DOIS CANDIDATOS a vereador em Florianópolis (SC) e o ex-prefeito da cidade, Gean Loureiro, foram advertidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por “assédio eleitoral” em reuniões com empregados de uma loja da Fort Atacadista, na capital catarinense. A rede de supermercados conta com 60 unidades, em sete estados.
Segundo denúncia enviada ao MPT por funcionários da empresa, Thiago Chaves (Novo), Adriano da Pesca (União Brasil) e o ex-prefeito Loureiro realizaram “atos político-partidários”, com apresentação de propostas e distribuição de material de campanha, dentro de um estabelecimento do grupo atacadista, entre o fim de setembro e o começo de outubro.
Contatados pela reportagem, os três políticos disseram não ter cometido irregularidades. Em nota bastante similar, Loureiro e Adriano da Pesca afirmaram que o segundo fez apenas uma “apresentação de propostas”, e que não houve pressão sobre os trabalhadores. Ambos também garantiram que vão seguir as recomendações do MPT.
Já Chaves se disse “surpreso” e informou que não ocorreu “qualquer ato de importunação ou assédio perante funcionários de qualquer empresa”. O Grupo Pereira, proprietário da marca Fort Atacadista, afirmou ser uma empresa apartidária e acreditar no “direito de cada colaborador exercer livremente sua escolha de voto”.
O procurador do MPT em Santa Catarina, Sandro Eduardo Sardá, expediu recomendações aos políticos e à rede de supermercados para que interrompessem a prática de “influenciar o livre direito de voto dos empregados”.
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Pedidos de voto
Segundo os funcionários, na tarde de 24 de setembro, o candidato do Novo esteve na unidade da rede no bairro de Canasvieiras, na capital catarinense. Operadores de caixa foram chamados por seus superiores para uma reunião na sala de treinamento da loja.
Durante o encontro, com duração aproximada de 15 minutos, Thiago Chaves pediu aos cerca de 20 funcionários presentes que votassem nele, apresentou suas propostas, entregou materiais de campanha e solicitou que os distribuíssem a amigos, familiares e outros empregados. Além disso, denunciam os trabalhadores, chegou a prometer a construção de um ponto de ônibus em frente ao estabelecimento, caso fosse eleito.
Na tarde de 1º de outubro, outra reunião foi realizada na mesma unidade do Fort Atacadista, dessa vez no refeitório, com o ex-prefeito Gean Loureiro e Adriano da Pesca. Ambos pediram votos ao candidato a vereador da União Brasil, que distribuiu materiais de campanha.
De acordo com os trabalhadores, também foram realizadas reuniões com funcionários do turno da manhã. Durante vários dias, os “santinhos” permaneceram disponíveis em diversos setores do estabelecimento, inclusive nos caixas e no SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), por onde também circulam clientes do supermercado.
O que dizem os candidatos
Em mensagem enviada à Repórter Brasil, o candidato Thiago Chaves afirmou que recebeu a recomendação do MPT “com surpresa” e negou as acusações. “Esclareço que nunca realizei qualquer ato de importunação ou assédio perante funcionários de qualquer empresa. Muito pelo contrário. Sempre defendi a liberdade de expressão e de pensamento como pilar de uma democracia sólida”, escreveu.
Chaves disse, ainda, que contatou o órgão “para atender às recomendações recebidas e evitar qualquer tipo de mal-entendido. Também me coloquei à disposição do Ministério Público do Trabalho para prestar todos os esclarecimentos que se fizerem necessários”.
Em nota, o ex-prefeito Loureiro afirmou que “em nenhum momento houve qualquer interferência ou pressão sobre os trabalhadores”. O texto prossegue dizendo que “quanto a recomendação apresentada não existe motivo para não acatar pois continuarei cumprindo o que determina a legislação!”
Adriano da Pesca disse que “sua presença na empresa se deu apenas para uma apresentação de propostas, assim como todos os outros candidatos a vereador e prefeito têm feito pela cidade, em empresas e comércios. Não houve qualquer irregularidade no ato”. Ele também garantiu que vai seguir a recomendação do MPT.
Já o Grupo Pereira, proprietário do Fort Atacadista, afirmou à reportagem ser “uma empresa apartidária, sem qualquer envolvimento político, e reforça seu compromisso com a ética, respeito e imparcialidade em todas as suas ações”. A nota conclui dizendo: “Acreditamos na democracia e no direito de cada colaborador exercer livremente sua escolha de voto”.
MPT faz recomendações
Nas recomendações enviadas a Thiago Chaves, Adriano da Pesca e Gean Loureiro, o procurador Sandro Eduardo Sardá pede que os políticos se abstenham de “realizar reuniões, distribuições de material de campanha eleitoral ou quaisquer atos de natureza político-partidária” dentro da Fort Atacadista “ou no interior de qualquer outra empresa”.
O MPT solicita também que não estimulem empregadores a adotar “medidas que se caracterizem como assédio eleitoral” contra seus funcionários, evitando qualquer iniciativa para “influenciar o livre direito de voto”.
Já no documento enviado à rede Fort Atacadista, Sardá recomenda que o grupo se abstenha de “autorizar a realização de quaisquer atos de natureza política partidária, nos locais ou ambientes de trabalho, notadamente a realização de reuniões com os candidatos ou ex-candidatos e os seus empregados, bem como a distribuição de materiais de campanha eleitoral no pleito de 2024 e em todos as eleições”.
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