Garimpo é interditado após fiscalização

 04/08/2011

Submetidos a condições degradantes, operários de um garimpo de Rondônia foram resgatados por fiscais do Ministério do Trabalho (MT) durante uma operação deflagrada para conter o trabalho escravo, na manhã de ontem. Um adolescente de 17 anos estava entre os trabalhadores que não possuem alojamentos, improvisam a alimentação e não têm nem mesmo banheiro para as necessidades fisiológicas. A área fiscalizada fica a 140 km de Porto Velho e é conhecida como garimpo da Lagoa Azul. No local são extraídas toneladas de cassiterita e columbita, minérios utilizados na indústria metalúrgica. A operação foi deflagrada após denúncias de que os operários trabalhavam de forma irregular.

A atividade, no local, é coordenada por uma cooperativa, a Coopermetal. Acompanhados por policiais do Núcleo de Operações Especiais (NOE), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os fiscais do MT comprovaram que as condições de sobrevivência dos trabalhadores é precária. Entre as irregularidades, os operários não utilizam os equipamentos de segurança e os alojamentos são improvisados em barracos cobertos com palha e lona.

"Muitos dormem no chão e o mesmo local que utilizam para dormir também serve para o preparo de alimentos. Dentro dos barracos encontramos botijas de gás e verificamos que a água que é utilizada para o consumo é mesma utilizada lá no garimpo, podendo estar contaminada", afirma o auditor do MT, Evandro Mesquita.

De acordo com o coordenador da operação, as empresas são obrigadas a oferecer as condições mínimas de acomodação e de segurança aos operários. Ele também explica que submeter os trabalhadores a condições degradantes é um dos elementos que configura o trabalho escravo. "A situação que acabamos de ver é extremamente degradante, pois os trabalhadores estão tendo os seus direitos negados", lembra.

INTERDITADO
Por causa das irregularidades, o garimpo foi interditado e a Coopermetal intimada a prestar esclarecimentos ao Ministério do Trabalho. Os responsáveis pela Cooperativa não quiseram se pronunciar sobre a fiscalização, mas ressaltaram que vão corrigir todas as falhas apontadas pelo Ministério do Trabalho, para que a exploração mineral continue na região.

Uma das dificuldades, apontadas pelo Ministério do Trabalho para frear o crescimento do trabalho escravo em Rondônia é a omissão dos próprios trabalhadores, que desconhecem os seus direitos e são enganados por empresários e fazendeiros. O Diário acompanhou a operação realizada pelo MT, com o apoio da PRF, e ouviu os trabalhadores.

Muitos nem reclamavam da falta de condições básicas de sobrevivência, alegando o recebimento do salário no final do mês. É o caso de Paulo Ramos, que opera um equipamento utilizado para sugar a terra dos barrancos. Ele contou que sempre trabalhou em garimpos e que já está acostumado a superar os percalços do dia a dia. "Essa é a vida de quem trabalha no garimpo, a gente não pode reclamar muito não", argumenta.

Além do esforço, Paulo também corre o risco de contaminação por metais pesados, pois não usa os equipamentos de segurança necessários na profissão. Perguntado se não tem medo de contrair uma doença ele afirma que isso nunca aconteceu com ninguém que ele conheça. "Já me falaram que isso pode ser perigoso, mas acho que não vai acontecer nada não".

"Muitos trabalhadores desconhecem os seus próprios direitos e acabam vivendo nesta situação degradante e ainda acham que estão sendo beneficiados pelos seus patrões", explica o inspetor da PRF, Cleverson Calzado.

Mas nem todos estão satisfeitos com as condições impostas pelo trabalho no garimpo. Aos 64 anos, Vicente Pereira dos Santos mostra que para se abrigar da chuva e do sereno teve que construir o próprio barraco, improvisado com lonas e palhas. Ele revela o seu descontentamento em trabalhar no local. "As pessoas que não se iludam, porque aqui ninguém vem para ficar rico, o dinheiro é muito pouco, mal dá para sobreviver, a gente trabalha porque precisa", revela.

Confira também: MP continua fiscalização

E reportagem de TV com imagens do local

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