Berta não consegue esconder seu orgulho ao ver que a Kantuta cresceu tanto. Seu espetinho de anticucho foi pioneiro nessa empreitada. Ela começou sozinha com sua churrasqueira – que ainda é a mesma-, nos anos 1990, vendendo a iguaria na praça Padre Bento, no mesmo bairro do Pari. "Nem sei quando cheguei aqui. Faz tanto tempo!", exclama, pondo a mão na cabeça como quem tenta lembrar. Ela fala em espanhol, sua língua-mãe, para me contar do passado.
Veio de La Paz com 35 anos, para cuidar da neta, pois a filha trabalhava numa confecção. "Era uma época triste. Eu ficava o dia todo em casa e, quando saía, não tinha nenhuma amiga, ninguém falava a minha língua." Ao fazer compras, Berta passava maus bocados tentando explicar o que queria levar. "Eu saía da loja, olhava para ver se passava algum boliviano que pudesse me ajudar, mas nunca tinha ninguém. Comprava as coisas sempre por gestos e era o próprio vendedor que descontava o dinheiro", diz.
Um dia, a filha de Berta levou-a para uma praça no Pari, ponto de encontro entre latino-americanos. "Achei uma senhora de Copacabana [cidade à beira do Lago Titicaca] que também vivia muito sozinha e logo ficamos grandes amigas. Aí eu não queria mais voltar para a Bolívia", sorri. Veio então a idéia de vender o típico churrasquinho boliviano. "No começo, não tinha cadeiras, nem nada. Mas sempre tinha gente e, aos poucos, foram chegando mais feirantes."
Voltar para a matéria Kantuta é um pedaço de Bolívia na capital paulista