Fiscais do Trabalho são recebidos a tiros do Mato Grosso

Atentado ocorreu nesta quarta (8) em uma fazenda do município de Nova Lacerda (MT). Grupo móvel de fiscalização, com cinco auditores, um procurador do Ministério Público do Trabalho e um motorista, além de agentes federais, foi recebido a tiros quando verificava uma denúncia. Dois fazendeiros foram presos
Por Leonardo Sakamoto
 08/02/2006

Um grupo móvel de fiscalização envolvido no combate ao trabalho escravo e irregularidades trabalhistas foi alvo de um ataque a tiros na manhã desta quarta-feira (08), em uma fazenda do município de Nova Lacerda, Estado do Mato Grosso. Os seis policiais federais que garantiam a segurança do grupo responderam ao fogo. A troca de tiros foi intensa e durou cerca de três minutos, mas ninguém se feriu. Do outro lado, não estavam capangas da fazenda, mas sim policiais militares da região.

O grupo móvel foi às fazendas Sankara e Anhangüera, pela manhã, para atender a uma denúncia. Ao chegar no local, prendeu o capataz da propriedade por porte ilegal de arma. Os donos da terra, Amauri Heitor de Mendonça e Onuar Heitor de Mendonça, após serem informados da ocorrência, teriam, segundo os policiais militares, se dirigido até o posto da PM e dito que sua fazenda estaria sendo alvo de um assalto com um refém.

Já era tarde e o grupo móvel de fiscalização estava na propriedade – de criação de gado – quando chegou o carro dos fazendeiros com os policiais militares. No local, à vista de todos, automóveis de cor branca, oficiais do governo, e policiais federais trajando coletes da instituição. “Nesse momento, os agentes da Polícia Federal se identificaram. Mas o outro lado começou a atirar”, afirma Wallace Faria Pacheco, auditor fiscal do Trabalho e coordenador do grupo móvel.

“O tiroteio durou uns três minutos, mas foi intenso. Atiraram para matar”, lembra o auditor fiscal do Trabalho Benedito de Lima e Silva. Havia 13 pessoas no grupo móvel – cinco auditores, um procurador do Ministério Público do Trabalho e um motorista, além dos agentes federais. Todos se abrigaram. Foi feita uma comunicação via rádio durante o tiroteio para tentar interrompê-lo. Segundo os fiscais, o fazendeiro, do outro lado do fogo cruzado, teria dito por rádio: “quem está falando é quem pode”. E completou: “se é guerra que a polícia federal quer, é guerra que ela vai ter”. Um dos fazendeiros participou do tiroteio com uma pistola particular.

A troca de tiros só foi suspensa porque um dos policiais federais, desarmado, levou o capataz da fazenda até onde estavam os policiais militares. Nesse momento, a situação foi normalizada e os policiais militares contaram a história de que haviam sido alertados de um suposto assalto pelos fazendeiros.

Os irmãos Mendonça foram presos e devem responder por comunicação falsa de crime e tentativa de homicídio. Neste momento, eles estão sendo levados para a Delegacia da Polícia Federal em Cáceres (MT), próximo da fronteira com a Bolívia, onde devem ficar presos.

A história é preocupante, principalmente porque não é a primeira vez que o grupo móvel de fiscalização vira alvo de fazendeiros. Em 28 de janeiro de 2004, três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego foram assassinados na região próxima à cidade de Unaí, em Minas Gerais. O crime, que chocou o país, ainda aguarda uma solução, pois nenhum dos acusados foram julgados. Os supostos mandantes do crime são Antério e Norberto Mânica, que estão entre os maiores produtores de feijão do país.

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM