Comentários das vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton sobre mudanças após caso de trabalho escravo

Informações foram enviadas à Repórter Brasil por ocasião da matéria ‘Vinícolas abandonam terceirizadas e ampliam uso de máquinas um ano após resgate’
 06/03/2024

Vinícola Salton

A safra da uva é uma das diversas etapas do trabalho de elaboração de vinhos e espumantes que acontecem na vinícola. A mecanização do processo de recebimento de uvas não impactou o quadro de colaboradores da Salton, visto que apenas 15 vagas temporárias (neste ano, todas CLT) foram reduzidas com a mecanização. Como em outros setores houve aumento de vagas, não ocorreu nenhum impacto no quadro geral. Nas diversas etapas do processo de elaboração dos produtos, estão envolvidos cerca de 500 colaboradores.

É importante destacar ainda que, em 2024, projetamos uma safra entre 15 e 25% menor que no último ano, devido a fatores climáticos que impactam diretamente no volume de uva a ser recebida e processada na vinícola. Por isso, parte das atividades também foram reduzidas em comparação ao ano de 2023.

Os BINS, que são os coletores que os agricultores estão passando a usar, dão agilidade à colheita e favorecem as condições de higiene, pois são fáceis de lavar, possuem proteção antimicrobiana e evitam a proliferação de fungos e bactérias. Esses grandes recipientes de plástico são facilmente removidos da lavoura por um trator com um garfo acoplado, possibilitando a diminuição do trabalho braçal. 

Estas iniciativas de mecanização na etapa de safra da uva, somadas à qualificação dos produtores rurais que fornecem uva à Salton ao longo de todo o ano de 2023, foram elogiadas pelo Ministro do Trabalho, Luiz Marinho. De acordo com ele, “as vinícolas foram incansáveis em promover o desenvolvimento social no campo”. Por isso, a Salton reforça que todas as ações desenvolvidas que integram o acordo firmado no TAC podem ser consultadas diretamente com o Ministério do Trabalho.

Nos últimos anos, a Salton tem investido na qualificação dos colaboradores com a criação de comitês voltados à cultura e pertencimento aos direitos humanos, com treinamentos, capacitações e palestras comandadas por profissionais e institutos referência na temática. 

Esta preocupação se estende em iniciativas que chegam às comunidades onde a vinícola está inserida. Exemplo disso é o projeto anual Legado Social, criado pela Salton em 2020 que auxilia anualmente entidades nos municípios onde a vinícola tem atuação direta. As áreas beneficiadas são definidas pelas comunidades, por meio de pesquisa online, individual e anônima, divulgada por meio de colaboradores e em eventos organizados pela Salton. Desta forma, os próprios moradores apontaram as necessidades de cada município para que pudessem ser escolhidas entidades que atendessem a essas demandas.

Aurora 

Quantos trabalhadores resgatados trabalhavam com o descarregamento na empresa? A ampliação do uso de empilhadeiras e bins trouxe redução? 

O número de contratações temporárias está diretamente ligado ao volume de matéria prima recebida na safra. Neste ano, devemos ter uma redução que pode variar de 25% a 30% no volume de uva recebido, então é natural que tenhamos uma demanda menor de trabalhadores contratados para o período. Assim, a redução de 150 para 130 vagas na safra não é apenas para o descarregamento. Existem outras funções temporárias, como limpeza, agendamento para entrega de uvas, auxiliar de safra, operador de grau, operador de balança e auxiliar de trânsito. Com o auxílio da automatização das caixas bins nesta safra, foram reduzidas 25 vagas no descarregamento. 

Quando a vinícola passou a usar mecanização no descarregamento e quais os principais motivos que levaram à adoção da mesma? 

O uso dos bins iniciou entre os anos de 2016 e 2017 com um pequeno número de cooperados, tendo chegado a 85% do volume de uvas colhido com o auxílio da automatização nesta safra. O principal motivo é a redução do esforço excessivo durante a colheita. A mecanização também propicia uma eficiência maior na produção e menor desperdício da matéria-prima durante o transporte. 

Como funciona o modelo usado desde a ponta, no parreiral, à área industrial? 

Os produtores utilizam os bins com auxílio de trator e empilhadeira durante a colheita. Os bins são colocados embaixo das parreiras e abastecidos com cargas que podem chegar a 500 quilos. Após, os bins são transportados em caminhões até a cooperativa, onde são descarregados com uso de empilhadeiras. Cabe lembrar que o uso dos bins melhora as condições dos trabalhadores que atuam na colheita, reduzindo o esforço e facilitando o acesso ao destino da matéria-prima durante a safra. 

Qual o atual percentual de mecanização no descarregamento e quais projeções são trabalhadas pela empresa?

Atualmente 85% do volume de uva da Cooperativa Vinícola Aurora é recebido através de bins. O cronograma prevê que o índice chegue a 90% na safra 2024/2025. Na colheita 2025/2026, o volume deve chegar a 95%, alcançando 100% do volume na vindima 2026/2027. 

Quais os impactos observados pelo avanço da mecanização em números de postos de trabalho?

Não há uma relação direta entre a mecanização e o número de postos de trabalhos. A diminuição ou aumento de postos de trabalho temporários está ligada de forma mais direta ao volume da safra de uvas. 

Como avaliam o custo social da ampliação da mecanização e redução de vagas?

Reforçamos que a redução de vagas de trabalho não está ligada de forma direta à ampliação da mecanização, mas sim ao volume de uva colhido durante a safra. Em 2023/2024 tivemos uma série de perdas por motivos climáticos provocadas pelo El Niño, o que fará com que tenhamos uma quebra na safra de 25% a 30%. Não pode ser tratado como custo social da ampliação da mecanização o emprego de mão de obra temporária que depende de eventos climáticos. A Aurora emprega mais de 600 trabalhadores. São mais de 1,1 mil famílias cooperadas, que produzem em pequenas propriedades que têm, em média, 2,5 hectares. A importância social da Cooperativa Vinícola Aurora está ligada à distribuição de renda aos associados, ao incentivo à continuidade do trabalho na agricultura familiar, ao aumento da participação das mulheres na cooperativa, entre outras iniciativas que podem ser vistas nos nossos canais de comunicação. 

– Qual o treinamento feito para trabalhadores a partir da ampliação da mecanização? 

Para os operadores de empilhadeiras é realizado também treinamento sobre as normas regulamentadoras 11 e 12 (NR-11 e NR-12), ambas que tratam de segurança no trabalho com máquinas e equipamentos. 

– Houve algum impacto em registros de acidentes em locais de trabalho neste período? Quantos foram registrados na área de descarregamento no último ano? Não tivemos nenhum registro de acidente de trabalho no descarregamento. 

– E em outros setores, que envolvem trabalho em altura, por exemplo? Não tivemos nenhum registro de acidente de trabalho em altura. 

– Sobre trabalho em altura, há ações para reduzi-lo ou tentar mitigar riscos do mesmo? Em que funções ele está presente hoje na vinícola? As ações adotadas pela cooperativa são treinamentos e observâncias das normas de segurança do trabalho. A Aurora segue as diretrizes da Norma Regulamentadora (NR) 35, que estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura. As ações para reduzir e mitigar riscos incluem, além do treinamento, exames médicos, eliminação da necessidade de trabalho em altura sempre que possível, controle e prevenção, como a instalação de guarda-corpos e sistemas de restrição que impedem o trabalhador de chegar a uma zona de risco. As funções que trabalham em altura estão relacionadas à manutenção predial e ao setor de enologia para acesso aos tanques. 

– O caso de resgate de trabalhadores em condição análoga à escravidão, em 2023, impactou de alguma forma na ampliação da mecanização? A ampliação da mecanização já estava em curso justamente pelos benefícios citados anteriormente, e iniciou ainda entre os anos de 2016 e 2017. É um processo natural de modernização para melhorar o bem-estar através da diminuição do esforço excessivo. 

– O que mudou entre as safras de 2023 e 2024 nas políticas adotadas pela vinícola? O número de vagas com prazo determinado seguiram os mesmos ou houve mudança? A principal mudança foi na contratação de forma direta pela Aurora, sem o envolvimento de empresa terceirizada. Além disso, a cooperativa aperfeiçoou os processos internos de controle e gestão de pessoas para estar alinhada às melhores práticas de mercado, de compliance e de sustentabilidade. Quanto ao número de vagas, como dissemos, não há um número determinado de vagas, variando de acordo com o volume de cada safra. 

– A vinícola deixou de usar empresa terceirizada nesta safra e passou a contratar trabalhadores diretamente. O que baseou essa decisão? Sim, não houve mais terceirização. A decisão foi baseada no nosso compromisso público de que os fatos registrados em 2023 nunca mais se repitam. 

– Como cooperativa, o que é passado a cooperados sobre uso de mão-de-obra terceirizada? Desde abril de 2023, a Aurora está promovendo capacitações, orientações e inspeções dos 1,1 mil viticultores cooperados, em 11 municípios da Serra Gaúcha. Foram realizadas duas rodadas de treinamentos com todos os associados para tratar de legislação trabalhista, onde, além de outros temas, abordamos a necessidade de formalização de vínculo de emprego com trabalhadores, formas de remuneração, horário de trabalho e direitos dos trabalhadores. A implementação das melhores práticas de trabalho decente na agricultura familiar, orientadas nas normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), foram concluídas em outubro 2023. De novembro do mesmo ano a março de 2024, as propriedades familiares estão sendo monitoradas para controle dos processos e instalações, além de estarem passando por auditorias externas. A Aurora também deu suporte para que os produtores se habilitassem a contratar os trabalhadores temporários de forma direta. Todos os viticultores associados foram instruídos a procurarem escritório de contabilidade ou mesmo o sindicato da categoria que os orientasse para a contratação formal dos funcionários. 

– A vinícola assinou um TAC após o caso de 2023 e recebeu fiscalização pela força tarefa de MTE e MPT este ano. Qual o balanço que fazem dessas ações? Recebemos com tranquilidade a fiscalização, a partir da certeza do trabalho desenvolvido. A Aurora entende que esse é um trabalho fundamental que os órgãos fiscalizadores realizam e ficamos muito satisfeitos em recebê-los e poder demonstrar a evolução de nossos processos. Cabe ressaltar que todos os órgãos estiveram muito próximos à cooperativa, com orientações, visitas técnicas e troca de informações que tem sido fundamental para que a cooperativa atinja o seu objetivo. Nos reunimos com fiscais e auditores, com membros do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho, Tribunal Regional do Trabalho, sindicatos, associações, dentre outras instituições. 

Cooperativa Vinícola Garibaldi

A Cooperativa Vinícola Garibaldi realizou e vem executando uma série de ações voltadas ao cumprimento das disposições do TAC, atendendo integralmente às determinações legais. Internamente, vem intensificando as ações de compliance para garantir que nenhum evento similar aconteça – em um trabalho que pode ser acompanhado pelo site (ou diretamente neste link, com frequentes atualizações:

https://www.vinicolagaribaldi.com.br/a-cooperativa/a-vinicola/2 ).

Atualmente, a Cooperativa não mantém nenhum terceirizado trabalhando no recebimento da uva. Todos os funcionários que desempenham tarefas na vinícola são contratados (celetistas, alguns com trabalho temporário) diretamente. No caso dos vinhedos, que são de propriedade dos cooperados e não da Cooperativa, a predominância é pela utilização de mão-de-obra familiar (em esquema de revezamento entre as famílias), com muito pouca incidência de contratação de mão-de-obra terceirizada para a colheita, uma vez que Cooperativa Vinícola Garibaldi é formada por cooperados oriundos da Agricultura familiar.

Seguindo um movimento já anteriormente vigente de modernização de seu parque produtivo e, consequentemente, de seus processos, a Cooperativa Vinícola Garibaldi vem trabalhando com a automação de diversas etapas. Nos últimos anos, houve investimento em tecnologia e automação para facilitar o trabalho dos colaboradores em situações que requerem esforço repetitivo, garantindo mais segurança às atividades e competitividade à vinícola.

Atualmente, o recebimento de uva ocorre integralmente pelo sistema de bins (contêineres de até 400 quilos cada, descarregados de forma automatizada, com pontes-rolantes), ou seja, é 100% mecanizado. Entretanto, esse movimento não significou redução de mão de obra, tanto que o número de colaboradores cresceu mais de 20% nos últimos cinco anos, chegando, atualmente, às pessoas.

Alinhada ao propósito de promover a vida em harmonia, a Cooperativa Vinícola Garibaldi respeita sua história – bem como a de seus cooperados – e trabalha para construir o futuro com a busca de práticas cada vez melhores, retribuindo a confiança e o carinho de todos aqueles que caminham juntos por esse ideal.


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