Na telona

Cinesesc exibe documentário sobre trabalho escravo

"Correntes" traz de perto a realidade dos trabalhadores submetidos à escravidão contemporânea e revela como funciona a linha de frente do combate a esse crime no país. Mundo Livre SA assina a trilha sonora exclusiva
Da Repórter Brasil
 20/09/2006

O documentário "Correntes", produzido e dirigido por Caio Cavechini e Ivan Paganotti, terá exibição especial gratuita no Cinesesc no dia 25 de setembro, às 21h30. A apresentação, que conta com apoio do SESC São Paulo e da revista Problemas Brasileiros, faz parte das comemorações dos cinco anos da ONG Repórter Brasil.

Ao longo de 2005, os diretores percorreram cinco estados localizados na fronteira agrícola amazônica, levando o telespectador para perto do ciclo a que está submetido o trabalhador rural que migra em busca de serviço e acaba se tornando escravo.

"O que o documentário traz como novidade é seguir o escravo desde sua origem, no aliciamento. O trabalhador que volta para casa continua vulnerável a propostas enganosas de emprego", conta Cavechini. O "gato", os hotéis "peoneiros", as condições degradantes, o cerceamento da liberdade, a libertação e a volta para casa são narradas com depoimentos e imagens de personagens. Histórias que raramente têm a oportunidade de aparecer no cinema, na tela da TV ou entre as discussões da opinião pública.

"Correntes" não se refere apenas às correntes utilizadas na antiga escravidão, mas à corrente de acontecimentos que se repetem na vida das pessoas simples do campo e que formam a espinha dorsal da narrativa do documentário. Como terceiro sentido, o nome também lembra a "corrente do bem" criada para lutar contra o problema, cujos elos são retratados no filme como as ONGs, líderes comunitários e os grupos móveis de fiscalização.

Nos dias 27 e 28 de setembro e 1o de outubro, será a vez da TV Sesc exibir o filme da ONG Repórter Brasil.

Cinesesc: rua Augusta, 2075, Cerqueira César – São Paulo (SP)

Ficha Técnica
Duração: 58 minutos
Direção: Caio Cavechini e Ivan Paganotti
Roteiro: Caio Cavechini, Evelyn Kuriki e Ivan Paganotti
Trilha sonora: Mundo Livre SA
Produção: ONG Repórter Brasil (www.reporterbrasil.org.br)

Apoio: Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, SESC São Paulo e Revista Problemas Brasileiros. Parcerias: Delegacia Regional do Trabalho – MT, Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo de Mato Grosso, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia e Comissão Pastoral da Terra.

 

 

Sinopse do documentário "Correntes"
As antigas correntes de ferro não mais aprisionam os braços e pernas dos escravos. Elas foram substituídas pelas correntes simbólicas da dívida e da violência, que agora aprisionam os trabalhadores e impedem que fujam das fazendas. Existe também uma corrente de eventos ligando os fatores que levam à escravidão: a pobreza, a migração, o aliciamento e as condições indignas de trabalho. Mas há ainda uma contra-corrente, que combate essa prática criminosa. Ela representa a articulação dos novos abolicionistas lutando contra o trabalho escravo.

O documentário "Correntes" foca as experiências dos que combatem a escravidão nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Ele apresenta as experiências e o cotidiano dos representantes da sociedade civil, de instituições e de entidades governamentais – desde auditores fiscais do Ministério do Trabalho até ativistas dos direitos humanos – enquanto tenta refletir sobre as vitórias e desafios do combate à escravidão.

Os novos abolicionistas são os personagens que apresentam e explicam as situações de exploração da mão-de-obra e de trabalho escravo que ocorrem no Brasil – e mostram como combatê-las. Cada capítulo do documentário trata de uma etapa da cadeia de eventos que leva à escravidão pela visão de um desses personagens. São eles que dialogam com os trabalhadores libertos, que articulam as estratégias de combate à escravidão, que sofrem os riscos e as ameaças e comemoram as pequenas vitórias cotidianas.

Virna e Calixto, auditores fiscais do Ministério do Trabalho, inspecionam fazendas escravocratas no Pará e Maranhão, onde negociam o pagamento de direitos trabalhistas negligenciados pelo fazendeiro e entrevistam trabalhadores submetidos a condições desumanas de moradia, alimentação e trabalho – proibidos de sair sob ameaças até que saldem suas dívidas ilegalmente contraídas.

Carmen e Ivanete, ativistas de um centro de defesa dos direitos humanos no Maranhão, abrigam trabalhadores que conseguiram fugir de fazendas e denunciam a escravidão nas fazendas da região.

Frei Xavier, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Tocantins, tenta alertar donos de "pensões peoneiras" – onde os trabalhadores que aguardam oportunidades de emprego são ilegalmente aliciados – sobre os perigos da armadilha da dívida.

O fiscal Valdinei debate com trabalhadores que migraram para o Mato Grosso, alertando para a cilada dos gatos (empreiteiros contratados pelos fazendeiros para aliciar mão-de-obra escrava) enquanto se comove com as trajetórias de vida desses retirantes.

Domigas, uma líder comunitária que lida com a pobreza cotidiana em uma das regiões de origem dos trabalhadores escravizados, reúne-se com outras mulheres que aguardam o incerto retorno do marido das fazendas na fronteira agrícola, na tentativa de encontrar soluções economicamente sustentáveis para interromper a migração.

Dom Casaldáliga relembra o início da "contra-corrente" que resultou de suas pioneiras denúncias contra a escravidão durante a ditadura militar dos anos 70. Hoje, outros grupos floresceram ao seu redor, lidando com novos desafios enquanto dão continuidade a luta contra o trabalho escravo.

Por último – um feito inédito – o documentário segue os passos de um trabalhador liberto de uma fazenda pela fiscalização federal. Antônio viaja de volta para sua cidade-natal depois de cinco anos rodando o Brasil em busca de emprego, e reencontra sua família emocionada pela surpresa. Entretanto, a felicidade da reunião é logo seguida pela frustrante falta de perspectivas enquanto ele planeja seu futuro no meio da paisagem devastada pela miséria – num retrato dos desafios que ainda restam para o combate ao trabalho escravo.

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