Maranhão: Aldeias buscam soluções para sair da miséria

Índios querem apoio para produzir e evitar invasões
Cleide Carvalho
 06/04/2013

Índios querem apoio para produzir e evitar invasões

Amarante do Maranhão (MA) — As terras indígenas Arariboia e Governador são praticamente coladas. Separados por um minúsculo povoado, índios gaviões e guajajaras ocupam uma área de 4.552 km quadrados, a maior em extensão e em população indígena do Maranhão. A posse das terras, no entanto, não garante a tranquilidade nas aldeias. A área é permanentemente invadida por madeireiros, que entregam as árvores a serrarias, ou para serem queimadas em fornos de carvão ou de indústrias de municípios vizinhos.

Produtores rurais usam partes das reservas como pasto de gado. O jaborandi e a copaíba, matéria-prima da indústria de cosméticos e farmacêutica, também estão na mira de exploradores.

Cansados de ver suas reservas invadidas, os índios reivindicam autonomia para fiscalizá-las e querem torná-las produtivas para garantir o sustento e gerar renda complementar, afastando das reservas o risco de subnutrição e miséria.

Projetos de sustentabilidade
Desde janeiro, quando apreenderam quatro caminhões com toras de madeira e passaram a ser ameaçados, os índios gavião, da terra indígena Governador, formaram um grupo de vigilância. Agora, estão instalando cercas e portões nos principais acessos e reivindicam guaritas para se revezar na vigília com mais segurança.

— A gente tem que aperfeiçoar as técnicas do passado para o mundo atual. Temos que monitorar nossas áreas e implantar projetos de sustentabilidade — diz o cacique Evandro Luiz Bandeira.

Aos 24 anos, Evandro é o mais jovem cacique de aldeia da terra indígena Governador. Faz parte de uma nova geração de líderes inconformados com a situação atual. Estão dispostos a preservar a floresta, mas querem também lutar para eliminar a pobreza nas aldeias.

A situação beira o insustentável. O Rio Pindaré, que atravessa a região, está assoreado, devido ao desmatamento das margens. A caça é cada vez mais rara. Animais de maior porte, como veado e onça, sumiram. Restam os pequenos, como cutias e jabutis, insuficientes para alimentar as famílias. As constantes queimadas, muitas causadas por invasores, fizeram com que os índios perdessem seus roçados. Há pelo menos um ano não há plantações. Nem a produção de mandioca resistiu.

— A gente compra farinha na cidade. Paga R$ 8 a R$ 10 por dois quilos — conta a professora Anacleide Pereira, que mora e leciona na aldeia Juçaral, na terra indígena Arariboia.

Os recursos para comprar alimentos, roupas e material escolar são parcos. Mais da metade das famílias não tem renda. O dinheiro que circula é de aposentadorias por idade pagas a idosos ou do Bolsa Família. Alguns recebem como professores ou agentes de saúde. Entre os que têm renda, a maioria não ganha mais do que um salário mínimo. Muitos adolescentes desejam cursar uma faculdade quando terminarem o ensino médio. Porém, mesmo ganhando bolsa de estudos, não conseguem se sustentar fora das aldeias, sem condições de pagar aluguel e alimentação.

— Não adianta ter a terra, tem que produzir nela. O governo tenta enganar. Dá cesta básica, que não tem futuro nenhum. Mas não ajuda a fazer as roças para sustentar nossos filhos — afirma Frederico Guajajara, de 32 anos.

Nas aldeias, o que está em jogo não é o dia de hoje. É o amanhã. Dos cerca de 8 mil índios que vivem nas duas terras indígenas, 5.098 têm até 14 anos. Quase 1.600, menos de 5.

Escolas fechadas nas aldeias
O cacique da aldeia Juçaral, Zezé dos Santos Zapu-y Guajajara, de 66 anos, se lembra dos tempos em que a mata era “escura e boa” e se preocupa com o que restará dela para jovens e crianças indígenas.

— Não é para mim, que vou morrer logo. É para essas crianças que estão aí. O que vai ser delas? — pergunta Zezé, apontando para a rede onde está Ângela, de 3 meses, com o corpinho todo pintado com jenipapo, que, segundo os índios, fortalece os bebês. Só na aldeia Juçaral são 58 crianças com idade de até 4 anos.

As aulas ainda não começaram nas escolas indígenas. Na Juçaral, a escola de ensino fundamental e médio, que atende índios de outras 15 aldeias, está fechada e tomada pelo mato, mesma situação encontrada na terra indígena Governador.

Frederico Guajajara diz que os índios não querem tutela da Funai, mas apoio do órgão para que possam defender seus interesses nas negociações. Uma das propostas dos líderes das duas terras indígenas é implantar lavoura mecanizada, para aumentar a produtividade, e criar meios de escoar parte da produção, permitindo obter alguma renda com o trabalho.

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/maranhao-aldeias-buscam-solucoes-para-sair-da-miseria-8047567

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