Uma investigação da Repórter Brasil revelou que informalidade, jornadas exaustivas e condições ruins de alojamento ainda predominam nas fazendas de café da Colômbia, mesmo entre propriedades que ostentam selos internacionais de certificação socioambiental. Na fazenda La Arboleda, os banheiros não tinham chuveiros, a água saía diretamente do cano e não era possível ajustar a temperatura. Os alojamentos eram improvisados em galpões e tinham pouca ventilação. A propriedade ostentava uma placa de certificação da Rainforest Alliance.
As fazendas têm interesse nesses selos porque, em teoria, indicam que as fazendas foram vistoriadas e que foram confirmadas as “boas práticas” socioambientais ali oferecidas. A Rainforest Alliance reconheceu que a La Arboleda é certificada pela organização. Em 2024, segundo o selo, uma auditoria foi realizada na propriedade e já havia detectado inconformidades relacionadas a contratos de trabalho e acomodações. Após tomar conhecimento dos fatos apresentados pela Repórter Brasil, a Rainforest Alliance disse que faria uma nova auditoria no local.
Os detalhes deste caso e de toda a investigação podem ser lidos no relatório: Melhor café do mundo? Alojamentos precários, longas jornadas e informalidade na colheita de café da Colômbia (disponível em português, inglês e espanhol).
A equipe da Repórter Brasil percorreu regiões produtoras nos estados de Antioquia e Huíla – dois dos maiores polos cafeeiros do país – e encontrou trabalhadores sem contrato formal, morando em quartos escuros, mal ventilados e com banheiros sem chuveiro.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a informalidade no setor pode ultrapassar 80%. Além disso, longas jornadas e pagamento por produção colocam os colhedores em situação de vulnerabilidade, com relatos de salários abaixo do mínimo nacional.
A investigação também levanta alertas sobre os riscos de descumprimento da nova legislação da União Europeia (EUDR), que proíbe a importação de produtos associados ao desmatamento e violações trabalhistas. A lei deve entrar em vigor em dezembro de 2025.
A investigação contou com a participação do grupo de pesquisa colombiano Voces por El Trabajo e com o apoio da Coffee Watch.