ORGANIZAÇÕES DE DEFESA do bem-estar animal estão pedindo que o Senado Federal analise com urgência um Projeto de Lei (PL) que pode proibir a exportação de animais vivos por navio para abate no exterior.
O apelo foi feito nesta segunda-feira (26) através de uma carta endereçada ao presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), depois que uma embarcação com 19 mil cabeças de gado proveniente do Brasil atracou na semana passada em Cidade do Cabo, levando um “fedor inimaginável” à localidade. Inspeção de uma entidade local revelou que havia animais doentes e mortos no navio, e fotos mostram bois cobertos de fezes e urina nas baias. A organização classificou o cenário encontrado como “abominável”.
Investigação da Repórter Brasil mostrou que o navio Al Kuwait saiu do Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no dia 10 de fevereiro, carregando animais provenientes da Estancia del Sur, propriedade rural em Capão do Leão (RS). A família Pilz, que gerencia a fazenda, é também proprietária de um restaurante em Porto Alegre, a Parrilla del Sur, que serve carne na brasa preparada à moda uruguaia. Na ocasião, integrantes da família e os estabelecimentos não se manifestaram ao serem procurados pela reportagem.
O PL 3093/2021 nasceu de uma sugestão de uma cidadã ao Senado Federal formulada em 2018 que obteve mais de 21 mil apoios no portal e-Cidadania, da casa. O senador Fabiano Contarato (REDE-ES) formulou parecer favorável à matéria. Apesar disso, desde final de 2022 o texto está parado na casa.
Esse tipo de legislação já foi aprovada em outros países. “Proibições e restrições já foram anunciadas na Ásia, na Oceania e na Europa. O Brasil não pode ficar para trás”, afirmam as entidades na carta endereçada a Pacheco. Ao todo, 19 organizações e ativistas assinaram o documento, cuja íntegra pode ser lida aqui.
Acidentes
Segundo a entidade Mercy for Animals, o Brasil é o segundo maior exportador de bois vivos do mundo, abocanhando 15% do comércio internacional e enviando ao abate no exterior por via marítima cerca de 300 mil cabeças de gado ao ano.
Em 2012, mais de 2 mil bois morreram asfixiados durante a viagem entre o Porto de Vila do Conde, no Pará, e o Egito. Em 2015, um navio com carga viva afundou nos terminais da Vila do Conde. A maior parte dos 5 mil bois não sobreviveu – muitos morreram afogados ou presos dentro da embarcação. A decomposição dos corpos dos animais e o vazamento de óleo do navio provocaram um desastre ambiental na região.