Cada vez mais cobrados em fóruns nacionais e internacionais, os produtores de algodão decidiram tomar uma providência concreta para amenizar problemas ambientais e trabalhistas em suas lavouras. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) lançou, na semana passada, um amplo programa de combate ao trabalho forçado ou análogo ao escravo e ao uso indiscriminado de agrotóxicos.
"Temos que adequar nosso processo produtivo às normas mais rigorosas da legislação", prega o presidente da Abrapa, Haroldo Cunha. "O comprador europeu quer saber o que está consumindo, de onde vem esse algodão e como ele é produzido. Está em jogo a sustentabilidade do nosso negócio".
O programa socioambiental (Psoal), anunciado na região oeste da Bahia, na semana passada, também prevê o manejo de resíduos, a prevenção de acidentes, a gestão ambiental adequada e a melhoria no transporte de trabalhadores rurais. "Esse programa também vai evitar problemas em bancos federais, que seguem regras para não emprestar dinheiro em casos de não conformidade com a legislação ambiental", diz o presidente da associação baiana dos produtores (Abapa), João Carlos Jacobsen.
A iniciativa do segmento, um dos mais intensivos em uso de agrotóxicos no setor rural, contará com equipes exclusivas para orientação nas fazendas. Um "check list" com as principais exigências ambientais e trabalhistas da legislação começará a ser feito em etapas. No fim do processo, um "selo de qualidade" atestará o respeito das propriedades às leis nacionais. "Isso vai dar visibilidade ao nosso produto lá fora", prevê Cunha.
A cidade de Formoso do Rio Preto terá uma unidade-piloto da "Better Cotton Iniciative" (BCI), um projeto internacional do segmento para testar o nível de adaptação dos produtores de algodão às crescentes exigências dos consumidores. "Pode parecer oneroso no início, já que é preciso investimento. Mas o programa também vai trazer uma mudança de gestão e de cabeça dos produtores", disse Cunha a uma plateia de 100 produtores da região, em Luís Eduardo Magalhães. O BCI conta com indústrias e ONGs globais como Adidas, Gap, Nike, Marks and Spencer, H&M, Levi Strauss, Lindex, Ikea, Ecom Agroindustrial, IFC, Oxfam e WWF.
A região dos Cerrados da Bahia foi escolhida para ser um "modelo" aos produtores dos demais Estados. Em parte, a escolha da região se deu pelo nível de cobrança feita pelo Ministério Público do Trabalho. Presente ao anúncio do "Psoal", a procuradora regional do Trabalho, Luana Duarte Leal, cobrou a continuidade do programa. "É uma boa iniciativa, muito válida para antecipar problemas. Mas vamos acompanhar as ações para monitorar seus resultados", afirmou ela aos produtores.
Em discurso, o prefeito municipal e produtor Humberto Santa Cruz afirmou que o MP precisava "levar em conta" as condições de cumprimento da legislação trabalhista em razão das diferenças regionais. "É preciso levar em conta que a situação da indústria de São Paulo é bem diferente das condições da agricultura do interior da Bahia", afirmou. Apesar disso, o prefeito disse que "não faz sentido" ter problemas de trabalho escravo em um "setor tão moderno" da produção nacional. (MZ)