Foi demitido nesta terça-feira (21) Cícero Belmar o editor-executivo do Jornal do Commercio (JC), de Pernambuco, por ter autorizado a publicação de matéria sobre a libertação de 1.200 trabalhadores pelo governo federal na Destilaria Gameleira (leia matéria “1.200 escravos são libertados em usina no Mato Grosso”). O JC – cujo proprietário, João Carlos Paes Mendonça, é amigo pessoal de Eduardo de Queiroz Monteiro, da Gameleira e da Folha de Pernambuco – foi o único dos jornais do estado a veicular a libertação dos trabalhadores, o que teria “estremecido” a relação de ambos os donos de mídia. A notícia, contrária aos interesses de Monteiro, foi considerada como uma campanha para denegrir as suas empresas e seu jornal. De acordo com Belmar, a forma encontrada para reatar a relação de amizade dos dois foi demitindo-o.
O ex-editor-executivo autorizou a publicação de matéria da Agência Globo, da qual o JC é assinante de conteúdo, na sexta-feira passada (17). Solicitou que a versão de Eduardo de Queiroz Monteiro fosse checada. Porém, apesar das várias tentativas, não houve retorno. O JC não foi o único que ficou esperando uma resposta – o que aconteceu também com outros veículos de circulação nacional que deram destaque à notícia, como a revista Época e o jornal O Globo. “Agimos com toda a ética, como manda o mais simples manual de jornalismo”, afirma Belmar.
A repercussão negativa veio logo em seguida. O proprietário da Gameleira estampou um editorial (“Destilaria Gameleira – a anatomia de uma injustiça”), ocupando boa parte da capa da Folha de Pernambuco no dia 20. No texto, defende a usina de álcool e os empregos por ela gerados, nega que tenha utilizado trabalho escravo e critica o Ministério do Trabalho e Emprego, que não cassaria empregos ao invés de criá-los. Reclama que a empresa não foi ouvida e chama os veículos que deram noticiaram a libertação de “mau jornalismo”. A demissão veio no dia seguinte.
Belmar, que também é escritor, tem recebido manifestações de apoio da sociedade civil e de entidades da defesa da liberdade de imprensa. “Eu poderia ter ficado extremamente angustiado se tivesse saído por uma picaretagem ou por incompetência. Fiquei no Jornal do Commercio por mais de 12 anos, ocupando o cargo de editor-executivo por cerca de 10 anos. Minha consciência está tranqüila. Fiz o que qualquer jornalista faria”, completa.