UM ANO APÓS o resgate de 210 trabalhadores em condições análogas à escravidão na safra da uva no Rio Grande do Sul, as três vinícolas responsabilizadas pelo caso trocaram a mão-de-obra terceirizada por contratos diretos e ampliaram a mecanização no setor de carga e descarga dos parreirais à área industrial.
Parte dos resgatados prestava serviços para as vinícolas por meio de uma empresa terceirizada justamente no setor de carga e descarga. Na época, Salton e as cooperativas Garibaldi e Aurora assinaram Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho comprometendo-se a evitar que a situação se repetisse.
Segundo as empresas, neste ano, a saída para dar conta da demanda extra de trabalho durante a safra foi o remanejamento de trabalhadores de outras regiões ou a contratação direta de funcionários temporários, com contratos de prazo determinado. A operação In Vino Veritas – força-tarefa que reuniu Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul e Polícia Rodoviária Federal – visitou 42 vinícolas na região entre janeiro e fevereiro e identificou apenas três indústrias ainda usando algum tipo de terceirização para o período de colheita.
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‘‘Na maioria das vezes, quem terceiriza, terceiriza única e exclusivamente para reduzir custos”, explica o procurador do trabalho Antônio Bernardo dos Santos Pereira.
“Para as vinícolas, facilita eles mesmos gerenciarem mão-de-obra, em vez de terem que ficar acompanhando, fiscalizando um terceiro”, complementa o auditor-fiscal do trabalho Daniel Engelbrecht.
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As vinícolas também ampliaram a mecanização, reduzindo a contratação de trabalhadores para os postos de carga e descarga de uvas. A Salton confirma 15 vagas a menos neste setor em 2024, e a Aurora, 25. A Garibaldi não especificou em números o impacto da adoção de maquinário. As empresas salientam que a colheita este ano foi menor, devido às condições climáticas adversas – logo, a redução no número de vagas também responde a uma menor demanda.
Salton e Garibaldi afirmam que não houve impacto geral em seus quadros, já que outros setores tiveram aumento de vagas. Aurora salienta que emprega mais de 600 trabalhadores em suas instalações. A íntegra das respostas pode ser lida aqui.
Automatização
As três vinícolas envolvidas no caso estão fazendo carga e descarga majoritariamente por meio de bins – contêineres de plástico que comportam até 500 quilos de uva – carregados por empilhadeiras ou braços mecânicos nas plantas industriais. Eles substituem caixas com capacidade para 20 quilos, antes descarregadas por mãos humanas nas fábricas.
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A Aurora iniciou esse processo há sete anos, chegou ao patamar de 85% da carga transportada dessa forma na safra atual e projeta atingir os 100% na safra 2026/2027. A Salton prevê expansão mais veloz, uma vez que neste ano opera com 75% de mecanização na descarga e promete 100% na próxima safra. A carga e descarga na Garibaldi já está totalmente automatizada.
‘‘É um cenário complexo, mas dá para dizer que há uma tendência de aumento da mecanização”, observa o auditor-fiscal do trabalho Daniel Engelbrecht. ‘‘Vimos várias vinícolas investindo em novos equipamentos, em novas formas de administrar o recebimento da carga’’, completa.
“A mecanização é gradual, todos os anos aparecem equipamentos novos para facilitar o trabalho. O que mudou mesmo foi o sistema de trabalho: não há mais a terceirização e, agora, as contratações são diretas”, conclui Oclair Sanchez, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Bento Gonçalves, que atende também outros municípios da Serra Gaúcha.