RECIFE. Um dos maiores produtores de etanol do mundo, o Brasil tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito às relações de trabalho na área canavieira. Pelo menos em Pernambuco, que aparece como o estado recordista no número de lavradores resgatados em situação análoga ao trabalho escravo. Este ano, eles somavam 369 até julho. O número já é maior do que o total de 2008, quando 309 cortadores de cana foram retirados de engenhos.
– Ainda estamos na entressafra, a tendência deste número é aumentar – afirmou Rosa Maria Campos Jorge, presidente do Sindicato Nacional de Auditores Fiscais do Trabalho, que esteve ontem no lançamento da campanha "Quem procura trabalho pode encontrar escravidão".
Rosa atribuiu o aumento da mão de obra em situação análoga à escrava ao crescimento do setor sucroalcooleiro, com mais de 20 usinas no estado. No ano passado, o maior número de resgates (867) foi em Goiás. Este ano, o Ministério do Trabalho percorreu 157 propriedades rurais no país, liberou 1,482 mil trabalhadores, lavrou 1,677 mil autos e estipulou R$ 2,487 milhões em indenizações.
O coordenador Regional da Comissão de Justiça e Paz, Plácido Júnior, diz que Pernambuco tem resquícios do modelo escravocrata, onde gerentes são chamados de feitores. O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool, Renato Cunha, nega as acusações: – Não aceitamos alcunha nem de longe de trabalho escravo.
Oferecemos transporte de boa qualidade, ferramentas, marmitas térmicas, abrigos adequados, água.
Mas o chefe da Fiscalização Rural da Superintendência Regional do Trabalho, Paulo Mendes, diz que falta tudo nos locais de trabalho: abrigo, banheiro e, sobretudo, água de beber.
Letícia Lins
11/08/2009