Íntegra das respostas da Cargill e da Bertolini

Veja a resposta da Cargill e da Bertolini para a reportagem ‘Cicatrizes da soja: trabalhadores de porto em Rondônia relatam lesões e abusos em empresa contratada pela Cargill’
 29/04/2021

Cargill

Perguntas enviadas pela Repórter Brasil:

Olá,

Estou finalizando uma reportagem sobre as violações trabalhistas no transporte da soja da Cargill em dois portos do rio Madeira, em Porto Velho (Rondônia).

Estive em Porto Velho e entrevistei diversos trabalhadores que apresentaram uma série de denúncias de abusos. Também entrevistei representantes do Ministério Público do Trabalho, que detalharam as violações encontradas nas operações chamadas de Porto Seguro, entre 2017 e 2019. 

Os trabalhadores são funcionários da Bertolini Transportes, que presta serviço para a Cargill. Atuam em duas unidades da Cargill no rio Madeira, em Porto Velho, uma próxima à ponte e a outra em Cujubim. 

Listo abaixo o nome dos trabalhadores e os abusos relatados por eles, que serão detalhados na reportagem. Peço que a empresa se posicione sobre todas as denúncias dos trabalhadores. 

1 – James de Assis Vasconcelos de Alencar 

Por causa do excesso de peso que carregava nas balsas, ele teve hérnia de disco, fez cirurgia, ficou afastado por seis meses e retornou para a mesma função nas balsas de transporte de soja. Alencar tem recomendação médica para evitar carregar peso, mas segue no trabalho pesado no carregamento das balsas de soja. Ele também reclama que no turno de 48h não tem o tempo adequado de descanso e chega a trabalhar mais de 30h seguidas. Ele é funcionário da Bertolini desde 2004 e atua desde 2009  como marinheiro, mas alega que recorrentemente tem a função desviada para conferente. 

2 – Célio Alberto Gomes de Albuquerque

Perdeu a visão de um olho após sofrer o acidente depois de 19 horas de trabalho consecutivo. Um cabo de aço ficou preso no pier e quando a balsa foi acionada soltou atingido a cabeça dele, quebrando o nariz além de tirar a visão de um olho. Ele relata que não teve o apoio adequado das empresas (Bertolini e Cargill) e conseguiu que a cirurgia fosse paga pelas empresas graças a uma liminar judicial. Ele integrava a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e mostrou farta documentação sobre uma série de falhas de segurança, inclusive a que vitimou a visão dele. 

Albuquerque está muito doente, com um câncer, pediu a rescisão indireta na justiça do Trabalho, mas alega que os advogados da Bertolini e da Cargill atuam de má fé para postergar a decisão.  

3 – Simeão Furtado Passos 

Teve três hérnias de disco trabalhando como piloto na movimentação das balsas. Reclama que não tinha local adequado para o descanso na jornada de 48h. “Os camarotes não tinham ar-condicionado e nem ventilador em um calor de 40 graus. Era tudo de ferro e o espaço entre as camas era muito pequeno”, descreve. 

4 – Francisco Nascimento Barros

Também atuava como piloto na movimentação das balsas e relata ter trabalhado 36 horas seguidas durante a jornada de 48 horas. “A cabine era um ambiente insalubre”, afirma.

5 – Marcelo Inácio Dias  

O trabalho no carregamento da soja deixou ele com sequelas na coluna, em que fez uma cirurgia, dores crônicas nos ombros e nos joelhos, além de problemas psicológicos. “Eu não sirvo para trabalhar em lugar nenhum mais”, lamenta. Dias relata que ficava em pé por 24 horas seguidas, não sentava nem para comer e que tinha alergia à poeira da soja que, segundo ele, era contaminada por agrotóxicos. Ele está afastado do trabalho e pede, na justiça, para ser demitido.

6 – José Cláudio Manoel Uchoa

Está afastado do trabalho por problemas de saúde há 3 anos. Relata que sente dores recorrentes nas coluna. Ele teve também que fazer uma cirurgia no joelho e tem dois dedos da mão deformados. Relata também que não tinha descanso adequado nas jornadas de 48h e que quer ser demitido, pois não tem condição de voltar ao trabalho pesado, mas que a empresa não aceita demiti-lo. 

Uchoa relata também ter presenciado um episódio de racismo. Segundo ele, o gerente da Bertolini Valdemir Magalhães, humilhou um funcionário negro criticando a cor da unha do funcionário, que era roxa. “O gerente olhou para o pé dele e perguntou se ele não tinha vergonha de andar com uma unha daquela cor, sendo que aquela era a cor da unha dele”, relata Uchoa.  

Resposta da Cargill:

Em relação à sua solicitação, confirmamos que os profissionais em questão não são funcionários da Cargill. A Companhia realiza monitoramento constante, avaliando todos os seus fornecedores de acordo com Código de Conduta do Fornecedor da Companhia. Se forem encontradas violações, tomaremos medidas imediatas de acordo com nosso Compromisso com os Direitos Humanos e o Código de Conduta do Fornecedor.

Bertolini

Perguntas enviadas pela Repórter Brasil:

Olá,

Sou jornalista da Repórter Brasil e estou finalizando uma reportagem sobre as violações trabalhistas no transporte da soja da Cargill em dois portos do rio Madeira, em Porto Velho (Rondônia).

Procurei por uma assessoria de comunicação da TBL, mas não encontrei. Nesses casos, o comum é conversar com a área de comunicação da empresa, mas como não tem envio a demanda para o senhor. 

Estive em Porto Velho e entrevistei diversos trabalhadores que apresentaram uma série de denúncias de abusos. Também entrevistei representantes do Ministério Público do Trabalho, que detalharam as violações encontradas nas operações chamadas de Porto Seguro, entre 2017 e 2019. 

Os trabalhadores são funcionários da Bertolini Transportes, que presta serviço para a Cargill. Atuam em duas unidades da Cargill no rio Madeira, em Porto Velho, uma próxima à ponte e a outra em Cujubim. 

Listo abaixo o nome dos trabalhadores e os abusos relatados por eles, que serão detalhados na reportagem. Peço que a empresa se posicione sobre todas as denúncias dos trabalhadores. 

1 – James de Assis Vasconcelos de Alencar 

Por causa do excesso de peso que carregava nas balsas, ele teve hérnia de disco, fez cirurgia, ficou afastado por seis meses e retornou para a mesma função nas balsas de transporte de soja. Alencar tem recomendação médica para evitar carregar peso, mas segue no trabalho pesado no carregamento das balsas de soja. Ele também reclama que no turno de 48h não tem o tempo adequado de descanso e chega a trabalhar mais de 30h seguidas. Ele é funcionário da Bertolini desde 2004 e atua desde 2009  como marinheiro, mas alega que recorrentemente tem a função desviada para conferente. 

2 – Célio Alberto Gomes de Albuquerque

Perdeu a visão de um olho após sofrer o acidente depois de 19 horas de trabalho consecutivo. Um cabo de aço ficou preso no pier e quando a balsa foi acionada soltou atingido a cabeça dele, quebrando o nariz além de tirar a visão de um olho. Ele relata que não teve o apoio adequado das empresas (Bertolini e Cargill) e conseguiu que a cirurgia fosse paga pelas empresas graças a uma liminar judicial. Ele integrava a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e mostrou farta documentação sobre uma série de falhas de segurança, inclusive a que vitimou a visão dele. 

Albuquerque está muito doente, com um câncer, pediu a rescisão indireta na justiça do Trabalho, mas alega que os advogados da Bertolini e da Cargill atuam de má fé para postergar a decisão.  

3 – Simeão Furtado Passos 

Teve três hérnias de disco trabalhando como piloto na movimentação das balsas. Reclama que não tinha local adequado para o descanso na jornada de 48h. “Os camarotes não tinham ar-condicionado e nem ventilador em um calor de 40 graus. Era tudo de ferro e o espaço entre as camas era muito pequeno”, descreve. 

4 – Francisco Nascimento Barros

Também atuava como piloto na movimentação das balsas e relata ter trabalhado 36 horas seguidas durante a jornada de 48 horas. “A cabine era um ambiente insalubre”, afirma.

5 – Marcelo Inácio Dias  

O trabalho no carregamento da soja deixou ele com sequelas na coluna, em que fez uma cirurgia, dores crônicas nos ombros e nos joelhos, além de problemas psicológicos. “Eu não sirvo para trabalhar em lugar nenhum mais”, lamenta. Dias relata que ficava em pé por 24 horas seguidas, não sentava nem para comer e que tinha alergia à poeira da soja que, segundo ele, era contaminada por agrotóxicos. Ele está afastado do trabalho e pede, na justiça, para ser demitido.

6 – José Cláudio Manoel Uchoa

Está afastado do trabalho por problemas de saúde há 3 anos. Relata que sente dores recorrentes nas coluna. Ele teve também que fazer uma cirurgia no joelho e tem dois dedos da mão deformados. Relata também que não tinha descanso adequado nas jornadas de 48h e que quer ser demitido, pois não tem condição de voltar ao trabalho pesado, mas que a empresa não aceita demiti-lo. 

Uchoa relata também ter presenciado um episódio de racismo. Segundo ele, o gerente da Bertolini Valdemir Magalhães, humilhou um funcionário negro criticando a cor da unha do funcionário, que era roxa. “O gerente olhou para o pé dele e perguntou se ele não tinha vergonha de andar com uma unha daquela cor, sendo que aquela era a cor da unha dele”, relata Uchoa. 

Resposta da Bertolini:

A Transportes Bertolini Ltda (TBL) reconhece a imensa importância que a imprensa tem para a Democracia Brasileira. Por isso, agradece muito a oportunidade concedida para prestar os seguintes esclarecimentos:

Em primeiro lugar, a TBL declara que o seu ambiente de trabalho é absolutamente seguro e que são respeitadas rigorosamente todas as normas de medicina e segurança no trabalho, bem como todos os riscos são controlados, tal como os órgãos de fiscalização constataram em várias oportunidades. Além disso, a TBL não compactua com nenhuma prática discriminatória, tanto que não existe no ambiente de trabalho; prova disso é o resultado da ação ajuizada pelo Sr. JOSE CLAUDIO MACIEL UCHOA contra a TBL, em que faz diversas acusações à pessoa e colega de trabalho Sr. Valdemir Magalhães. O Poder Judiciário não reconheceu nenhuma consistência em tais  acusações e, menos ainda, ação discriminatória.

Em segundo lugar, todas as atividades executadas no ambiente de trabalho são compatíveis com as condições físicas e psicológicas de cada empregado; prova disso é o redimensionamento preventivo nas atividades do Sr.  JAMES DE ASSIS VASCONCELOS DE ALENCAR, cuja última formação é na profissão de Marinheiro Fluvial de Convés, mas que executa preponderantemente atividades burocráticas compatíveis com a recomendação médica.

Em terceiro lugar, na TBL não há desrespeito às regras trabalhistas, muito menos jornadas abusivas e exaustivas; prova disso é o resultado da ação ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho que resultou em improcedência total para a alegação de acumulo de atividades e jornada exaustiva. O mesmo ocorreu com a ação do Sr. CÉLIO ALBERTO GOMES ALBUQUERQUE em relação à jornada trabalho, desde o primeiro até o último grau de jurisdição. Todas as decisões citadas aqui são públicas e podem ser acessadas nos arquivos do Poder Judiciário da localidade da reportagem.

Em quarto lugar, todas as Embarcações da TBL são equipadas com alta tecnologia para a navegação e para a segurança dos tripulantes, bem como instrumentos necessários para o conforto físico do trabalhador embarcado.

Em quinto lugar, a TBL ressente-se ao receber a informação que os empregados citados na reportagem desejam ser demitidos, visto que sempre buscou, através de políticas que visam o bem estar e a dignidade, a plena satisfação dos seus empregados; Apesar disso, declara que não impede ninguém de pedir demissão.

Por fim, a TBL registra que empenha-se dia após dia para oferecer as melhores condições de trabalho, seja com investimento em novas tecnologias, seja com investimento no bem estar social dos empregados.


APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM