Safra de cana atrai trabalho escravo em São Paulo

 24/05/2007

Chico Siqueira

Um grupo de 40 trabalhadores, aliciados no Maranhão para trabalhar na safra da cana das usinas paulistas, foi encontrado vivendo em condições subumanas na cidade de Piacatu, na região de Araçatuba. No dia 18, fiscais do Ministério do Trabalho enviaram de volta 43 migrantes, também do Maranhão, que trabalhavam em condições de semi-escravidão no plantio da cana na região de São José do Rio Preto.

Ontem, avisado pela prefeitura de Piacatu, o procurador Gustavo Filipe Garcia, do Ministério Público do Trabalho, flagrou as condições dos trabalhadores. 'É difícil acreditar que em pleno século 21, no Estado mais rico da nação, ainda aconteça esse tipo de situação. É revoltante', afirmou.

O grupo foi trazido por José Siqueira da Rocha com a promessa de emprego com carteira assinada, mas, quando chegou, no domingo passado, não havia trabalho nem casas. Dez trabalhadores foram alojados numa pequena casa de madeira e 30, em um imóvel de cinco cômodos sem energia elétrica, móveis e condições de higiene. Segundo a Polícia Civil, as casas não comportam mais de 12 pessoas. O grupo dormia no chão e se alimentava de comida entregue pela vizinha de uma das casas.

'Pagamos R$ 190 para trabalhar em São Paulo, mas não encontramos emprego nem casa decente para morar', disse José Raimundo Ribeiro, de 35 anos, que saiu de Itapecurumim. Segundo ele, um outro homem, chamado Romildo, aliciou o grupo no Maranhão e cobrou R$ 190 de cada um pela viagem até São Paulo.

Rocha, que está sendo indiciado por aliciamento, disse que foi enganado por Romildo e não sabia que aliciamento é crime, com pena de 1 a 3 anos de prisão. Segundo o procurador, Rocha tem até amanhã para enviar os trabalhadores para o Maranhão.

O caso será encaminhado para a Polícia Federal. Como os trabalhadores não tinham sido contratados, nenhuma usina foi autuada, mas Garcia informou que o Ministério Público do Trabalho está de olho nas empresas para evitar a contratação irregular de migrantes. As usinas paulistas devem moer 330 milhões de toneladas de cana e faturar R$ 30 bilhões na safra 2007/2008.

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