“NÃO MELHOROU. NÃO MELHOROU NADA”. A resposta da liderança indígena Maria Leusa Munduruku veio rápida e dura, depois que o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, perguntou se a situação do território dela, do povo Munduruku, “não tinha melhorado com o governo Lula”. O círculo de assessores que acompanhava o diálogo silenciou na hora. O constrangimento foi imediato.
Pouco antes, Maria Leusa e Alessandra Munduruku descreviam garimpo, contaminação por mercúrio e a pressão de hidrovias sobre o Tapajós. Falavam sem pausa. Disseram que estavam ali com crianças no sol, quando deveriam estar protegendo o território. A cobrança era direta: a revogação do Decreto 12.600/2025, interrupção de obras que transformam rios em corredores de soja e presença de Lula — não de intermediários — na conversa.
A CEO da COP30, Ana Toni, apareceu e dialogou com Maria Leusa e Alessandra. Foi ela quem propôs levar Corrêa do Lago ao portão. Ele chegou escoltado. A conversa foi dura.
Corrêa do Lago tentou retomar o diálogo perguntando pelo bebê que Maria Leusa carregava num dobuy (palavra em munduruku para o que os não indígenas chamam de sling). Quis saber o nome e pediu para segurá-lo. Ela entregou a criança. O gesto mudou o clima o suficiente para que as lideranças aceitassem seguir para uma área reservada, onde a negociação avançou. Minutos depois, a entrada da Blue Zone foi liberada — após quatro horas de bloqueio.
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A foto nasceu dessa cena: o presidente da COP30 cercado por policiais, segurando o bebê de uma liderança que acabara de lhe dizer que a situação “não melhorou nada”.
A equipe da Repórter Brasil acompanhava o grupo desde a madrugada, quando partiram da Aldeia COP rumo ao Parque da Cidade. Assim que a marcha chegou à entrada principal, os portões estavam trancados e, atrás deles, policiais da Força Nacional, Exército e segurança da ONU. As lideranças disseram: “Se está fechado para nós, ninguém entra”. O bloqueio era uma crítica ao governo do presidente Lula, que, segundo elas, permite hidrovias, portos privados, a Ferrogrão e créditos de carbono sem consulta prévia, como exigem as normas internacionais e a legislação nacional.
O protesto tratava de algo maior que o acesso à COP: denunciava que o rio Tapajós — já impactado por dragagens, barcaças e mercúrio — está sendo transformado em rota industrial sem considerar o próprio rio ou quem vive dele.

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