A missionária norte-americana naturalizada brasileira, Irmã Dorothy Stang, foi assassinada com três tiros na manhã deste sábado em Anapu, no oeste do Pará, depois de ter denunciado ameaças de morte na semana passada ao ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Membro da Congregação das religiosas de Notre Dame, Dorothy vinha acompanhado a luta dos trabalhadores rurais sobretudo na região da Transamazônica.
A religiosa, que atuava junto à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e era ligada à prelazia de Xingu, foi emboscada por volta das 09:00h quando se dirigia com dois trabalhadores rurais a uma reunião do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, localizado a 40 Km de Anapu. Segundo comunicado da CPT, desde 1997, quando começou um trabalho de apoio aos trabalhadores rurais na criação de projetos de assentamento adequados a conservação da Amazônia, Irmã Dorothy vinha recebendo ameaças de morte de fazendeiros da região.
O principal suspeito de ser o mandante do assassinato, segundo a CPT, seria o fazendeiro Dnair Freijó da Cunha, que chegou em Anapu no final do ano passado se dizendo dono de um lote no PDS Esperança. Cunha teria afirmado ter comprado a área de outro fazendeiro, que, em função de desmatamentos ilegais na área, teria sido multado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em R$ 3 mil.
De acordo com os movimentos sociais da região, o suspeito “já havia queimado casas de trabalhadores e expulsando famílias de suas áreas. Além da grilagem de terras, a violência contra dirigentes sindicais e apoiadores da reforma agrária colaboram para que Xingu saia do anonimato. No ano de 2001, a execução de Ademir Federecci (Dema), coordenador do Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), ‘inaugurou’ a onda de violência em todo o Estado, que vitimou ainda, de forma brutal, o sindicalista Bartolomeu Morais da Silva – no ano de 2003 e outras sete pessoas”.
Em 1999, a missionária começou a organizar o Projeto de Desenvolvimento Sustentável em Anapú, que beneficia hoje 600 famílias. Também foi responsável por várias denuncias contra madeireiros e grileiros. Em uma delas, feita em março de 2004, Dorothy revelou que uma área de 140 mil hectares estava sendo grilada por madeireiros para exploração de mogno, cedro e jatobá. Em função deste trabalho, a missionária e mais oito pessoas estariam recebendo ameaças de morte de um grupo de fazendeiros da região.
Segundo a ONG ambientalista Greenpeace, nos últimos 12 meses o Ministério Público enviou 10 representações sobre as ameaças contra irmã Dorothy e outras lideranças de Anapu para o Secretário Especial de Defesa Social, Manoel Santino Nascimento Junior, pedindo medidas para garantir a integridade física dos ameaçados. “Mesmo sabendo dos riscos que irmã Dorothy corria, o governo do estado do Pará não tomou uma medida para garantir sua segurança”, disse o coordenador da ONG no Amazonas, Paulo Adário. “É inaceitável que os marginais continuem imperando na Amazônia, silenciando a voz daqueles que defendem a preservação e os povos da floresta contra os interesses de grileiros, madeireiros e fazendeiros que operam ilegalmente na região”.
Na quarta-feira da semana passada (09), Dorothy apresentou ao ministro Nilmário Miranda, ao ouvidor Agrário Geral, Gercino Filho, e a autoridades do governo do Estado do Pará as denúncias de ameaça de morte que estava sofrendo em Audiência Pública em Belém do Pará. Depois da notícia de seu assassinato, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou que a Polícia Federal participará das investigações sobre o caso. O ministro Nilmário foi à região ainda neste sábado.
Reconhecimento
A atuação de Irmã Dorothy junto aos trabalhadores rurais e aos movimentos sociais e ambientalistas do Pará teve grande impacto na região. No ano passado, ela recebeu da Assembléia Legislativa do estado o título de Cidadã do Pará e o prêmio “José Carlos Castro” da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), além de Ter seu trabalho reconhecido no Senado Federal. Mas também foi acusada de formação de quadrilha em um processo em que quatro agricultores foram presos arbitrariamente, acusados sem provas do assassinato de um funcionário de uma fazenda em Anapu.
Neste sábado, organizações como a CPT nacional, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e o Greenpeace divulgaram notas de repúdio à atuação dos fazendeiros e madeireiros na Amazônia e ao Poder Público, que vem permitindo o acirramento da violência na região.
Da Agência Carta Maior, com informações da CPT e do Greenpeace