ALECY ALVES
Da Reportagem
Em Mato Grosso, estado que ocupa o segundo lugar do ranking da exploração do trabalho escravo, somente neste ano 366 trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão.
Nos últimos 11 anos, 4.494 empregados foram libertados por ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) em propriedades mato-grossenses vivendo em ambiente e cumprindo jornada de trabalho que caracterizavam mão-de-obra escrava. Esse número representa 22,5% do total de libertações ocorridas nesse período no país – cerca de 20 mil, segundo dados do MPT.
Para o vice-coordenador da Coordenadoria Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil, procurador Erlan José Peixoto do Prado, os interesses econômicos e a falta de solidariedade para com o próximo são as principais causas da existência do trabalho escravo.
Erlan Prado, que esteve ontem em Cuiabá para ministrar palestra em um evento jurídico, usou o exemplo de uma fazenda do município de Querencia, onde ano passado trabalhadores foram encontrados em condições subumanas, para comparar o tratamento dispensado aos empregados era o mesmo que a animais.
De acordo com o procurador, lá o boi bebia água corrente e ficava sob abrigos especiais contra o sol e chuva. Já os trabalhadores, segundo Erlan Prado, não tinham acesso à água potável e faziam suas refeições sob os abrigos do rebanho bovino.
Na avaliação do vice-coordenador da Erradicação do Trabalho Escravo, muitos trabalhadores não têm noção dos seus próprios direitos, por isso, admitem ser explorados. Individualmente, observou Prado, não há como atuar, mas coletivamente, o MPT vem intensificando as ações.
No caso de Mato Grosso, além das ações dos órgãos federais, está sendo esperado o plano estadual de erradicação do trabalho escravo. Esse plano, que começou a ser discutido em maio deste ano, era para ter ficado pronto em 30 dias.
Já em nível nacional, informou ele, algumas alternativas estão sendo discutidas para ajudar os trabalhadores libertados, como forma de evitar que retornem às condições de escravo por necessidade econômica.
Além do seguro desemprego, que já vem sendo pago desde 2003 nos mesmos moldes comum (em três parcelas), está sob análise a proposta de sua inserção no Bolsa Família.