
Na última quarta-feira (3), a colheita de laranja voltou ao centro do combate ao trabalho escravo. Em operação do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), agentes resgataram 12 pessoas em uma fazenda em Buri, interior de São Paulo.
O caso expõe uma realidade antiga: dados da Repórter Brasil mostram que desde 2008 mais de 260 pessoas foram resgatadas de trabalho escravo em fazendas de laranja no Brasil. Destas, 67% estavam no chamado cinturão citrícola, região que abrange os estados de Minas Gerais e São Paulo, os maiores produtores da fruta no país. São Paulo, origem de 76% da produção nacional, responde sozinho por 42% dos resgates.
As três gigantes da produção cítrica do Brasil (Citrosuco, Cutrale e LDC) já foram investigadas em casos de trabalho escravo. Citrosuco e Cutrale já integraram a Lista Suja, mas foram posteriormente retiradas do cadastro. A Repórter Brasil já publicou um Educa sobre o tema.
Os dados são preocupantes, sobretudo porque a produção de laranja é uma importante atividade econômica nacional: 75% do suco de laranja consumido ao redor do mundo é brasileiro, o que faz do país o maior exportador da fruta desde 1990.
Os Estados Unidos são o principal país comprador do suco de laranja brasileiro – mais de 40% da produção é destinada ao mercado estadunidense, gerando uma receita de US$ 1,2 bilhão ao ano ao Brasil. No entanto, o setor sofreu o impacto das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump. Em novembro, o governo Trump recuou em todas as medidas do “tarifaço”, e o setor citrícola foi um dos principais beneficiados. Embora tenha ficado de fora dos 40% adicionais aplicados a diversos produtos de exportação brasileiros, a tarifa global de 10% imposta pela Casa Branca foi suficiente para gerar um risco de R$ 1,54 bi em perdas para o setor.
Foto: Marcos Wieske/Repórter Brasil