Manifestações enviadas para reportagem sobre investimentos da JBS e do Burger King em universidades norte-americanas

Leia as manifestações enviadas pelos pesquisadores norte-americanos e por JBS e associação das indústria alimentícia
 30/04/2024

Leia a reportagem completa

Frank Mitloehner

Repórter Brasil: De acordo com o estudo “The animal agriculture industry, US universities, and the obstruction of climate understanding and policy”, publicado na revista Climatic Change, o UC Davis Clarity and Leadership for Environmental Awareness and Research (CLEAR) Center é um dos locais que recebeu financiamento do Institute Feed Education & Research (IFEEDER), do qual a JBS é membro. Os valores foram doados entre 2018 e maio de 2023. Ao todo, cerca de US$ 3.7 milhões foram doados por organizações da pecuária no período.

Frank Mitloehner: Para deixar claro, a JBS não é uma financiadora do centro de estudos Clear.

A JBS e outras indústrias da carne que financiam o CLEAR Center influenciam nos temas que serão pesquisados e/ou na metodologia e resultados?

Ninguém influência nas pesquisas que saem do meu laboratório ou do centro de estudos Clear. Minha pesquisa passa por uma rigorosa revisão por pares e pela análise pública e se sustenta.

A JBS e outras indústrias da carne financiam sua participação em eventos para falar com tomadores de decisão sobre os impactos da pecuária nas mudanças climáticas?

Não

Segundo o artigo, o senhor nunca contribuiu como autor para um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), raramente ou nunca apresentou em grandes conferências de ciências climáticas e publica com mais frequência em revistas de ciências animais. Como o senhor se posiciona em relação a esse tema?

Nós todos devemos estar atentos às mudanças climáticas e às formas de mitigar as emissões, desde cientistas do departamento animal até engenheiros e sociologistas. Meu trabalho especificamente quantifica e analisa as formas de mitigação das emissões de gases do efeito estufa provenientes da pecuária e tem uma ligação clara com as mudanças climáticas”.

Diferente dos EUA, o problema maior da pecuária no Brasil é o desmatamento. Estudos apontam que mais de 70% das emissões estão ligadas ao agronegócio quando esse quesito é colocado na conta. O município de São Félix do Xingu, no norte do país, é um dos campeões em emissões. Lá temos o maior rebanho de gado do país e também altos índices de desmatamento para abrir pastos para pecuária. A emissão de CO2 no município é maior do que a emissão do Uruguai, Chile, Noruega, Costa Rica e Panamá. O senhor tem conhecimento desses dados?

Eu não estava ciente desse fato.

Olhando para esse cenário, de um país exportador de carne para os Estados Unidos, você considera que a pecuária ainda pode ser a solução para as mudanças climáticas, como já afirmou anteriormente? Se sim, por que?

Nós precisamos reduzir as emissões e alimentar a população em crescimento. A pecuária será parte disso, então nós devemos nos concentrar em mitigar as emissões de gases de efeito estufa dos nossos sistemas alimentares que permitem aos agricultores produzir alimentos de forma sustentável. Como o metano é o principal gás de efeito estufa na produção de gado, reduzi-lo rapidamente tem um impacto significativo em nosso clima. Reduza o suficiente e a pecuária pode absolutamente ser parte da solução para o clima. Mas devemos nos concentrar em reduzir o metano.

O que você quis dizer com reduzir a emissão de metano rapidamente tem “um impacto significativo para o nosso clima”? Que impacto significativo seria esse? Além disso, quanto de redução seria o suficiente para o gado ser parte da solução do clima?

Uma redução de aproximadamente 30% no metano ao longo de 20 anos compensaria outros gases de efeito estufa da pecuária e resultaria em um aquecimento negativo no setor. Isso é ambicioso, mas possível.

Kimberly Stackhouse-Lawson

Em reconhecimento ao impacto da agricultura nas mudanças climáticas, os pesquisadores do AgNext trabalham com membros de toda a cadeia de valor da pecuária para compreender as práticas e sistemas atuais e identificar opções viáveis e escaláveis que possam levar a indústria em direção a um futuro sustentável.

É comum que a indústria e o governo financiem programas, equipamentos e até mesmo pesquisas, no entanto, a pesquisa universitária é independente e objetiva – as fontes de financiamento não têm influência nos resultados dos estudos das AgNext”.

JBS USA

Como parte de suas iniciativas em sustentabilidade, a JBS investe em projetos de pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo. Isso inclui o coinvestimento com universidades e instituições públicas em pesquisa e desenvolvimento para inovações que acelerem novas práticas para agricultores e pecuaristas, tanto para mitigar como para se adaptarem às mudanças climáticas. Acreditamos que esses investimentos são essenciais para um sistema alimentar mais sustentável.

Em relação à ação movida pela Procuradoria-Geral de Nova York, a JBS leva muito a sério seu compromisso com um futuro mais sustentável para a agricultura. Discordamos das medidas tomadas pelo gabinete da procuradora-geral do estado. A JBS continuará a fazer parcerias com produtores, pecuaristas e outros stakeholders em todo o mundo para alimentar uma população crescente, usando menos recursos e reduzindo o impacto ambiental da agricultura. Nossa crença de que a agricultura americana pode ajudar a alimentar o mundo de forma sustentável é inabalável.

Em relação à SBTi, para esclarecer, a JBS não apresentou seu pedido à instituição. A JBS está no processo de definição de metas baseadas na ciência para reduzir e eliminar as emissões de carbono em todos os escopos de nossa cadeia de valor. Divulgamos nossas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) há mais de 13 anos e continuaremos a partilhar nossos resultados de forma transparente através dos nossos relatórios anuais e de sistemas de divulgação reconhecidos, como o CDP.

Em 2021, a JBS se comprometeu a estabelecer metas voluntárias com a Science Based Target initiative (SBTi) e temos trabalhado diligentemente para estabelecer essas metas desde então. Nesse período, a SBTi criou novos requisitos e elaborou metodologias para empresas de base agrícola que alteraram fundamentalmente os entendimentos anteriores entre JBS e SBTi. Embora a JBS esteja avançando com suas metas ambientais fora da estrutura do SBTi, essa mudança não altera os objetivos da JBS na questão climática.

Nossa ambição de estabelecer metas baseadas em dados científicos sólidos não mudou. Estamos trabalhando na definição de metas viáveis e divulgaremos os resultados desses esforços – o nosso plano de ação climática e o roteiro de redução de emissões – num futuro próximo. Para isso, a JBS continuará a fazer parcerias com agricultores, ONGs, universidades, clientes e outras partes interessadas para identificar formas de reduzir as emissões agrícolas, combater a insegurança alimentar global e aumentar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Acreditamos que a agricultura tem um papel essencial a desempenhar na solução das mudanças climáticas e que empresas como a JBS podem e devem ajudar ações coletivas.

AFIA (IFEEDER)

A IFEEDER continua a apoiar instituições públicas, como o CLEAR Center, que têm como objetivo reduzir a insegurança alimentar e o desperdício de alimentos, enquanto utilizam pesquisas científicas para mostrar como o setor de agricultura animal pode ser mais sustentável. Enquanto alguns continuam procurando maneiras de criticar as parcerias entre a indústria de agricultura animal e as instituições públicas, a realidade é que o financiamento para pesquisas públicas nos Estados Unidos diminuiu 32% desde 2002, no entanto, durante o mesmo período de tempo, os compromissos dos Estados Unidos em fornecer alimentos ricos em proteínas e lácteos, nutritivos e acessíveis aos americanos e reduzir as emissões nas fazendas aumentaram. Ao trabalhar com o CLEAR Center, dirigido por um professor renomado mundialmente, credível e especialista em qualidade do ar, os interessados em toda a cadeia de valor alimentar, academia e governo podem ter conversas reais sobre o que é necessário para alcançar os objetivos gerais de clima e segurança alimentar.

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