RB Investiga: pedidos para minerar lítio quadruplicam em um ano no Brasil

Novo episódio do podcast RB Investiga mostra como uma cidade do sertão do Ceará entrou na corrida global pelo lítio, 'metal verde' usado em baterias de smartphones e carros elétricos
Por Marina Rossi | Fotos Fernando Martinho
 15/04/2024

IMENSAS ROCHAS CONTENDO LÍTIO se escondem sob o chão de um pacato município de 18 mil habitantes no sertão do Ceará. “Há quase dois anos a gente tem recebido visitas de empresas canadenses, australianas, de Dubai”, relata a prefeita de Solonópole, Ana Vládia (PSD).

Chamado de “ouro branco”, “metal verde” e “metal do futuro”, e usado como matéria-prima das baterias dos carros elétricos, o lítio é hoje uma das estrelas da transição energética. Por essa razão, países com reservas desse minério viraram alvo de mineradoras. É o caso do Brasil. De 2022 para 2023, os pedidos de mineração envolvendo lítio quadruplicaram, segundo a ANM (Agência Nacional de Mineração).

As reservas brasileiras estão entre as dez maiores do mundo, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos – uma grande oportunidade de liderar ou, ao menos, figurar entre os primeiros competidores na corrida por este metal tão importante em tempos de mudanças climáticas. 

O segundo episódio do RB Investiga, podcast mensal da Rádio Batente, foi até o sertão do Ceará para tentar responder à seguinte pergunta: ter uma das maiores reservas de lítio do mundo faz do Brasil um país em vantagem na corrida mundial por esse cobiçado metal?

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A reserva brasileira está espalhada por diversas regiões, especialmente no nordeste e sudeste do país. Mas, até o momento, apenas o lítio extraído do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é explorado e comercializado. Nos demais locais, as jazidas ainda estão em fase de prospecção e pesquisa. Uma delas fica no interior do Ceará, a cerca de 300 quilômetros de Fortaleza.

O RB Investiga aborda essa etapa inicial de descoberta e estudo sobre a viabilidade da exploração do metal em Solonópole. Ali, a Oceana Lithium, uma mineradora australiana, vem pesquisando a qualidade e quantidade de lítio presentes nessas rochas, primeiro estágio antes da exploração.

Se for atestada a viabilidade da exploração do lítio ali, é bastante provável que outras mineradoras aterrissem na cidade. O movimento pode ser parecido com o que ocorreu no Vale do Jequitinhonha. Embora seja chamado de Vale do Lítio pelos investidores, ainda não perdeu o apelido de Vale da Miséria devido à pobreza do local. 

Por enquanto, todo o lítio explorado no Vale do Jequitinhonha é exportado, retornando ao Brasil em forma de baterias. “Uma das opções para países como o Brasil e outros países produtores de lítio seria também começar a pensar em desenvolver essa parte da indústria, convertendo os concentrados de lítio em produtos químicos de lítio que são os produtos que vão ser comercializados, tanto para outras indústrias quanto para a indústria de veículos elétricos”, afirma o CEO da Oceana Lithium, Cauê Araújo, em entrevista ao podcast da Repórter Brasil. “Seria o ideal, em termos de sustentabilidade”, diz. 

A falta de um plano nacional para exploração e uso do lítio é criticada também pela socióloga e geógrafa Elaine Santos, especialista no tema. Além das complexidades de se atrelar a sustentabilidade à mineração, ela diz que o país corre o risco de ver o cobiçado metal sair daqui como mais uma commodity. 

“Estamos fazendo uma transição energética mercadológica”, afirma Santos. “Nós temos muitos recursos, mas eles vão servir para que os países do norte global façam a sua transição energética”, completa.

Questionado sobre a existência de algum plano para o desenvolvimento de indústrias de baterias no Brasil, o Ministério de Minas e Energia afirmou, por meio de nota, que  “vem trabalhando em iniciativas para a atração de investimentos na cadeia de transformação mineral dos minerais estratégicos para a transição energética em todo o território nacional. Entre eles, a do lítio”. Mas não especificou quais iniciativas seriam essas.

Também sem informar quais, a pasta afirmou que há projetos implantados ou em implantação no país que irão ampliar as reservas oficiais dos minerais estratégicos.

Solonópole, a cidade do lítio no sertão do Ceará

Na cidade de Solonópole, no sertão do Ceará, a presença do lítio vem atraindo mineradoras globais à região e mexendo no dia-a-dia da cidade de apenas 18 mil habitantes. Mineração ainda não começou e está em fase de pesquisas. Minério é usado na fabricação de baterias de celular e carros elétricos. Pedidos de pesquisa e exploração do metal quadriplicam no Brasil em um ano (Fotos: Fernando Martinho/Repórter Brasil)


Sobre o RB Investiga

O RB Investiga é um podcast mensal, disponível no canal do Youtube da Repórter Brasil e nas principais plataformas de áudio. 

Ficha técnica 

Apuração, roteiro e apresentação: Marina Rossi

Edição de vídeo: Alex Duvidovich

Mixagem de áudio e desenho de som: Pedro Pena

Imagens: Fernando Martinho, Alex Duvidovich e Clarissa Palácio

Produção executiva e tratamento de roteiro: Carlos Juliano Barros

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No interior do Ceará, o município de Solonópole pode entrar na rota da extração do lítio brasileiro. Pedidos de pesquisa e exploração do metal quadriplicam no Brasil em um ano (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)