DE BELÉM (PA) — O CEO da Toyota para a América Latina e Caribe, Rafael Chang, afirmou desconhecer o caso do trabalhador que teria sido espancado e amarrado em uma carvoaria do Maranhão ligada à cadeia de fornecedores da montadora. “Não sei desse caso”, respondeu o executivo ao ser questionado presencialmente pela Repórter Brasil. Chang saiu andando em seguida.
A declaração foi dada na tarde desta terça-feira (11), durante a COP30, em Belém. O executivo participava de um painel organizado pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), no estande da CNI (Confederação Nacional da Indústria) montado na Blue Zone da conferência.
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Chang estava ao lado de representantes da Volkswagen Caminhões e Ônibus e da Scania. Ao ouvir uma pergunta sobre a importância da conferência feita pelo presidente da Anfavea, Igor Calvet, responsável pela mediação da mesa, Chang disse que a COP30 vai “reforçar os compromissos com o meio ambiente”.
Relembre o caso
Em setembro, a Repórter Brasil revelou que uma carvoaria em Mirador, no interior do Maranhão, mantinha trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Segundo o relatório de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), um deles teria sido espancado e amarrado por um gerente, que depois teria exibido a foto da agressão a outros funcionários da carvoaria, como forma de intimidação.
O estabelecimento era ligado a um empresário incluído diversas vezes na chamada Lista Suja do trabalho escravo, cadastro oficial do governo com os dados de empregadores responsabilizados por auditores fiscais do MTE por essa prática.
Relatórios oficiais, notas fiscais e dados alfandegários mostram que o carvão produzido na carvoaria abastecia a Viena, siderúrgica com unidades em Açailândia (MA) e Sete Lagoas (MG).
Entre fevereiro e setembro de 2022, um ano após a fiscalização do MTE que resgatou os trabalhadores, a Viena exportou ferro-gusa para a Toyota Motor North America, nos Estados Unidos. Ao menos quatro embarques foram realizados.

Procurada à época da publicação, a Toyota do Brasil afirmou que suas operações são independentes das unidades da montadora em outros países e que não tem ingerência sobre o quadro de fornecedores da Toyota Motor North America. Já a Toyota dos Estados Unidos, mesmo após solicitar prorrogação de prazo, não respondeu aos questionamentos.
A siderúrgica Viena disse repudiar qualquer prática de exploração de trabalhadores e afirmou ter descredenciado os fornecedores ligados ao proprietário da carvoaria, após tomar conhecimento das fiscalizações. Já a defesa do empresário declarou que ele “nunca compactuou com tais práticas” e que “não há qualquer condenação criminal” contra ele.
O Ministério Público do Trabalho conduz negociação de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a siderúrgica Viena. O compromisso prevê medidas de diligência em direitos humanos, rastreabilidade da cadeia do carvão e reparação às vítimas.
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