmou não comprar gado de nenhuma fazenda envolvida no pastoreio ilegal em áreas protegidas. 

“A JBS monitora de perto seus fornecedores quanto à conformidade em todos os aspectos de nossa Política de Compras Responsáveis e não identificou anteriormente questões relacionadas a violações de direitos humanos de comunidades indígenas ou outros grupos protegidos”, disse a empresa, que afirmou ainda possuir “uma abordagem inequívoca de desmatamento zero em toda a sua cadeia de suprimentos”. A resposta completa da JBS está disponível no relatório da Anistia que pode ser acessado clicando aqui.

A agência sanitária estadual de Rondônia também foi questionada sobre as autorizações emitidas pelo órgão para trânsito de animais em áreas protegidas. O órgão não encaminhou respostas à Anistia. 


APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM