O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por intermédio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), tem apoiado a criação de associações e cooperativas de trabalho e renda para evitar o retorno de trabalhadores resgatados pelo Grupo Móvel à condição degradante de escravos.
No Maranhão, um dos estados que mais exporta mão-de-obra escrava, o MTE está criando, junto com a Central de Cooperativas Agroextrativistas do Maranhão (Ceceama), uma cooperativa de beneficiamento de castanha, que atenderá a 1.400 famílias dos municípios de Imperatriz, João Lisboa, Montes Altos, Amarante, São Raimundo de Mangabeiras e Loreto e, indiretamente, Açailândia, Balsas e Riachão.
Trilhas da liberdade – A Senaes encampou ainda o projeto Trilhas da Liberdade – auxiliando na concepção da cooperativa -, desenvolvido pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH), de Açailândia, no Maranhão, com apoio de uma organização não-governamental americana, para prevenir o trabalho escravo e dar apoio às vítimas.
E o projeto Trilhas da Liberdade é o futuro para Antônio Gomes dos Santos, de 74 anos. O semblante cansado do ex-trabalhador escravo guarda a lembrança de dias duros de trabalho em um alojamento precário na beira de um rio, com doenças, febre, fome, maus tratos e sem salário. Por mais de um mês ele se submeteu a condições subumanas de trabalho na esperança de voltar para casa e poder oferecer melhores condições de vida para a esposa e seus dois filhos.
“Quando lembro do passado dói no coração, tenho as piores lembranças. Não quero mais trabalhar para ninguém. Minha vida hoje melhorou 50% e a minha fé está na cooperativa”, diz Antônio, se referindo à cooperativa que está sendo montada pelo CDVDH de Açailândia.
José Alves de Sousa, 28 anos, passou quatro meses em situação semelhante à de Antônio. Cercado por capangas, ele era impedido de deixar para trás a dívida que tinha na venda da fazenda, o barraco de lona preta, o frio que passava, a pobre refeição com arroz e feijão, enfim, o pesadelo, como ele mesmo descreve.
Aos 16 anos, José foi aliciado por “gatos” e transportado na caçamba de um caminhão velho até a fazenda onde trabalharia como escravo contemporâneo. “Na hora de oferecer o trabalho, ele dizia que seria bom e o salário pago por quinzena. Quando colocamos os pés na terra, tudo mudou. Me acidentei com uma foice e não tive nenhum socorro”, lembra com tristeza o trabalhador, que trabalhará na cooperativa da CDVDH de Açailândia..
Planos para o futuro – José Orlando Batista de Jesus, 21 anos, hoje conta a história de emprego de sucesso com possibilidades de fazer planos futuros. Há um ano, quando foi liberto do trabalho escravo, em uma fazenda na região de Imperatriz, o relato seria diferente.
O alívio do trabalhador começou quando recebeu sua primeira parcela do seguro-desemprego. “Com o dinheiro, pude ajudar em casa, já que moro com meus pais. Foi um dinheiro que ajudou até a arranjar meu emprego”, conta. “Foi até pelo cadastro do seguro-desemprego que o Instituto Carvão Cidadão (ICC) indicou meu trabalho para a empresa”, diz José, se referindo à Terra Norte, empresa parceira do trabalho realizado pelo ICC.
“No começo, não acreditava que o trabalho seria bom. Um serviço bater na porta da gente, não dá para acreditar, né? Mas foi verdade e hoje sei que todo mês vou receber aquele dinheirinho certo”, relata o trabalhador, que agora tem carteira de trabalho assinada e alojamento digno na sede da empresa.
Antônio Marcos Soares da Silva, 28 anos, também foi pego pela mesma surpresa e hoje vive a mesma felicidade. “Quando fui trabalhar como escravo, o ‘gato’ chegou com uma conversa bonita e tudo foi bem diferente. Quando recebi a proposta do meu atual trabalho, cheguei a achar que era ‘treta’ e fiquei com medo, mas não poderia deixar passar a chance de mudar de vida”, lembra Antônio.
Sua realização se completa com a alfabetização, que é oferecida pela empresa, durante uma hora, no próprio local de trabalho. “Já sei ler melhor e isso ajuda para desenvolver minhas funções”, comemora.
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