Justiça

Pena de assassino de irmã Dorothy é confirmada por júri popular

Rayfran das Neves Sales, conhecido como Fogoió, terá que cumprir 27 anos de prisão. Alegação de problemas de saúde adia novo julgamento de Vitalmiro Bastos de Moura, apontado como um dos mandantes do crime, para 2008
Por Iberê Thenório
 23/10/2007
Saiba o que aconteceu com cada um dos envolvidos no assassinato de Dorothy Stang
Regivaldo Pereira Galvão (Taradão)
Mandante. Ainda não foi julgado e aguarda em liberdade. Vem se utilizando de recursos no Supremo Tribunal Federal para alongar seu processo.
Vitalmiro Bastos de Moura (Bida)
Mandante, está preso. Condenado inicialmente a 30 anos de reclusão, aguarda segundo julgamento, previsto para 2008.
Amair Feijoli da Cunha (Tato)
Intermediário, está preso. Foi julgado em abril de 2006 e vai cumprir 18 anos de prisão.
Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo)
Pistoleiro, está preso. Condenado a 17 anos de reclusão em dezembro de 2006.
Rayfran das Neves Sales (Fogoió)
Pistoleiro, está preso. Foi condenado a 27 anos de prisão em dois julgamentos, o último em outubro de 2007.

O tribunal do júri popular da 2ª Vara Penal da Comarca de Belém (PA) manteve por unanimidade, após 14 horas de julgamento, a pena de 27 anos de prisão ao pistoleiro Rayfran das Neves Sales, conhecido como Fogoió. Assassino confesso da missionária norte-americana Dorothy Stang, ele já havia sido condenado em dezembro de 2005 pelo crime cometido em fevereiro daquele mesmo ano no município de Anapu (PA). Mas como a duração da pena era superior a 20 anos, teve direito a um novo julgamento, que ocorreu nesta segunda-feira (22).

Durante seu depoimento, Rayfran assumiu a autoria do crime, mas alegou que matou a freira em "legítima defesa", pois teria sido ameaçado por ela. O réu também negou que o crime fosse encomendado pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão. O pistoleiro que auxiliou Rayfran na morte da missionária, Clodoaldo Batista, foi ouvido como testemunha de defesa e apresentou tese semelhante à do réu.

Segundo José Batista Gonçalves Afonso, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e auxiliar dos advogados de acusação, as declarações dos pistoleiros são uma tentativa clara de inocentar os fazendeiros mandantes do crime: "Mais uma vez a preocupação deles foi a de livrar a cara dos mandantes. Mas não foi apresentado nenhum fato novo. Os jurados não aceitaram essa tese. É a décima quarta versão dele e do Clodoaldo, e o placar do julgamento é de sete a zero. A possibilidade disso servir como novas provas nos próximos julgamentos é praticamente nula."

Um novo julgamento de Bida aconteceria na próxima quinta-feira (25), mas foi adiado para 2008 porque o fazendeiro alegou problemas de saúde. Em maio deste ano, Bida foi condenado a 30 anos de reclusão em regime fechado. Assim como Rayfran, por conseqüëncia, ele tem direito a mais um júri.

Regivaldo, o outro fazendeiro envolvido no assassinato, ainda não foi julgado, pois conseguiu arrastar seu processo com recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). Também já foram condenados pelo assassinato Clodoaldo Batista, pistoleiro, que cumprirá 17 anos de prisão e Amair Feijoli da Cunha, intermediário, cuja pena é de 18 anos de reclusão.

Dorothyfoi morta com seis tiros em 12 de fevereiro de 2005 no município de Anapu, a sudoeste de Belém. Ela auxiliava um Programa de Desenvolvimento Sustentável (PDS) com famílias assentadas pela reforma agrária.

Trabalho escravo
Além do envolvimento na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, Bida e Regivaldo também foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por submeter trabalhadores à condição análoga a de escravo, frustração de direito trabalhista, aliciamento de trabalhadores e falsificação e omissão de informação em documento público.

Em uma operação de fiscalização realizada entre os meses de junho e julho de 2004, a Delegacia Regional do Trabalho do Pará (DRT-PA) libertou 20 pessoas escravizadas na fazenda Rio Verde, de propriedade de Bida. O nome do fazendeiro também aparece na "lista suja" do trabalho escravo, cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que relaciona empregadores que foram flagrados cometendo esse crime.

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