Reunião marcada para a quarta-feira (26) foi adiada por falta de quórum; apenas 3 vereadores compareceram. Na porta da Câmara, pelo menos 150 pessoas aguardavam um posicionamento sobre o andar das investigações
Por Guilherme Zocchio
São Paulo (SP) — Mesmo com uma manifestação em frente à Câmara Municipal de São Paulo (SP) pressionando os vereadores, a sessão de quarta-feira (26) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os incêndios nas favelas da cidade precisou ser adiada por falta de quórum. Três vereadores do total de seis que compõem a comissão não compareceram. Esta é a quinta reunião postergada em razão da ausência dos vereadores desde que a CPI foi instalada.
Segundo o Corpo de Bombeiros de São Paulo, já houve incêndios em pelo menos 69 favelas na cidade desde o começo do ano.
Não compareceram os vereadores Ushitaro Kamia (PSD), Aníbal de Freitas (PSDB) e Souza Santos (PSD). Estiveram presentes apenas o presidente da Comissão, Ricardo Teixeira (PV), a vice-presidente, Edir Sales (PSD), e o vereador Toninho Paiva (PR). Desde maio, quando a CPI foi instalada, até agora, somente quatro das nove sessões convocadas ocorreram; as demais foram adiadas por falta de quórum.
O presidente da CPI Ricardo Teixeira foi questionado pela Repórter Brasil se a ausência recorrente dos vereadores que compõe a CPI é um sinal de descaso. “A pergunta não é para mim, eu estou aqui”, ele disse.
Ricardo também disse que é difícil atribuir ao acaso tantos incêndios em favelas de São Paulo. “Coincidência, na minha cabeça, não existe. Por isso que eu propus a CPI e a câmara aceitou investigar esses incêndios. Propusemos isso no final do ano passado, mas a gente já vem trazendo informações dos últimos dois, três anos”, afirma.
Protesto
Do lado de fora da Câmara, quase 150 pessoas, a maioria moradores de comunidades incendiadas, protestavam para pressionar o legislativo a prosseguir com as investigações. A sessão prevista para essa semana ouviria os subprefeitos dos distritos de Jabaquara, Vila Prudente e São Miguel Paulista – que compareceram, mas, em razão da ausência dos vereadores, não prestaram depoimento.
Milton Salles, morador há 8 anos da comunidade do Moinho, incendiada no último dia 17, acredita que o Legislativo tem uma atitude desrespeitosa diante da população de São Paulo. “Há interesse político em favorecer os donos do poder, pelo enriquecimento da especulação imobiliária, que traça um plano de higienização da cidade”, diz. Para ele, a postura dos representantes também mostra “total falta de respeito aos direitos constitucionais do cidadão”.
Prestar contas à população
Os manifestantes foram impedidos de entrar no prédio da Câmara por falta de espaço na sala onde ocorreria a reunião da CPI. Enquanto os vereadores discutiam se a reunião deveria ser adiada, muitas pessoas ainda esperavam no térreo, em frente à entrada principal.
Assim que decidiram que o quórum não era suficiente, uma representante das comunidades que estava presente na sala pediu para que os próprios políticos explicassem o ocorrido aos que esperavam em frente à Câmara. “Acho que os vereadores que estão aqui deveriam descer para prestar contas à população que está lá embaixo”, sugeriu.
O presidente da CPI desceu então até o auditório na parte externa do prédio, onde os manifestantes o aguardavam, e informou que a reunião não ocorreria por falta de quórum, mas que a CPI “vai seguir com transparência”. Vaiado, ele saiu pelos fundos e não prestou outros esclarecimentos.
Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP/SP), classificou a Comissão como “farsa”. “A cidade de São Paulo até antes de ontem estava em chamas, e a CPI, que é um instrumento para verificar se há relação dos incêndios com a especulação imobiliária, não funciona, não dá quórum. Então, é uma farsa”, afirmou.
Os organizadores do protesto na quara-feira marcaram uma nova reunião com o objetivo de discutir a situação das comunidades incendiadas para o próximo domingo (30), às 14h, na favela do Moinho, na região de Campos Elíseos, centro de São Paulo.