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NUMA AUDIÊNCIA na Câmara dos Deputados realizada em maio de 2023, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, despertou a ira de um dos principais líderes da bancada ruralista, o deputado federal Evair Vieira de Melo (PP-ES), ao definir como “ogronegócio” uma “pequena parte [do agro] que resiste à mudança, que resiste às transformações”.
Popularizado por Marina Silva, o conceito cai como uma luva para descrever os produtores rurais envolvidos com infrações ambientais, trabalho escravo, violência no campo e até com a tentativa de golpe de estado em 08 de janeiro de 2023. Não à toa, é o título escolhido para o sexto episódio do RB Investiga, videocast da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil.
Apresentado pelo jornalista Daniel Camargos, o programa faz um resumo da série de reportagens “Ogronegócio: milícia e golpismo na Amazônia”. Resultado de dezenas de entrevistas e de uma viagem de 6.000 quilômetros entre o norte de Mato Grosso e o sul do Pará, o especial desvenda a aliança entre o bolsonarismo e a ala violenta do agronegócio na maior floresta do mundo.
A rota foi baseada na agenda de encontros do ex-secretário especial de Assuntos Fundiários de Jair Bolsonaro (PL), Luiz Antonio Nabhan Garcia. Homem de confiança do ex-presidente e um dos principais expoentes da União Democrática Ruralista (UDR), entidade linha-dura do agro, Nabhan teve papel decisivo na paralisação da reforma agrária nos quatro anos do mandato de Bolsonaro.
Entre audiências de gabinete e viagens, os 610 compromissos oficiais de Nabhan revelam como ele abriu as portas de Brasília para políticos e produtores rurais acusados de ataques aos povos do campo, como um conhecido fazendeiro de Anapu (PA) investigado por esconder o assassino da missionária norte-americana Dorothy Stang, executada em 2005.
Nabhan também recebeu produtores multados por desmatamento e flagrados por trabalho escravo. Alinhou-se ainda a empresários investigados por financiar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, como Antônio Galvan, ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), e outros indiciados de Novo Progresso, Xinguara, Marabá e Redenção, também no Pará.
Durante os quatro anos no cargo, o secretário de Bolsonaro buscou facilitar a vida de empresários acusados de violações. Em discurso a sojeiros de Mato Grosso encrencados na Justiça por apropriação indevida de terras públicas, por exemplo, disse ser possível “regularizar o que está irregular, às vezes”.
Já contra os sem-terra, indígenas e quilombolas, Nabhan encampou um discurso belicoso. Em tese, essas populações deveriam ser atendidas por sua secretaria, mas foram tratadas como “invasoras de terras” e deixaram de ser recebidas pelo governo.
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Sobre o RB Investiga
Produção mensal da Rádio Batente, a central de podcasts da Repórter Brasil, o programa está disponível nas principais plataformas de áudio e no Youtube.
Ficha técnica
Pesquisa, roteiro e apresentação: Daniel Camargos
Edição de vídeo: Alex Duvidovich
Fotografia e assistência de edição: Bruna Damin
Tratamento de roteiro: Carlos Juliano Barros, Diego Junqueira e Paula Bianchi
Imagens adicionais: Fernando Martinho
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