DE BELO HORIZONTE (MG) — Preso preventivamente pela PF (Polícia Federal) na quarta-feira (17) e apontado como o “homem da mala [de dinheiro]” do esquema investigado pela Operação Rejeito, Felipe Lombardi Martins trabalhou de 2019 a 2021 como assessor do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a PF, ele aparece em mensagens e documentos, entre junho do ano passado e janeiro deste ano, como responsável por transportar propinas e movimentar recursos do esquema no setor de mineração que fraudava licenças ambientais em Minas Gerais.
Pacheco não é investigado pela Operação Rejeito. Contudo, já teve relação política com outro preso, o ex-deputado estadual pelo MDB João Alberto Lages, acusado de articular o esquema e de vazar informações de operações policiais, segundo a PF. Lages fez campanha em 2014 para deputado estadual em dobradinha com Pacheco, então candidato a deputado federal. Pacheco declarou à Justiça Eleitoral uma contribuição de R$ 67 mil à campanha de Lages — o maior doador declarado.
De acordo com a investigação, o grupo contava com servidores públicos para manipular processos de licenciamento e alterar pareceres técnicos. Em paralelo, criava empresas de fachada, simulava contratos e usava “laranjas” para movimentar recursos ilícitos. A Justiça determinou 22 prisões preventivas, 79 buscas e o bloqueio de R$ 1,5 bilhão em bens.
Felipe Lombardi aparece em mensagens interceptadas como operador financeiro do grupo. Para a PF, ele seria o responsável por gerir planilhas de aportes, buscar contas de terceiros para depósitos e entregar dinheiro em espécie a servidores. Em uma das transações rastreadas, ele teria repassado R$ 300 mil a um escritório de advocacia em novembro de 2024 — o dinheiro seria parte de uma propina total de R$ 3 milhões.
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Ex-presidente do Senado, Pacheco é o nome preferido de Lula (PT) para disputar o governo de Minas em 2026. O petista já expressou em diversas ocasiões a preferência pelo senador, e tem feito aparições públicas recorrentes ao lado do aliado em eventos em Minas Gerais.
Em nota enviada à Repórter Brasil, Pacheco afirmou que conhece João Alberto Lages, desde 2014, em razão da militância político-partidária. “Desenvolvemos uma amizade nesse período, quando ele também se tornou deputado. Conheci Felipe Lombardi na mesma época, por meio da sua relação com o ex-deputado e, por um período, ele trabalhou na minha equipe do Senado, até se desligar para se dedicar à atividade privada, cuja natureza não tive conhecimento”.
Os advogados de João Alberto Lages informaram que vão se manifestar apenas nos autos do processo. “Em respeito ao Poder Judiciário e ao Ministério Público Federal”, disseram em mensagem de Whatsapp. A reportagem tentou localizar a defesa de Felipe Lombardi, mas ele ainda não tem advogado constituído para representá-lo na ação no Tribunal Regional Federal da Sexta Região (TRF-6).

Diretor da ANM e ex-superintendente da PF também foram detidos
A Operação Rejeito também prendeu outros nomes de peso. Entre eles, o diretor da ANM (Agência Nacional de Mineração), Caio Mário Seabra Filho, e o ex-superintendente da PF em Minas, Rodrigo Teixeira, que chegou a ser diretor de Polícia Administrativa da corporação em Brasília, o número dois da instituição.
Os dois foram indicados para cargos no governo federal pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG). Em entrevista concedida nesta segunda-feira (22), em Belo Horizonte, durante um evento voltado para a mineração, Silveira disse ter ficado surpreso com as prisões e defendeu “punição exemplar” aos envolvidos.
“Ficamos todos surpresos. É importante ressaltar que os dois nomeados no governo federal foram afastados. O primeiro, um delegado com 25 anos de serviço, apresentava um histórico profissional impecável, tendo inclusive atuado na superintendência da PF e cumprido os trâmites legais da governança da instituição em que servia. O segundo, em atuação desde 2020 na ANM, era um técnico com reconhecida qualificação e havia sido indicado para diretor. O afastamento de ambos demonstra a prioridade das instituições sobre as pessoas, visando garantir que a justiça cumpra sua função”, disse.
O empresário Alan Cavalcante do Nascimento é apontado pela PF como chefe do esquema. A Repórter Brasil mostrou em reportagem que ele comprou imóveis vizinhos a duas juízas que analisavam processos contra ele, em ato interpretado pelos investigadores como tentativa de intimidação.
Também foi detido Gilberto Horta. Em 2024, ele disputou a presidência do Crea-MG com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), conforme revelou a Repórter Brasil.
Na última sexta-feira (20), a Justiça Federal determinou a transferência de três dos chefes do grupo para o Presídio Federal de Campo Grande (MS), em razão da periculosidade atribuída ao caso e do risco de obstrução processual. Segundo a PF, é a primeira vez que responsáveis por crimes ambientais são enviados a um presídio federal de segurança máxima.
Nota da redação: inicialmente, a Repórter Brasil havia publicado a informação de que a doação de Rodrigo Pacheco para João Alberto Lages aconteceu nas eleições de 2018. A contribuição foi feita no pleito de 2014. O texto foi corrigido às 11h58
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