RB Investiga: ruído excessivo no trabalho afeta muito mais que a audição

Episódio de estreia do novo podcast da Repórter Brasil mostra os impactos do barulho na saúde do trabalhador de frigoríficos
Por Isabel Harari
 18/03/2024
Ouça nas plataformas de áudio

SERRAS CORTANDO OSSOS, esteiras carregando pedaços de carne, carcaças enfileiradas em ganchos percorrendo linhas de produção. Os frigoríficos estão entre os setores campeões em acidentes de trabalho — e a exposição diária ao ruído dos maquinários pode contribuir muito com isso.

O episódio de estreia do RB Investiga — novo programa da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil — mostra como o barulho excessivo gera diversos efeitos graves sobre o organismo, como distúrbios endócrinos e disfunção erétil, além de consequências aparentemente improváveis, como a perda de um dedo em uma máquina. 

O RB Investiga é um podcast mensal, disponível no canal do Youtube da Repórter Brasil e nas principais plataformas de áudio.

Potencial equivalente ao de uma turbina de avião

Segundo o Ministério da Saúde, o ruído é um “agente de risco potencialmente estressor”. A  exposição a níveis altos, ao longo de muitas horas ao dia, pode gerar irritabilidade e perda de concentração: um ambiente propício para acidentes. 

“O ruído mata, causa traumas, amputação, eletrocussão. Há perda da concentração, diminuição dos reflexos e impaciência. As mulheres engordam porque a cortisona dispara, os homens ficam ficam com disfunção erétil porque tem alteração circulatória. É uma caixa de Pandora”, explica Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira, coordenador da pós-graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Paulista (Unip) do Distrito Federal. 

Um empregado de um grande frigorífico no centro-oeste foi exposto a um barulho de 95,9 decibeis, segundo uma inspeção do Ministério Público do Trabalho. Ele trabalhava no abate e na sala de “quebra de cabeça” dos bois, sem protetor auditivo. Esse volume é equivalente ao barulho de uma furadeira ou de um cortador de grama, por pouco não chega ao nível de uma turbina de avião. O número fica bem acima do limite determinado pelo Ministério do Trabalho: 85 decibeis para uma jornada de 8 horas.

“Não tem como sair sadio no final do dia”, afirma Oliveira.

Ruído também é causa de perda auditiva

A exposição contínua a ruídos intensos também provoca alterações estruturais no ouvido. Perda auditiva e sensação de zumbido, limitação em reconhecer sons, e  dificuldade de compreensão de fala são alguns dos sintomas mais comuns.

“Quando a gente fala especificamente de trabalhador, o ruído vai ser a principal causa da perda auditiva”, afirma Tatiane Meira, professora do departamento de fonoaudiologia da Universidade Federal da Bahia. Segundo ela, a situação dos empregados de frigoríficos pode ser ainda pior por conta da exposição ao frio e umidade. “Esse tipo de perda auditiva é irreversível”, complementa. 

Frio e umidade nos frigoríficos piora situação dos trabalhadores já expostos ao ruído (Foto: Carne Osso)

No entanto, o Ministério da Saúde alerta para outros  efeitos nocivos, como transtornos neurológicos, digestivos, cardiovasculares e hormonais.

“Não tem discussão: além da perda auditiva, alterações vasculares já são comprovadas, que podem levar a alteração da pressão arterial, tontura, dor de cabeça e mal estar”, finaliza Roberto Ruiz, médico do trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina e consultor de saúde da União Internacional de Trabalhadores da Alimentação (Uita). 

Ficha técnica RB Investiga

Roteiro e apresentação: Isabel Harari

Edição de vídeo: Alex Duvidovich

Mixagem de áudio e desenho de som: Pedro Pena

Assistente de edição e imagens adicionais: Clarissa Palácio

Produção executiva e tratamento de roteiro: Carlos Juliano Barros

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