Repórter Brasil, 5 anos

 24/10/2006

A Repórter Brasil completa cinco anos. Nesse curto período de tempo, ela ajudou a redefinir a forma como muitos brasileiros enxergam o seu país, além de contribuir para enfraquecer um Brasil arcaico que cisma em manter milhares de pessoas à margem da cidadania.

Trouxemos aos nossos leitores realidades, muitas vezes duras, de comunidades e populações que vêem seus direitos fundamentais ameaçados em todos os estados da federação – dos tepuis de Roraima aos pampas gaúchos, do litoral paraibano aos seringais do Acre. Mostramos culturas e modos de vida, biomas e ecossistemas, que estão em risco de extinção ou de violenta e involuntária transformação devido à força de um progresso burro e autodestrutivo. Foram dezenas de grandes reportagens e centenas de notícias que pautaram mídia, sociedade civil e governo.

Mas diante de uma situação como essa, quebrar o silêncio das palavras não basta, pois o silêncio das ações também é um ato de conivência. A imparcialidade, no Brasil, funciona como um grande instrumento de manutenção do status quo e, portanto, da desigualdade.

Com isso, a Repórter Brasil criou duas linhas de ação direta. O de Educação e Comunicação tem por objetivo auxiliar a constituição de mídias que traduzam o potencial comunicador de uma comunidade. Além de empunhar a bandeira pela democratização dos meios de comunicação, também visa estimular uma análise crítica da produção midiática brasileira, que sempre alijou da cena pública os cidadãos de baixa renda.O projeto vem capacitando jovens lideranças desde 2001 e hoje tem concentrado seu trabalho na região Nordeste.

O núcleo de erradicação ao trabalho escravo desenvolve projetos em três áreas. Na comunicação, a Agência de Notícias sobre Trabalho Escravo pauta a mídia e difunde para a sociedade informações sobre o tema todos os dias. É o primeiro veículo de comunicação especializado na questão.

Na área de pesquisa, são desenvolvidos estudos que contribuem para a ampliação do entendimento sobre a escravidão contemporânea e para a criação de políticas de combate a essa prática. Um exemplo é o estudo sobre a cadeia produtiva do trabalho escravo no Brasil, que apontou as mercadorias produzidas com mão-de-obra escrava e são vendidas tanto dentro quanto fora do país e as 200 empresas que fazem parte dessa teia de comercialização. O estudo foi a base para um grande pacto da iniciativa privada contra a escravidão. Hoje, muitas empresas se negam a comprar produtos feitos com o sofrimento de trabalhadores.

Por fim, na área de educação, está o projeto "Escravo, nem Pensar!". Seu objetivo é diminuir, através da educação, o número de adolescentes de cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aliciados para o trabalho escravo. Professores e líderes comunitários são capacitados para informar suas comunidades sobre seus direitos e como fazer para não cair na teia da escravidão. Ao todo, 15 municípios e mais de mil pessoas foram capacitados nos últimos três anos. Mais de vinte organizações nacionais e internacionais são parcerias neste projeto.

Após percorrer dezenas de milhares de quilômetros, temos a certeza de que a Repórter Brasil está apenas engatinhando. Hoje, o papel desempenhado pela entidade cresce mais rápido do que poderíamos prever cinco anos atrás, porém mais lento do que gostaríamos. Pois falta muito a fazer.

Afinal de contas, a mudança na condição de um povo, para ser duradoura, deverá ser feita por ele mesmo. Disso depende a conscientização da importância de seu papel e de sua força. Um processo também muito lento, mas inevitável.

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