Íntegra das respostas de BNP Paribas e Marfrig

Esclarecimentos foram enviados pelas empresas por ocasião da publicação da reportagem "Maior banco da França é denunciado por financiar crimes socioambientais na Amazônia"
 18/10/2022

BNP Paribas

O BNP Paribas foi pioneiro na implementação de políticas de financiamento e investimento com objetivo de alinhar sua carteira aos compromissos do Acordo de Paris. Desde 2010, a instituição empenha medidas rigorosas de combate ao desmatamento, proteção da biodiversidade e enfrentamento das mudanças climáticas, com especial atenção a setores que representam riscos para as florestas, como agricultura e pecuária. Estas políticas, reforçadas em 2021, são compromissos públicos que se aplicam a todos os clientes do banco.

O BNP Paribas é o único banco internacional a contar com uma política interna para o setor agrícola que endereça de forma rígida a rastreabilidade de toda a cadeia de produção e fornecimento de seus clientes. De acordo com o documento, a instituição fornecerá produtos ou serviços financeiros apenas para produtores de soja e carne bovina, frigoríficos e comerciantes que operam na Amazônia e no Cerrado brasileiro que tenham uma estratégia para atingir o desmatamento zero ao longo de suas cadeias como um todo.

Além disso, a instituição monitora as atividades das empresas com as quais mantém relações comerciais e estabelece 2025 como prazo limite para total rastreabilidade das cadeias de fornecimento (diretas e indiretas) de carne bovina e soja.

Em fevereiro de 2021, o BNP Paribas reforçou seus critérios de financiamento e investimento nos setores de soja e carne bovina na Amazônia e Cerrado (Brasil) e passou a fornecer produtos ou serviços financeiros apenas para produtores e comerciantes de soja e carne bovina que tenham uma estratégia para atingir o desmatamento zero em suas cadeias de produção e fornecimento até 2025, o mais tardar. Como parte das mudanças, o banco cessou os financiamentos para clientes que produzem ou compram carne bovina e soja de áreas desmatadas ou convertidas da Amazônia após 2008.

Além disso, o Grupo monitora as atividades dos produtores e comerciantes do setor agrícola, solicitando que demonstrem progresso nas seguintes frentes até 2025:

• Avaliação de risco de desmatamento e conversão em suas cadeias de fornecimento de carne bovina e soja;

• 100% de rastreamento das cadeias diretas e indiretas de carne bovina e soja na Amazônia e Cerrado;

• 100% de monitoramento das cadeias diretas e indiretas de carne bovina e soja na Amazônia e Cerrado;

• Reportes regulares do progresso no combate ao desmatamento e processamento de carne bovina e soja em suas cadeias de fornecimento; • Implementação de programas de engajamento de fornecedores para promover práticas de desmatamento zero;

• Exclusão de fornecedores que infringem sua estratégia de desmatamento zero.

Em caso de possível desalinhamento, o Grupo pode decidir encerrar uma relação comercial.

As políticas setoriais do BNP Paribas são regularmente reconhecidas. Em janeiro de 2021, a ONG britânica Global Canopy classificou o BNP Paribas no top 5 de seu ranking “Forest500” de instituições financeiras avaliadas em termos de políticas de financiamento sustentável e critérios de desmatamento em uma ampla gama de setores de commodities agrícolas. Por razões de confidencialidade, o BNP Paribas não comenta informações associadas aos seus clientes.

Marfrig

A Marfrig tem plena consciência dos desafios da cadeia produtiva da pecuária e reconhece seu papel como importante agente de transformação para estimular os processos de produção, preservação e inclusão na cadeia pecuária brasileira. Por isso, a companhia tem um sólido histórico em ações relacionadas à sustentabilidade e isso propiciou um know how único em inteligência territorial e pecuária. Em 2009 a companhia firmou compromisso público contra o desmatamento. Comprometeu-se em não adquirir animais provenientes de áreas de desmatamento, terras indígenas, unidades de conservação, áreas embargadas pelo Ibama e fazendas com condições de trabalho análogas à escravidão. Esse compromisso é objeto de auditoria de terceira parte anualmente, para a qual os resultados são de conformidade em todos os critérios. Esses relatórios são públicos e estão disponíveis no site da Marfrig.

Desde então, a companhia implementa ações concretas e auditáveis, com 100% de êxito nos últimos nove anos nessas auditorias, e dá total transparência a esse relatório, deixando-o disponível publicamente. Desde 2010 a Marfrig monitora, via satélite e em tempo real, uma área de cerca de 30 milhões de hectares, o que equivale a um território maior do que o estado de São Paulo ou o Reino Unido.

A Marfrig reafirma que todas as suas compras somente são realizadas após verificar que as respectivas fazendas atendem 100% de seus critérios de compra, coibindo que a matéria-prima adquirida seja oriunda de fazendas localizadas em áreas de desmatamento ou embargadas, unidades de conservação, terras indígenas ou com uso de trabalho escravo, de acordo com compromissos públicos assumido pela empresa.

A Marfrig mantém uma rígida política de compra de animais e um protocolo com critérios e procedimentos que são pré-requisitos para a homologação de fornecedores e autorização de compras. Para assegurar o cumprimento de todos os requisitos previstos, desenvolveu e mantém uma plataforma de monitoramento de fornecedores. O sistema cruza os dados georreferenciados e documentos das fazendas com informações públicas oficiais para identificar potenciais não conformidades para temas como desmatamento, áreas embargadas, unidades de conservação, reservas indígenas e trabalho escravo. A cada nova compra, todos esses dados são checados. Quando uma não conformidade é identificada em uma propriedade, esta é imediatamente bloqueada e não são feitas novas compras (é uma prática fundamental e inegociável da companhia). Esse sistema de compra de gado é submetido à avaliação de auditores externos anualmente e o relatório de auditoria é publicado em nosso site.

Quanto às acusações feitas hoje, a Marfrig esclarece que todas elas estão baseadas em situações e casos já investigados anteriormente. A empresa respondeu pronta e detalhadamente aos questionamentos feitos a respeito, mostrando a inexistência de qualquer irregularidade em relação aos compromissos assumidos. Essas respostas podem ser, inclusive, consultadas no site da Repórter Brasil. Agimos com a maior transparência possível – e continuamos abertos para prestar quaisquer esclarecimentos que ainda se façam necessários.

Ainda como parte do compromisso com a transparência, a Marfrig informa que possui, em sua base cadastral, 21 fazendas que poderiam ter algum grau de sobreposição com a Terra Indígena Apyterewa (conforme demonstra o mapa abaixo). Dessas fazendas, apenas oito estavam aptas ao fornecimento para a Marfrig enquanto a companhia operou no Pará. As operações no estado foram encerradas em 2020.

Vale ressaltar que essas oito propriedades, após exaustiva análise socioambiental (documental e geoespacial), comprovadamente não apresentavam nenhum tipo de não conformidade. Portanto, a Marfrig reitera que, enquanto operou no Pará, não adquiriu nenhum animal proveniente dessa ou de qualquer outra terra indígena. Essas informações foram atestadas pelas diversas auditorias de terceira parte realizadas ao longo dos anos, desde 2010, sob o Compromisso Público da Pecuária.

Marfrig
Marfrig

No caso de trabalho escravo, as consultas feitas pela Marfrig são realizadas diretamente nas listas atualizadas publicadas pela Secretaria do Trabalho do Ministério do Trabalho e Previdência, anteriormente a cada compra de gado. Em todas as datas em que houve negociações com qualquer fornecedor, o mesmo não constava na lista de trabalho escravo, bem como atendia a todos os critérios socioambientais adotados pela Marfrig. Vale ressaltar que o sistema de compra bloqueia automaticamente todas as propriedades ligadas a qualquer fornecedor que se encontre na lista suja do trabalho escravo. Mais uma vez, a Marfrig reitera que não adquire animais de fornecedores que constam dessa lista. Qualquer informação diferente dessa é uma inverdade.

Atualmente a lista publicada pela Secretaria do Trabalho é o único mecanismo disponível publicamente para verificação de ocorrências de trabalho análogo à escravidão. Essa lista é, aliás, objeto de consulta constante em todos os protocolos referentes a compromissos públicos com a pecuária.

Para endereçar de forma prática e eficiente a cadeia de fornecimento indireta, em 2020 a Marfrig lançou o Plano Marfrig Verde+, pioneiro no país. O plano atua para rastrear 100% da cadeia de fornecedores de gado da companhia (incluindo fornecedores indiretos, sabidamente enorme desafio em face da complexidade da cadeia pecuária no país) até 2025, no caso da Amazônia, e até 2030 para os demais biomas, e já obteve expressivos resultados nos dois primeiros anos. A empresa trabalha em parceria com produtores numa estratégia de inclusão sustentável, baseada no desenvolvimento de mecanismos financeiros, assistência técnica e tecnologias de monitoramento e rastreabilidade — uma vez que a pura e simples exclusão de produtores (muitos deles pequenos e sem acesso à tecnologia e a crédito) não é a solução para os problemas.

Para realizar o monitoramento de fornecedores (diretos e indiretos), a Marfrig usa diversos instrumentos. A companhia adotou, em 2021, uma plataforma de rastreabilidade baseada em blockchain. Associada a essa ferramenta, a empresa também desenvolveu, em parceria com a Agroicone (empresa de inteligência territorial e tecnologia aplicada à agropecuária), um Mapa de Mitigação de Riscos, que faz uma varredura da distribuição da pecuária no território brasileiro, classificado em diferentes níveis de risco, para que ações mais assertivas de monitoramento e controle possam ser desenvolvidas e implementadas. Esse mapa estabeleceu áreas geográficas de maior ou menor risco socioambiental e, seguindo essa premissa, foram estabelecidas as áreas prioritárias e seus timelines, constantes no Marfrig Verde +, todos esses disponíveis publicamente, bem como os resultados obtidos até o momento. Essa abordagem permite, já de início, mitigar potenciais problemas em produtores localizados em áreas de maior risco, além de identificar a rastreabilidade das etapas de produção dos animais, ou seja, onde ocorreram a cria, recria e engorda dos animais adquiridos pela empresa.

Vale ressaltar que este mapa utilizou dados e indicadores da pecuária brasileira e não exclusivamente da cadeia de fornecimento da Marfrig, o que possibilita sua utilização por todo o setor, amplificando o impacto das ações do Marfrig Verde +.

A Marfrig também adotou o Visipec, ferramenta de rastreabilidade complementar que trabalha em conjunto com sistemas de monitoramento existentes, já utilizados pelos frigoríficos brasileiros, para melhorar a visibilidade da cadeia de fornecimento de bovinos e estabelecer um monitoramento do desmatamento mais eficiente. A ferramenta de suporte serve como instrumento adicional para assegurar a qualidade e a confiabilidade de todo o monitoramento.

Com essas medidas, a companhia alcançou, no final do primeiro semestre de 2022, taxa de monitoramento (via satélite) de 100% das fazendas fornecedoras diretas. Quanto ao monitoramento de fornecedores indiretos – um dos maiores desafios da cadeia agropecuária nacional – a taxa está em 72% na Amazônia e em 73% no Cerrado.

Leia aqui a reportagem: Maior banco da França é denunciado por financiar crimes socioambientais na Amazônia

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